Casa de Acolhimento apoia cidadão do interior

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011


Nem todas as cidades do interior de Sergipe oferecem os serviços de saúde necessários para sua população. Como resultado, muitos precisam se deslocar à capital, Aracaju, em busca de atendimento. Além do custo da viagem, por vezes os acompanhantes dos pacientes precisam encontrar lugar para se hospedar. Para viabilizar todo esse processo, algumas cidades do interior estabelecem casas de acolhimento na capital: seja oficialmente com dinheiro público, seja filantropicamente por meio de doações.

A Casa de Acolhimento do Cidadão Poço Redondense se localiza na Avenida Desembargador Maynard, bairro Cirurgia, na capital sergipana. Destinada às pessoas da cidade de Poço Redondo, que fica a 168 km de Aracaju, o local recebe especialmente acompanhantes de pacientes em tratamento médico. A casa foi inaugurada em maio de 2010, e é mantida pela Igreja Assembléia de Deus de Poço Redondo.

Todos os custos da casa são pagos por meio de doações da população e dos principais governantes da cidade. O Pastor Clésio Viera, responsável pela casa, conta que a ideia da criação veio com a eleição do atual prefeito de Poço Redondo, Enoque de Melo. Segundo o acordo firmado, o prefeito doaria 10% de seu salário – hoje, prefere doar 20% – ; o vice doa 7% do seu pagamento, os secretários dão 5%, e os diretores de instituições públicas dão 3%. O município fornece também o transporte para Aracaju.   
"Um trabalho como esse é bom se mantido pela prefeitura.
E é ótimo se mantido pela população",
afirma o Pastor Clésio.

O pastor conta que a população ajuda mesmo que não seja em dinheiro: “nas feiras e nos comércios as pessoas doam alimentos e produtos de limpeza, que já são de grande ajuda”. Na casa do Cidadão Poço Redondense são servidas entre 400 e 500 refeições todos os meses, e mesmo pessoas naturais de outros municípios são acolhidas se forem até lá e mostrarem necessidade. Cícera de Oliveira, de 37 anos, é a responsável por cozinhar e fazer a limpeza da casa. Segundo ela, o trabalho é tão “pesado” quanto seria em outro lugar com as mesmas funções. Ela conta ainda que, muitas vezes, se envolve emocionalmente com casos de saúde mais delicados que passam pela casa.


A saúde pública

Claudiane Aragão, de 33 anos, é técnica de enfermagem, e contratada pela prefeitura de Poço Redondo para acompanhar os pacientes que precisam de maiores cuidados. Ela também é voluntária da Pastoral da Criança, e conta que em seu trabalho pela prefeitura é comum fazer hora extra sem receber nada, mas intencionalmente: “esse trabalho voluntário faz parte da minha vida”. O paciente que vem sendo acompanhado por ela há mais tempo é o agricultor Domingos Henrique da Silva, de 34 anos.

Ele tinha um tumor no rosto, que se revelou maligno e muito agressivo, comprometendo o olho esquerdo e quase todo o nariz. A cirurgia de retirada custaria mais de R$ 20 mil, e foi necessário buscá-la no Sistema Único de Saúde (SUS). Mas os médicos estavam com as agendas cheias. Por conta da demora, boa parte do rosto de Domingos precisaria ser retirada.

Cidadãos de Poço Redondo encontram apoio na Casa de
Acolhimento
Claudiane pediu ajuda a vários secretários, mas não conseguiu solução. Apelou diretamente ao governador Marcelo Déda, que a enviou para o secretário de saúde Antônio Carlos Guimarães. Somente com a ligação do secretário ao Hospital de Urgência de Sergipe (HUSE), a cirurgia foi conseguida. Domingos perdeu o nariz, o olho esquerdo e quase todo esse lado de seu rosto. Ele já se encontra na casa de acolhimento de Poço Redondo há mais de três meses, pois ainda passa por cirurgias de enxerto de pele e reconstituição.

“Seria mais complicado sem a casa”, disse Domingos, ainda com dificuldade em falar. Apesar de toda essa trajetória, ele afirma que a saúde pública de sua cidade é boa. Poço Redondo é conhecida como uma das cidades mais pobres de Sergipe. Até outubro de 2011, a cidade, com quase 30 mil habitantes, recebeu do Governo Federal mais de 1,5 milhões de reais para saúde, e mais de 5,5 milhões apenas para o programa Bolsa Família.

“Se a população interagir com o Estado promove melhor qualidade. O Estado faz sua parte, mas a população deve intervir também. Nada de ficar de braços cruzados!” diz o pastor Clésio, que faz questão de afirmar que não tem nenhum interesse político pessoal. Segundo ele, quando as pessoas doam se sentem mais responsáveis e zelosas. Mas ele lembra que o dinheiro do governo é fruto de impostos, e as pessoas deveriam se sentir igualmente responsáveis e com direito de falar e fazer exigências.

Outra casa

No outro lado da mesma Avenida Desembargador Maynard fica a Casa do Cidadão Canindeense. Criada em abril de 2006, ela é mantida pela Prefeitura Municipal de Canindé de São Francisco, cidade localizada no extremo oeste de Sergipe, na divisa com Bahia e Alagoas. Os custos da casa são financiados com dinheiro público.

Ana Andrade, responsável pela casa, é irmã do secretário de saúde de Canindé de São Francisco, Murilo Porto de Andrade. Não foi permitido à reportagem ter acesso aos diretores e as informações administrativas da Casa do Cidadão Canindeense. A assistente social Aline, que não quis identificar seu nome por completo, impediu que a reportagem falasse com os cidadãos hospedados na casa. Segundo ela, mesmo a opinião deles não poderia ser dada sem a autorização da Secretaria de Saúde de Canindé de São Francisco. 

Por: Edson Costa
Edição: Nayara Arêdes

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