Depressão, você também pode ter

quarta-feira, 22 de junho de 2011

“Meu caráter depressivo vem do ‘meu mil avô’... Meu pai tinha crises depressivas constantes. Se isolava do convívio e ficava na ’dele’, no quartinho ouvindo rádio e fazendo palavras cruzadas. Disseram-me que esta doença é causada por uma série de fatores e que não há uma causa específica. Soube disso quando tive minha primeira crise, logo após o término do meu casamento e de ter perdido meu bom emprego numa grande empresa... foi aí que comecei a tomar antidepressivos. Fui empurrando com a barriga e dois anos depois, num dia lá, surtei total [sic]”, este pequeno relato verídico, da escritora mineira Márcia Vilella, 60, que sofre de depressão, retrata um pouco do que passa os 17 milhões de brasileiros que sofrem, em algum momento, da doença chamada ‘mal do século’.

De acordo com a publicação do Ministério da Saúde, dirigida aos profissionais da Atenção Básica, o problema é tão grave, que há seis anos foram registrados 8550 de suicídios, o que representa uma morte a cada hora, todos os dias. As mortes correspondem a 0,8% de todos os óbitos da população brasileira. O manual aponta ainda que o comportamento suicida tem causas complexas, que pode incluir vários transtornos psiquiátricos, como a esquizofrenia, o transtorno bipolar de humor e a depressão, doença esta que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), já é considerada a 2ª doença mais incapacitante da vida.

A Doença

A psicóloga Chrislayne Patricia
A depressão é uma doença caracterizada como um transtorno do humor, onde a pessoa desenvolve uma tristeza profunda, muitas vezes sem saber um motivo aparente, e que pode levar a uma gama muito variada de sintomas psíquicos e físicos, a depender do paciente. A psicóloga Chrislayne Patricia explica que nem todo sentimento de tristeza é considerado depressão, tudo varia conforme a intensidade e duração dos sintomas na pessoa. “Normalmente o paciente apresenta sintomas frequentes de cansaço, afastamento social, pensamentos negativos, ansiedade, perda dos rendimentos, desesperança e tristeza profunda”, explica.

A psicóloga pontua ainda que acompanhado dos sintomas clássicos, o paciente apresenta alterações no sono e no apetite, desinteresse pelas atividades antes exercidas, falta de libido sexual, mudanças comportamentais até chegar aos pensamentos suicidas. “A depressão é multifatorial podendo estar atrelada a fatores sociais, por condições de estresse do dia-a-dia ou mesmo por causas genéticas, como a depressão pós-parto ou às mudanças no corpo dos adolescentes e idosos, entre outros”. Chrislayne aponta ainda que a doença pode afetar qualquer pessoa em qualquer idade, contudo estudos demonstram que mulheres na faixa da idade entre 20 a 50 anos são as que mais apresentam os sintomas, “por isso dela ser uma doença incapacitante, pois afeta o período da vida onde há mais vigor e energia”, conclui.

Níveis da Doença

A depressão como qualquer outra enfermidade também apresenta níveis de alteração, sendo classificada em depressão leve, moderada e grave. A fase leve é aquela que a pessoa começa a se distanciar do seu círculo social, apresenta distúrbios de apetite e de sono, dificuldade para tomar decisões e certa resistência de praticar atividades antes prazerosas. Já no estágio moderado a pessoa já começa a ter crises de choro e descuido com a aparência. Nos casos de depressão grave a prostração, as idéias depreciativas e a vontade de morrer como sendo o único meio para sair da situação são sintomas visíveis.

Segundo o médico Felipe Tavares
se a depressão for negligenciada,
ela pode se tornar muito mais
difícil de ser revertida
O médico psiquiatra, Felipe Tavares, observa que se a depressão for negligenciada, ela pode se tornar muito mais difícil de ser revertida. “Quando a pessoa apresenta o 1º episódio de depressão ela vai ter 50% a mais de chance de apresentar o segundo caso. Caso o quadro apareça três vezes é possível que a pessoa passe o resto da vida com a doença. Aos primeiros indícios é fundamental que os familiares procurem ajuda”, esclarece o médico.

O psiquiatra refuta que a depressão é uma doença crônica e que pode não haver cura, todavia a pessoa pode controlar e levar uma vida normal como qualquer outra. “O tratamento da depressão varia muito, pois a depender do nível ela pode ser solucionada com a ajuda do psicólogo. Nos casos mais graves onde o paciente ofereça riscos para ele e para outros é que ele deve ser internado”. Felipe informa que aliado ao tratamento o paciente também procure fazer atividades físicas, ter uma dieta balanceada, tomar bastante água e não se concentrar em pensamentos negativos, pois isso ajuda na recuperação.

Saúde Pública

CAPS Arthur Bispo do Rosário
(Fonte: Potal Infonet)
A psicóloga e gestora da Rede de Atenção Psicossocial da Secretaria Municipal de Saúde de Aracaju, Simone Barbosa, afirma que o trabalho de prevenção ocorre na detecção dos casos potenciais. "Os profissionais da saúde da família, que são os agentes mais próximos da população, são treinados para identificar os cidadãos que apresentem sinais de depressão. Em casos leves eles são levados para as próprias Unidades de Saúde da Família onde lá receberão ajuda psicológica e de assistência social. Já em casos moderados o paciente é encaminhado para os centros de referência mental.” Simone salienta que Aracaju possui quatro Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) atendendo os casos mais graves. “No CAPS o paciente será atendido por uma equipe de psicólogos, psiquiatras e oficineiros que desenvolverão várias atividades de reabilitação. O tratamento é feito até o momento que o paciente esteja melhor”, finaliza a coordenadora.

Confira os endereços dos CAPS em Aracaju



Já no Hospital de Urgência de Sergipe (HUSE) existe desde outubro do ano passado o Projeto Salva-Vidas: tentativas de suicídio, que tem por objetivo atender os casos mais graves de pacientes com risco suicídio. De acordo com a psicóloga e técnica do programa, Flávia Vanessa, o projeto é uma parceria com as prefeituras, que visa acompanhar os casos mais graves, e delinear os motivos da doença. “Já foram atendidos 104 casos de pacientes que tentaram se matar com chumbinho, queimaduras, enforcamento entre outros motivos. No hospital a pessoa fica por um tempo determinado, e caso precise ficar mais, ela é encaminhada ao Hospital São José ou as clínicas credenciadas do Governo até se sentir melhor”, informa a psicóloga. Para obter mais informações sobre o programa, basta entrar em contato pelo telefone: (079) 3216-2890 ou pelo e-mail: flavia.vanessa@fhs.saude.se.gov.br.

No HUSE existe o Projeto Salva-Vidas: tentativas de suicídio

Superação

Hoje Márcia Vilella, que publica livros tanto no Brasil como no Exterior relatando em suas publicações as experiências com a depressão, comenta que passou por muitas crises e instabilidades emocionais, contudo conseguiu encontrar forças para continuar vivendo e sair do quadro médico. “Passei por crises, por fundos de poços intermináveis, por erros e acertos nas medicações até chegar ao momento de estabilidade com autoestima elevada. Não estou curada ainda, mas estou me reconstruindo graças ao tratamento químico, terapêutico e do apoio social”, comenta a mineira, que encoraja a todos que passam por momentos como esse a procurarem ajuda.

Repórter: Mairon Hothon
Fotos: Mairon Hothon
Editora: Monique Garcez

Um comentário:

Felipe de Medeiros Tavares disse...

Ola Mairon
Os depoimentos da Marcia foram o ápice da sua reportagem.
Pena ter ficado tão reduzida esta matéria.
A considerei incompleta.

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