Usuários do transporte coletivo enfrentam problemas com os micrões

terça-feira, 14 de junho de 2011


A Viação Modelo, uma das empresas que opera no transporte coletivo em Aracaju, renovou parte da sua frota. Algumas linhas tiveram seus veículos substituídos por ônibus novos, que em geral são um pouco mais curtos, mais baixos, com apenas uma porta traseira, espaço reduzido na parte anterior à catraca e a ausência de cobrador. Esses veículos são chamados pelos usuários de micrões, pois possuem características dos micro-ônibus, carros que operam com um número reduzido de passageiros.

Veículos superlotados são rotina em Aracaju. Fonte: Busu em aracaju.


Edilene Cardoso, usuária dos micrões.




Para algumas pessoas, a nova configuração do transporte coletivo somente piorou o sistema que já era problemático, como é o caso de Edilene Cardoso. Ela mora no bairro Coroa do Meio e faz uso do ônibus Circular Shopping 2 para ir ao trabalho todos os dias. “Apesar do nome, os micrões não são adequados para horário de pico e, no período letivo. É impraticável. Moro no Bairro Coroa do Meio, por repetidas vezes perdi meu horário de trabalho, que se inicia às 7h, porque não pude pegar o ônibus no horário costumeiro por estar lotado demais”, explica Edilene. Segundo ela, os atrasos provocados pelos micrões já acarretaram inclusive prejuízos financeiros, pois, cada minuto a mais que leva para entrar no trabalho é descontado da sua folha de pagamento. “Por essa razão, sou obrigada a pegar o micrão das 6h. Tive que mudar meu horário do café da manhã. O meu grau de estresse aumentou consideravelmente”, conclui Edilene.

Na opinião do editor do blog Busu em Aracaju , todas as diferenças dos micrões para os ônibus regulares são negativas, pois um veículo menor somente agrava um problema já existente, que é a superlotação dos carros. “Os ônibus, por serem mais curtos, comportam menos passageiros com conforto. Na prática, a quantidade de passageiros não diminuiu, o que acarreta um amontoado ainda maior de passageiros por metro quadrado”, comenta no blog. Mas, para o Busu em Aracaju, a pior mudança trazida pelos micrões foi a ausência de cobrador, prática que além de sobrecarregar o motorista, expõe os usuários a riscos diversos. “Motoristas têm de receber dinheiro, passar o troco e liberar catraca. Com o atraso provocado pela sobrecarga do motorista, eles têm de aumentar a velocidade para cumprir o horário estabelecido pelas empresas. Com isso, o risco de acidentes aumenta mais uma vez. Além disso, um ônibus com cobrador proporciona ao motorista um apoio para agir em situações como esta.”, relata o blog.

Lotação nos ônibus expõe ao perigo a vida dos passageiros. Foto: blog Busu em Aracaju


O Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Aracaju (SINTRA) é contra o acúmulo de funções pelo motorista, que, no caso dos micrões, passa a exercer também o papel de cobrador. Mas, segundo o presidente do sindicato, Miguel Belarmino da Paixão, a atividade é legal, pois é resultado de um acordo coletivo entre a categoria. “Realizando as duas funções  o motorista está sendo compensado pelo adicional remuneratório. Por exemplo, se o salário do motorista de micro for de R$ 976,90, mais o adicional remuneratório de R$ 208,64, acaba totalizando 1.185,51, ou seja, chegando a ganhar igual a motorista de ônibus convencional”, explica o presidente do sindicato.


Reclamações




Segundo o SINTRA, a insatisfação por parte dos passageiros está relacionada aos horários de pico. “O atendimento aos usuários fica prejudicado. O motorista, por conta da demora na cobrança da tarifa, prejudica o passageiro, fazendo com o que este passe muito tempo ao lado externo do ônibus”, conclui o presidente do sindicato, Miguel Belarmino da Paixão.

Terminal do DIA. Fonte: Matéria do blog Empauta UFS Foto: Emyli Lima
Caso o usuário do transporte público se sinta prejudicado de alguma maneira pela empresa prestadora de serviços, ele pode proceder de duas maneiras: a primeira é entrar na justiça com uma ação individual por meio do Juizado Especial Cível. A outra é procurar o Ministério Público e entrar com uma ação que proteja toda a coletividade. “Se o consumidor entrar com uma ação individual, pode ocorrer de a empresa de transporte ser multada caso os ajustes que ela se propor a fazer não sejam cumpridos ou então ele (consumidor) receberá uma indenização. Mas, por se tratar de transporte coletivo, o mais aconselhável seria entrar com uma ação coletiva, junto ao Ministério Público”, aconselha Marizia Penalva, Coordenadora de Atendimento do Procon. Na ação coletiva, primeiramente o promotor emite um Termo de Ajustamento de Conduta, que consiste na adequação às normas por parte da empresa. Caso ela não cumpra o recomendado, emite-se uma Ação Cível Pública. “É um tipo de processo em que o autor é o Ministério Público”, complementa Marizia Penalva.


O outro lado

Por meio da sua assessoria de comunicação, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Municípios de Aracaju (Setransp) alegou não possuir informações suficientes para se posicionar sobre o assunto, assim como não sabia dizer em quais linhas os micrões atuavam.

A Viação Progresso e a Viação Modelo foram procuradas, mas não quiseram prestar esclarecimentos sobre a questão dos micrões. O blog Jornal Contexto se coloca à disposição das empresas citadas para prestarem esclarecimentos aos nossos leitores, caso entendam que isso seja relevante. O contato pode ser feito através do e-mail contexto2010@gmail.com


Reportagem: Ethiene Fonseca
Editor: André Teixeira

Nenhum comentário:

Postar um comentário

 
Contexto Online | by TNB ©2010