O acesso da web pelos deficientes visuais: realidade sonora

Hoje em dia a utilização da web é uma rotina presente no cotidiano de muitas pessoas que buscam tanto o acesso à informação, quanto uma comunicação rápida com outros internautas. Entretanto, o uso da internet por alguns usuários pode ser uma tarefa ainda complicada.

Para pessoas com deficiência visual o espaço da web tem algumas limitações. A falta de recursos no layout de alguns sites que não tiveram a preocupação de tornar seu conteúdo acessível para todos, é um dos exemplos. Para evitar esse impasse, esses usuários podem optar por utilizar alguns softwares que permitem uma acessibilidade prática para a busca de informações na web, e que, desta maneira dão ao usuário com deficiência visual um nível de autonomia necessário para viver uma vida online sem tantas limitações.

Aulas de informática / Fonte: Divulgação

O professor Lucas Aribé é voluntário desde 2006 da Associação dos Deficientes Visuais de Sergipe (ADEVISE]) que, dentre outras atividades, oferece ao seu público um curso de informática. Cada curso dura 4 meses, com duas aulas por semana (terças e quintas) tendo uma duração de 3h/aula. Para poder se dedicar mais a cada aluno, as turmas comportam no máximo cinco pessoas, e Lucas relata que a demanda é alta. O único pré-requisito para participar das aulas é ser alfabetizado.

Lucas, que também é deficiente visual, conta que aprendeu a usar a datilografar aos 6 anos e, tempos depois, já com 14 anos conheceu o Sistema Dosvox, em uma viagem para São Paulo. “Naquela época, o Dosvox era comprado. Meus pais me deram, e eu comecei a estudar o programa sozinho, pois não havia ninguém em Aracaju que sabia me ensinar a utilizar o software. Em pouco tempo, vi que o Dosvox não servia apenas para jogar”, diz.

Em suas aulas Lucas utiliza softwares de uso gratuito, como o  NVDA e o próprio  DOSVOX. Não precisar pagar para utilizar os programas é uma grande ajuda, tanto para os usuários como para associações como a ADEVISE.

Softwares

Além dos já citados DOSVOX e NVDA, podemos nomear outros softwares usados para a acessibilidade dos deficientes visuais, como o JAWS e o Window-Eyes.

Esses programas convertem o texto escrito em uma página da web, para o áudio através uma voz sintetizada. Desta forma, o usuário consegue ouvir em uma narração tudo que está na tela do seu computador. Conhecidos como "Leitores de tela”, alguns desses softwares fazem um pouco mais do que simplesmente ler o conteúdo da tela. É possível "ilustrar" sonoramente um texto, por exemplo. A narração é feita seguindo uma certa lógica: os parágrafos são separados por intervalos de tempo e as legendas e notas no texto são lidas com entonações diferenciadas.

O funcionamento dos programas é simples e, como nos explica Lucas, pode ser personalizado. O usuário pode optar por deixar que o leitor de tela escaneie todo o texto da página acessada, da esquerda para a direita e de cima para baixo, ou também pode escolher que seja lido apenas uma linha por vez. Caso queira, o usuário pode usar a tecla Tab do teclado para navegar entre os links.

Porém, mesmo possuindo vários recursos, esses programas sofrem ainda algumas limitações. Caso alguma imagem não contenha um texto alternativo para identificação ou legenda para descrição, o leitor não consegue transmitir o significado da imagem. Outro problema é em relação ao layout dos sites. Para as pessoas que podem enxergar, ao entrar em alguma página da web, é fácil perceber a organização da página e, desse modo, não há dificuldade na escolha do que ler ou qual link selecionar para a leitura. Os softwares não conseguem fazer essa distinção, já que a leitura é feita de forma linear, palavra por palavra. Dependendo do local onde se encontra a informação que o usuário procura no site, se faz necessário um tempo maior para leitura.

Ainda são poucas as alternativas que os internautas com deficiência visual têm para conseguir uma maior autonomia na utilização da web e muita coisa pode ainda ser melhorada, mas já podemos perceber que eles estão conquistando seu espaço.

Reportagem, edição e vídeos: Jovaldo Júnior, Moema Pascoini e Anne Samara