Sescanção e a cena musical em Sergipe

segunda-feira, 7 de novembro de 2011





Júnior Verssiani e Crys Moura, cerimonialistas

Na última quarta, 25, o Teatro Tobias Barreto recebeu a 13ª edição da Mostra Sergipana de Música, o Sescanção. Entre instrumentistas, compositores e intérpretes, o evento selecionou 16 artistas locais e canções dos mais variados estilos para a gravação de um CD. Do rock ao chorinho, do samba ao hip hop, o Sescanção cumpriu o papel de mostrar uma pequena parcela do atual cenário da música no estado, provando que o potencial do artista sergipano é, além de uma promessa, uma realidade.

Carol Prudente, no palco
A noite, que teve como mestres de cerimônia Júnior Verssiani e Crys Moura, trouxe grande público ao teatro. Além dos artistas selecionados, o evento contou com o Quinteto de Cordas de Aracaju e a Quadrilha Século XX na abertura, e os arranjos e acompanhamento musical ficaram por conta da Banda Base. Sob a coordenação de música do técnico do Sesc, Fábio Oliveira, a mostra agradou não só a quem assistia, mas aos próprios artistas.  Segundo Carol Prudente, intérprete da canção “Corpo Invisível” e iniciante no Sescanção, a organização foi um diferencial. “O evento foi lindo, muito bem produzido. A música está aí pra ser mostrada, e aqui nós temos muita variedade e coisa boa”.
 
Para Pinho, que interpretou a canção “Aquele Tempo” junto aos seus companheiros do Quarteto Vocal, a mostra foi a prova do bom gosto do público sergipano. “A gente vê muita música por aí sem nexo, sem sentido. É muito bom para o artista ver que ainda tem gente que sai de casa num dia de semana por que gosta de música de qualidade, por que tem um gosto apurado”. Para garantir, portanto, que o espetáculo ocorra em sua melhor forma, a equipe tem que se mobilizar com antecedência.
 
Quarteto Vocal

O Sescanção acontece de dois em dois anos, e os preparativos para cada edição – que envolvem projeto e divulgação – começam um ano antes do evento. Seis meses antes iniciam-se as inscrições, e a fase de elaboração dos arranjos e ensaios acontece nos dois meses que antecedem o grande dia. Tudo meticulosamente pensado para afirmar a qualidade que já é marca do Sescanção, berço de artistas como Patrícia Polayne e Kleber Melo.

Sescanção e o momento atual
Raquel Leite, Gerente de cultura do Sesc
Surgido como festival e construindo sua tradição desde 1996, o Sescanção deixou de ter caráter competitivo em 2004, quando assumiu feições de mostra. Sobre esta mudança, a gerente de cultura do Sesc, Raquel Leite, explica: "a não competitividade é um ponto importante, por que leva a uma integração da classe artístico-musical. Isso muda a história da música. Todos mostram que tem competência de mostrar o seu trabalho. Não existe melhor nem maior, somos iguais.”
 Na visão da superintendente regional do Sesc, Excelsa Machado, “a parte competitiva não contribuía para o crescimento e desenvolvimento do músico. Estava ficando muito restrito à competição, e esse não é o nosso objetivo.” Para Excelsa, a mudança foi bem vinda, e refletiu no aumento do número de participantes a cada edição: neste ano, 72 candidatos passaram pelo crivo da comissão julgadora, cada um com três músicas.

Excelsa Machado, Superintendente regional do Sesc

Comprometido com o objetivo de estimular a produção local, o Sescanção se constituiu como um importante elemento na trajetória da música sergipana. Segundo Junior Verssiani, “o Sescanção é uma verdadeira vitrine. É a oportunidade de o artista enriquecer o seu currículo”. Para Saulo Ferreira, guitarrista da Banda Base, a música em Sergipe teve progresso nos últimos tempos e o atual momento é favorável. “A auto estima sergipana mudou. Antes havia muito a tendência de olhar apenas para o que vem de fora. Agora passamos a valorizar o que é de dentro do estado também, a olhar um pouco para o nosso próprio umbigo”, diz.
Crys Moura destaca o potencial do artista em Sergipe, ressaltando a projeção que está por ser alcançada. “São tantos talentos, tanta gente boa que a gente se pergunta ‘o que é que essas pessoas ainda querem aqui?”, comenta. Em contraponto à qualidade do músico, a falta de apoio governamental ainda é uma realidade. Na agenda cultural do estado, o artista local ocupa papel secundário. Paralelamente, alguns músicos sergipanos – a exemplo da banda Naurêa – alcançam reconhecimento até mesmo internacional, fazendo turnês no exterior. Neste sentido, Fábio Oliveira opina: “De fato não há o apoio necessário. Mas o músico contemporâneo não pode só ficar em casa esperando um telefonema. Ele tem que ser produtor, tem que saber lidar com as redes sociais pra saber divulgar o seu trabalho”.
O homenageado

Familia de Irmão, recendo homenagem.

Mesmo em meio às dificuldades, ainda há aqueles que acreditam na potencialidade de sua arte. Foi o caso de Wellington dos Santos, o Irmão, homenageado do Sescanção 2011. Participando de festivais na década de 80, Irmão e seu parceiro Tonho Baixinho levaram a música sergipana para diversos estados. ”Irmão foi escolhido por que acreditou nessa mostra, e foi a partir daqui que ele foi revelado. E pelo seu amor à música, sua busca de ver qualidade e de ver crescer a classe musical. Ele foi um guerreiro da música sergipana”, diz Raquel Leite.
Irmão faleceu em 2010, vítima de câncer. Para receber as homenagens, subiram ao palco do Tobias Barreto a viúva Maria Inez, a filha Juliana e o neto, Pedro.


Todos os participantes do Sescanção em clima de festa.

Para mais informações:


Por: Nayara Arêdes
Fotos: Eudorica Leão, Iargo de Souza, Nayara Arêdes, Sostina Silva
Edição: Egicyane Lisboa Farias

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