BIpolaridade é responsável por muitos suicídios na adolescência

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A adolescência é um período que vai dos 10 aos 20 anos de idade, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), e esta é uma fase de transição entre a infância e a vida adulta em que o indivíduo passa por diversas transformações físicas, sociais e psicológicas. É nesse período que há, gradativamente, uma vontade de ficar mais distante dos pais e mais próximo dos amigos e de si mesmo, desligando-se dos hábitos infantis e fazendo suas próprias escolhas para a vida adulta. Com isso, terá uma ligação mais intensa com a liberdade e, consequentemente, com o livre-arbítrio e, por fim, descobrir o seu papel enquanto um ser social adulto.

Foto: InfoMais

O fato é que toda a gama de possibilidades e novidades – das primeiras experiências sexuais até o consumo de drogas – pela qual passa um adolescente o deixa um tanto instável emocionalmente. Uma “bomba” de sentimentos distintos explode em sua mente, tais como: euforia, desânimo, curiosidade, medo, inadequação, entre outros, aliados à bastante intensidade e inconstância e, ainda, regados à frequentes mudanças de opiniões, metas e de um comportamento bastante impulsivo.


Foto: conectando-voce.blogspot.com
Tudo isso acontece em meio a situações cotidianas diversas que o jovem passa, que vão de uma busca por aceitação social em um determinado grupo até uma simples briga com o(a) atual namorado (a). Este último é o caso da adolescente C.L, de 16 anos. Ela revela que algumas vezes já pensou até em suicidar-se após o fim de seu relacionamento “Dá até vergonha de falar, mas eu já pensei até em me matar quando meu namorado terminava comigo por causa de outra menina. Mas é pensamento rápido, depois até me arrependo em ter pensado nisso”.

O problema é que em meio à instabilidade emocional que alguns jovens passam pode, na verdade, estar escondida uma doença mental, denominada Transtorno Bipolar do Humor (TBH), também conhecida como Transtorno Afetivo Bipolar (TAB). Segundo dados do Programa de Crianças e Adolescentes Bipolares (ProCAB), cerca de 2% dos adolescentes brasileiros sofrem com a patologia e os números vêm crescendo. E, segundo a OMS, das doenças mentais o TBH é terceira mais comum entre adolescentes, atrás apenas da depressão e da esquizofrenia, além de ser a que mais cresce em relação ao número de suicídios de jovens no mundo.

Em entrevista concedida ao Contexto Online, a psicóloga do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e do Hospital da Polícia Militar- SE, Patrícia Millena Paixão Souza, responde a questões referentes ao TBH.

Contexto Online: O que é Transtorno Bipolar do Humor (TBH)?
Patrícia Paixão: É um transtorno mental caracterizado pela presença de sintomas relacionados a perturbações significativas do humor. Essas perturbações se configuram em oscilações cíclicas, entre mania e episódios depressivos, ou seja, o doente oscila entre estados de alegria e euforia intensas, até o estado de depressão.

Contexto Online: Quais os fatores que causam essa doença?
P.P.: As causas do TBH são desconhecidas, mas existem alguns fatores associados à doença que nos levam a crer que estejam relacionados ao transtorno. Dentre eles, se destacam os traumas e perdas significativas que as pessoas sofrem. Além disso, há desconfiança de que o componente genético também está associado à presença do transtorno.

Contexto Online: Como é manifestada essa patologia, ou seja, quais os sintomas?
P.P.: Existem os episódios de mania que são caracterizados pela elevação do humor, acompanhado do nível de atividade dos pacientes, além da intensa euforia, típica nesta fase. O sintoma de irritabilidade está relacionado a restrições impostas por outras pessoas. Além destes, se fazem presentes, sintomas como, a fragmentação da atenção e a distraibilidade, acompanhados da presença de crenças irrealista de realização, de redução acentuada da necessidade de sono e de aumentos nos impulsos de falar.

Contexto Online: Como é possível diagnosticá-lo em adolescentes? Pois esta fase da vida das pessoas é dotada de instabilidade emocional e impulsos, podendo estes, serem confundidos com indícios da doença.
P.P.: O diagnóstico do TBH na adolescência deve levar em consideração os aspectos que são característicos desta fase, na qual o indivíduo atravessa um período de transição entre a infância e a fase adulta, encarado por alguns teóricos como crise. Apesar das características peculiares da adolescência, os sintomas relacionados ao transtorno se caracterizam principalmente pelo grau de comprometimento na vida do paciente. Ou melhor, euforia, crenças irrealistas podem aparecer na adolescência, mas o que determina o transtorno é o quanto estes sintomas afetam a vida e as relações do paciente.

Contexto Online: O uso das drogas pode emitir sinais que se assemelhem aos da doença?
P.P.: Sim. Mas é preciso deixar claro que o profissional da saúde mental possui recursos técnicos para avaliar as diversas patologias: entrevista de anamnese (faz o paciente lembrar-se de fatos relacionados à doença), exame clínico, entre outros. Permitindo que se faça um diagnóstico diferencial apropriado.

Contexto Online: E essa patologia tem cura?
P.P.: Não. O TBH é um transtorno que acompanha o paciente pela vida toda, mas pode ser tratado e seus sintomas controlados.

Contexto Online: Quais os tipos de tratamento para o TBH?
P.P.: O tratamento é composto de intervenções medicamentosas, bem como psicoterapia. Em casos muito graves em que há um comprometimento maior da vida do paciente, o trabalho dos profissionais do CAPS é de suporte social, tentando amenizar os sintomas do transtorno e garantir a qualidade de vida dos pacientes.

Contexto Online: Quem é mais vulnerável a doença, os meninos ou as meninas?
P.P.: De acordocom a teoria, a prevalência do transtorno é maior nos meninos. Mas não há dados sobre os fatores de vulnerabilidade relacionados a este dado.

Contexto Online: Como a família deve se portar ao descobrir que um de seus entes possui o TBH?
P.P.: Ao desconfiar da presença do transtorno, a família deve procurar uma avaliação psiquiátrica para posterior encaminhamento do caso a um psicólogo ou a uma equipe interdisciplinar. Existem também os serviços públicos de saúde que se organizam aqui em Aracaju, numa rede de saúde mental chamada a REAP (Rede de Atenção Psicossocial). Os casos leves e moderados podem ser tratados num ambulatório de referência em saúde mental e os mais graves são tratados em CAPS. Qualquer pessoa pode se dirigir a uma unidade de saúde mais próxima para se informar a respeito dos encaminhamentos a serem feitos.





Repórter: Eduardo Ferreira |  Editor/Box: Osmar Rios 

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