Público do Campeonato Sergipano é o pior dos ultimos cinco anos

sexta-feira, 13 de abril de 2012


O Campeonato Sergipano de 2012 teve sua primeira fase encerrada no dia 25 de março, sagrando o Itabaiana como campeão da Taça Cidade de Aracaju. Com pretensões fracassadas de trazer de volta o grande público aos estádios, o futebol sergipano atravessa um momento difícil, em que o número de torcedores nos jogos tem sido cada vez menor.

Em 2009 a média de público do campeonato chegava a 1.065 pagantes. Já em 2011, esse número não passou de 531. Um dos motivos atribuído pelos torcedores para esse abandono aos estádios é a falta de segurança. “Eu não vou por causa das confusões que as organizadas causam. Quando tem jogo sempre vejo o pessoal correndo, procurando briga, a cavalaria atrás. Eu vou para um negócio desse pra sair correndo?”, indaga o motoboy Max Lendaw, torcedor que frequentava assiduamente os jogos do seu time.

Dados da Federação Sergipana de Futebol


As ações violentas das torcidas organizadas amedrontam as famílias, que deixam de frequentar os estádios por não considerar o ambiente seguro. No início do Campeonato Sergipano deste ano, por exemplo, um jovem de 18 anos foi assassinado após briga entre torcidas. De acordo com o tenente da polícia militar Edenio Murilo Santos Santana, chefe de eventos do Comando do Policiamento Militar da Capital (CPMC), antes de dar início ao campeonato a PM reuniu dirigentes dos clubes, responsáveis pelas torcidas organizadas e a imprensa para discutir o plano de operações que a ser adotado ao longo da competição.

O encontro teve como principal objetivo definir maneiras de coibir o combate entre as torcidas. Esse plano deu origem a algumas inovações no método de ação contra a violência nos estádios, como a revista ao torcedor antes da entrada no local do jogo. Tal medida já havia sido tomada na maioria dos estados brasileiros, porém só foi implantada em Sergipe no início de 2012.

Outra iniciativa da PM foi a realização do cadastramento de cada integrante das organizadas do Estado para facilitar a identificação de possíveis autores de crimes, método já existente também em Estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gereis. Cada cadastro conteria o nome completo do cidadão, endereço, nome e contato de pessoas que o conheçam, além de uma foto 5x7. Entretanto a medida não alcançou os resultados esperados, até o momento apenas uma torcida organizada, a Trovão Azul, começou o cadastramento, mas com números desanimadores: quatro, dos mais de cem componentes. Segundo o tenente Edenio Murilo, há pessoas envolvidas em crimes dentro das torcidas então elas tem receio de serem identificadas.

Segundo o diretor de futebol profissional da Federação Sergipana de Futebol (FSF), Orliandes Barros, inibir as ações das torcidas organizadas não é uma questão que compete apenas ao setor do esporte. “Não temos problema com a violência dentro dos estádios, a violência maior está do lado de fora. Essas torcidas organizadas marcam encontros através da internet para se degradarem. Isso é um caso que cabe ao Ministério Público analisar e ver quais medidas devem ser tomadas”, afirma.

De acordo com estudos aprofundados sobre violência entre torcidas organizadas, realizados pelo Promotor de Justiça Deijaniro Filho, da Promotoria do Controle externo da Atividade Policial, cedido pelo Ministério Público à reportagem do Contexto Online, medidas vêm sendo tomadas como, por exemplo, o Termo de Ajustamento de Conduta, que proíbe as torcidas organizadas Torcida Esquadrão Colorado e Trovão Azul de frequentarem os estádios Batistão e Presidente Médici com uniforme que os identifiquem, devido aos homicídios causados por conflitos entre essas duas torcidas. Segundo um Levantamento feito pelo LANCENET!, que revela o número de vítimas da guerra ligada ao futebol no país desde outubro 1988, o Brasil registrou 155 mortes, destas, 6 vítimas foram em Aracaju.

Segundo pesquisa disponível no site da Federação Sergipana de Futebol, a falta de um acompanhamento mais próximo da mídia com os clubes e as insuficientes transmissões de jogos em emissoras de televisão são uma das maiores reclamações do público. A pesquisa demonstra que a falta de times sergipanos na mídia é responsável para que haja no Estado uma superioridade em número de pessoas que preferem torcer por times cariocas e paulistas, pois a facilidade de acompanhar notícias e jogos de clubes desses Estados é maior.

Dos 807 entrevistados em Aracaju, 43,1% são torcedores do Flamengo, 21,8% Vascaínos, 12,3% Corintianos. “Com o advento da rede de televisão, o torcedor prefere estar em casa com total conforto e segurança assistindo o jogo do outro time que ele gosta e que está na mídia. Como os times do nosso Estado não estão bem, não tem uma equipe que empolgue e leve o torcedor ao estádio, ele passa a dar mais importância àquele que pode acompanhar na TV”, explica o diretor de futebol Orliandes Barros.
Imagem da pesquisa disponível no site da Federação Sergipana de Futebol
Imagem da pesquisa disponível no site da Federação Sergipana de Futebol

Para se transmitir um campeonato é necessário que haja disponibilidade financeira entre a organização da competição, os dirigentes de clubes, um grande patrocinador e a rede de televisão. Ainda segundo Orliandes, falta em Sergipe um patrocinador com interesse em investir uma grande quantia nessa negociação, além disso, emissoras locais não tem interesse em sofrer gastos com essa parceria, já que transmitindo Campeonato Carioca, por exemplo, a audiência e o retorno são muito maiores.

Em análise realizada em lojas de artigos esportivos no centro de Aracaju, tornou-se perceptível a falta de interesse da população para com os times do estado. Em todas as seis lojas visitadas pela reportagem do Contexto On Line, é unânime a informação de que camisas de clubes cariocas, paulistas e até mesmo baianos vendem mais que as dos times sergipanos. “Camisas do Vasco e Flamengo saem toda semana, já as dos times daqui vendemos 2 no mês. As pessoas preferem pagar 200 reais numa camisa de um time de fora, do que 120 na do Confiança, por exemplo”, conta a vendedora Fátima Rezende.

Além das problemáticas já destacadas, a falta de estrutura nos estádios é também uma reclamação dos torcedores . Como exemplifica os dados desta análise feita pela pesquisa da FSF, 42 % dos entrevistados acreditam que para o futebol sergipano melhorar é necessário que se invista mais na infraestrutura. “O torcedor hoje quando vai ao estádio além de querer ver a vitória do seu time, ele quer ter conforto. Ele quer ter uma estrutura de sanitários, de bares e alimentação, estrutura de segurança”, diz Orliandes.

Para o jornalista, radialista e repórter esportivo Barroso Guimarães, que há 26 anos faz a cobertura do Campeonato Sergipano, a problemática vai além das já discutidas. Ele acredita que falta qualidade aos jogadores que atuam na competição, por isso o futebol de hoje não atrai o torcedor. “Sergipe importa muitos jogadores e a maioria não acrescenta nada ao nosso futebol”, afirma.

Ele destaca que ultimamente os dirigentes de clubes confiam que a solução é trazer jogadores de fora e não dão importância às chamadas pratas da casa. “A qualidade dos jogadores de Sergipe é muito boa, você pode reclamar da estrutura do futebol sergipano, mas não dos atletas. Eles não são valorizados aqui, mas muitos quando saem de Sergipe fazem sucesso em nível nacional” destaca. Um bom exemplo é o jogador Victor Andrade que no auge dos 16 anos é a grande promessa do Santos Futebol Clube, onde a multa rescisória para quem quiser tirar o jovem da Vila Belmiro é de € 50 milhões (R$ 124 milhões) para o exterior e € 30 milhões (R$ 74,7 milhões) para o Brasil, o valor estipulado para a multa é maior que a do jogador Neymar, considerado o maior crack do Brasil na atualidade.

O radialista encerra dizendo que é muito importante ter segurança e estrutura nos estádios, mas o que trás público em peso aos estádios são jogadores atrativos, com um bom futebol e no momento Sergipe não tem nenhum atleta que se destaque e que empolgue a torcida.



Repórter:  Thaís Guedes
Edição: Emily Lima
Foto: Jogo do Campeonato Sergipano de 2012 entre os times Sergipe e Guarany. Fonte: Infonet.
Arte: Eduardo Ferreira e Thaís Guedes


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