Lixo eletrônico ameaça o meio ambiente e a saúde da população

domingo, 20 de maio de 2012

 O lixo eletrônico se tornou um grande desafio não só para Aracaju, mas para outras cidades do Brasil, principalmente com os avanços tecnológicos e a intensa evolução industrial. Milhares de aparelhos eletroeletrônicos são descartados diariamente no país, e o que é pior, de forma incorreta. É tanto consumismo que tem causado grandes problemas ambientais e riscos à saúde da população. Um estudo realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) revela que o brasileiro descarta cerca de meio quilo (0,5 kg) de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos por ano. Porém essa realidade poderá mudar com a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
O que é o lixo eletrônico? 

Podemos definir como lixo eletrônico ou tecnológico tudo o que é proveniente de equipamentos eletroeletrônicos, incluindo TVs, computadores, impressoras, celulares, pilhas e baterias usadas, entre outros. Os resíduos desses tipos de materiais contêm substâncias tóxicas como chumbo, cádmio e mercúrio, e por isso não podem ser descartados de qualquer maneira. O desafio é dar um destino ecologicamente correto ao lixo eletrônico, mas não é uma tarefa tão fácil assim.

Para o publicitário Marcos Paulo, o simples ato de descartar um aparelho celular, por exemplo, se torna uma ação complicada. “Não só eu, mas metade dos aracajuanos não sabe como jogar fora esse tipo de lixo e de uma forma ou de outra, somos obrigados a jogar esse material no lixo convencional (do dia a dia). Faltam informações e conscientização do público em saber que esse material contém substâncias perigosas que podem causar sérios impactos ao meio ambiente, sobretudo a nossa saúde. Mesmo assim é muito difícil realizar o descarte correto desses materiais”, comenta.

Segundo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o Brasil ocupa a liderança entre as nações emergentes na geração de lixo eletrônico. O país produz 2,6 kg de lixo por habitante, o equivalente a menos de 1% da produção mundial de resíduos do mundo, e a indústria eletrônica continua em expansão. Até o final deste ano estima-se que o número de computadores existentes no país dobre e chegue a 100 milhões de unidades. Países como a China, que tem uma população muito maior, possuem uma taxa de lixo eletrônico por pessoa de 230g (0,23 kg), e na Índia ainda mais baixa, 100g (0,1 kg).

As consequências para os seres humanos, animais e o meio ambiente são graves, pois equipamentos como pilhas e baterias possuem diversas substâncias que podem vazar e atingir o solo e se dissolver na água contaminando os lençóis freáticos e consequentemente os rios, córregos e a água própria para o consumo. Caso essa água seja utilizada para irrigação ou para dessedentar o gado, os elementos nocivos chegarão ao homem através da alimentação. Os danos causados pelos componentes tóxicos são diversos: doenças de extrema gravidade que podem afetar o sistema nervoso central, cérebro e o sangue, bem como o câncer.

O problema e suas possíveis soluções

Assim como em outros estados do Brasil, Sergipe ainda não conta com a coleta especializada desse tipo de lixo. Conforme a assessoria de comunicação da Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb) de Aracaju existe um projeto de coleta desses resíduos, mas sem data prevista de implantação. Em contrapartida há na cidade alguns pontos de coleta de resíduos, como os supermercados ‘Bom Preço’ e a loja ‘MultiCoisas,’ instalada no Shopping Riomar, mas são restritos apenas às baterias e pilhas.

Genival Nunes- Sec.estadual do meio ambiente.
O secretário estadual do Meio Ambiente, Genival Nunes, explica que, mesmo o município ou estado não fazendo essa coleta, os cidadãos devem dar a sua contribuição. “Cada um deve fazer sua parte, a responsabilidade sobre o lixo eletrônico não é apenas um problema do estado ou do município, e sim de toda a população”, destaca. Ainda segundo o secretário, o Plano Nacional e Estadual de Resíduos Sólidos define muito bem o que é resíduo e o que é rejeito. “Muito dos materiais que estão contidos no lixo eletrônico não são necessariamente resíduos e sim rejeitos. Com é o caso do plástico utilizado na fabricação desses materiais que poderia ser reutilizado para se transformar em produto mais simples e mais econômico”, salientou.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos, sancionada em 2010 pelo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, estabelece a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos que abrangem fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, consumidores e titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos. A lei só deve vigorar em 2014, mas as indústrias e as prefeituras já devem se preparar para as mudanças no descarte do lixo eletrônico. Ela também determina que fabricantes, importadores, distribuidores e vendedores realizem o recolhimento de pilhas, baterias, todos os tipos de lâmpadas e eletroeletrônicos.

Rodrigo Terra -Biólogo e ambientalista do IMA.
Para o ambientalista e biólogo do Instituto de Mamíferos Aquáticos (IMA), Rodrigo Terra, as empresas fabricantes de eletrônicos devem se responsabilizar pelo ciclo reverso de seus produtos. Segundo ele, essas empresas lucram e muito com as vendas desses produtos e não deveriam ficar alheias ao destino deles quando quebram ou ficam obsoletos. Além disso, os fabricantes já possuem uma cadeia que funciona no sentido de abastecer o mercado com seus produtos. “Hoje muitas pessoas deixam de usar e até jogam no lixo produtos em bom estado, que estão funcionando, somente porque o mercado lançou um produto mais moderno. E também existem aqueles que somente consomem produtos de segunda linha, os quais muitas vezes têm uma durabilidade bastante reduzida, e nesse caso, quando dão defeito preferem comprar novos a consertar o aparelho danificado”, critica Rodrigo.

O ambientalista recomenda que a população procure empresas de reciclagem que comprem resíduos eletroeletrônicos e tenham como garantir a destinação correta desses materiais. Outra alternativa, caso o produto esteja funcionando ou com pequenos defeitos, é  procurar lojas de eletroeletrônicos usados e tentar vendê-los; ou ainda, entrar em contato com as autorizadas para envio aos sucateiros que recolherão esses materiais.
De acordo com Genival Nunes, um dos pontos estratégicos da Política Nacional de Resíduos Sólidos são os chamados Pontos de Entregas Voluntárias (PEV
), onde as pessoas podem, em qualquer dia da semana, fazer entrega do seu material eletroeletrônico. “Existem alguns pontos de entrega em Aracaju que são semelhantes aos PEV’s, mas que funcionam de maneira desordenada. Com os PEV’s, o lixo eletrônico vai ter como destino final a reciclagem e não os aterros sanitários como acontece atualmente. O que a política nacional de resíduos sólidos vai fazer é organizar os PEV’s na capital e nos municípios”, esclarece o secretário.
Apesar do descaso e da falta de conhecimento da maioria da população sobre os problemas que o lixo eletrônico pode causar, algumas soluções já surgiram com as empresas de reciclagem que reaproveitam as peças antigas e repassam para pequenas empresas especializadas em montagem de computadores. Como em Sergipe o governo e as prefeituras ainda não disponibilizam a coleta especializada destes resíduos, o primeiro passo é desenvolver uma educação ambiental e adequar os padrões de consumo atuais, dando assim uma destinação adequada ao lixo. Além de adotar um modelo de vida sustentável como prática imprescindível para a sobrevivência do planeta.

      
    
 Saiba mais sobre o lixo eletrônico em: http://www.lixoeletronico.org/
    E leia também na integra a Política Nacional de Resíduos Sólidos em: http://www.cnrh.gov.br/pnrs/documentos/audiencia/versao_Preliminar_PNRS_WM.pdf
    
     Repórter: Osmar Rios.
     Editor: Eduardo Ferreira.
     Fotos e Box: Illton Duarte.


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