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Sargento Jorge Vieira |
A Matriz Curricular para formação dos Profissionais de Segurança Pública, de responsabilidade da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), indica que os cursos de formação devem gerar profissionais críticos e transformadores da realidade social, além de preparados para valorizar as diversidades sociais e dominar técnicas e procedimentos, entre outros, de uso da força. Entretanto, de acordo com o presidente da Associação dos Militares do Estado de Sergipe(Amese), Sargento Jorge Vieira da Cruz, esses princípios não são cumpridos, pois o atual processo de formação é deficiente tanto no preparo para a prática, quanto para o contato com os cidadãos.
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Infográfico ilustrativo |
O despreparo do policial, ainda segundo o representante
da Amese, está não só em questões amplas como a falta de conhecimentos
específicos para lidar com as minorias e a falta de uma política de
atualização, mas também em questões específicas como o falta de habilidade para
lidar com os armamentos. “Tem policiais que só atiraram no seu curso de
formação e na rua, em ocorrência. Eu mesmo aprendi a atirar na rua”,
acrescenta. Além dos problemas de formação, ele chama atenção para as cargas
horárias excessivas, para a falta de recursos e sua má utilização pelos
gestores e para a falta de efetivo. “A gente está vivendo hoje uma segurança de
faz de conta, que não atende às expectativas do cidadão”, diz o Sargento
Vieira.
A respeito da carga horária excessivas o Presidente da Amese indica que, neste ano, policiais chegaram a trabalhar 36 horas seguidas. Diferente das jornadas tradicionais, os turnos de trabalho dos policiais são ampliados para suprir as limitações do efetivo. Em Sergipe, segundo dados da própria Polícia Militar, há um policial militar para cada 420 habitantes, enquanto a proporção recomendada pela ONU é de um policial para cada 250 habitantes.
Treinamento
e profissionalização
De acordo com a Tenente-Coronel Araci Ferreira Fontes,
responsável pela 3ª Seção do Estado Maior Geral (PM-3), setor que gerencia todo o
processo de formação, o maior problema está relacionado ao tempo escasso de
preparação. “Toda vez que se
faz concurso, se faz para tentar cobrir
uma defasagem. O governo faz o concurso porque tem pressa do homem na rua”, e
isso acaba por afetar o tempo total de formação. Ela
pondera que o tempo reduzido não faz com que os policiais fiquem mal formados,
mas faz com que a formação fique aquém do poderia ser alcançada em um curso
mais longo. O edital e o posterior concurso para ingresso na polícia militar é
realizado por ordem do governo do estado e não ocorre em de Sergipe há sete
anos.
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Tenente-Coronel Araci Fontes |
Cabo Svetlana Barbosa da Silva |
A
presidente da Associação Integrada de Mulheres da Segurança Pública em Sergipe(Asimusep-SE), Cabo Svetlana Barbosa da Silva, chama atenção para a necessidade
de uma formação que observe as especificidades da polícia feminina. “Deveria
ter uma defesa pessoal específica em que você potencializasse sua força com
técnica”, além de uma preparação técnica diferenciada, em alguns aspectos. A
Cabo Barbosa destacou que a Associação também tem lutado para que a formação
prepare a policial para lidar com os desafios de um ambiente em que os
preconceitos de gênero ainda são intensos. “Você tem que provar dia-a-dia que é
capaz. Você tem que desempenhar o mesmo papel com mais contundência porque a
todo tempo você é provada”.
Segundo a Cabo Barbosa, as diferenças atuais no processo
de formação de homens e mulheres estão mais ligadas aos testes de admissão, que
consideram a necessidade de exigir alturas e exercícios distintos. Na grade
curricular, entretanto, falta uma técnica que potencialize a estrutura física
feminina e uma teoria que a ajude a lidar com a masculinização da profissão. As
policiais femininas têm que conviver ainda com a falta de um equipamento de
proteção individual adequado, de fardamentos e de uma estrutura física, como
alojamentos e banheiros específicos, pois todos esses itens respeitam apenas as
necessidades do policial masculino. A Tenente Amanda, da divisão de ensino do
CFAP concorda com o fato de existirem preconceitos implícitos no comportamento
masculino, mas para ela há um esforço não só para camuflar, mas também para
superar esse tipo de posicionamento.
Saúde
mental e os aspectos envolvidos![]() |
Iolanda Aragão |
De acordo com a coordenadora do Centro Integrado deApoio Psicossocial (CIAPs) da Secretaria de Segurança Pública, Iolanda Aragão,
a falta de preparo do policial não afeta apenas à segurança da população, mas
também a saúde física e mental do profissional. “Servidores a partir de 25 anos
de trabalho na polícia estão extremamente adoecidos, extremamente desgastados,
quando não física, mas psicologicamente, ou seja, uma fase em que poderia estar
mais produtivo, ele já está declinando devido ao seu desgaste emocional”, disse
Iolanda Aragão.
Para um planejamento mais sólido das ações a serem
executadas, foi realizada em 2010 uma pesquisa que pretendia elaborar um
diagnóstico da atual situação do servidor de segurança pública do estado de
Sergipe. A pesquisa verificou que as situações estressantes estavam
relacionados à ação cotidiana do policial. "O que mais estressa o policial
é o seu despreparo para a sua ação, mostrando que ele deveria ser mais bem
preparado”, informou a coordenadora do CIAPs que, nesse sentido, destaca a
necessidade de incluir na formação, conhecimentos e técnicas que ajudem o
policial a lidar diariamente com situações estressantes e com o permanente
estado de vigília, necessários para a execução do trabalho.
A formação do policial está relacionada a aspectos
estratégicos que envolvem a gestão da segurança a pública, como o adequado
dimensionamento da força policial necessária ao perfil do estado, passando pela
concepção do policial que a sociedade demanda, até o gerenciamento adequado da
sua formação, como o tempo e os materiais necessários. Para isso, entretanto,
“a prioridade dada ao capital humano das instituições de segurança pública no
âmbito de suas políticas precisa ser traduzida em investimentos constantes em
educação e valorização profissional”, conforme sinalizou, em 2009, a
Conferência Nacional da Segurança Pública, em seu Texto Base.
Por: Liliane Nascimento
Edição: Egicyane Lisboa
Fotos: Arquivo pessoal e Asp 93/APMP
Infográfico: Liliane Nascimento
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