No último
domingo de maio, 6, o Estádio Batistão foi
palco do maior clássico do futebol sergipano. Sergipe e Confiança
fizeram o jogo da semifinal do Campeonato, com arquibancadas parcialmente
lotadas. O clássico foi marcado pela festa dos torcedores, protagonizada pela
animação das Torcidas Organizadas. No entanto, algumas horas após a partida, o
jovem Wilasson Alef Santos, que vestia o uniforme do Sergipe, foi encontrado
morto. A suspeita é que o crime tenha relação
com briga entre torcidas. Acontecimentos como esses têm sido recorrentes em
todo Brasil provocando a discussão sobre o possível fim das organizadas visando
diminuir a violência nos estádios e em seu entorno.
Em Sergipe, as primeiras Torcidas
Organizadas sugiram na década de 90 com a Torcida Trovão Azul (TTA), formada
por torcedores do Confiança, e a Gigante Rubro formada por Torcedores do
Sergipe. Logo após surgiu a Torcida Jovem, (TJ),
resultante de um conflito interno da TTA, e posteriormente a Torcida Esquadrão Colorado, constituída por
outro grupo de torcedores do Sergipe. Com a criação dessas torcidas, os
estádios passaram a ser palco de grandes festas nos jogos como também
testemunhas da violência.
A torcida organizada, quando foi
criada, era apenas uma atividade de confraternização, descontração. A única
intenção era apoiar o time. Nos dias atuais, esse objetivo ainda é o mesmo,
entretanto algumas práticas se infiltraram deturpando o real sentido do que
deve ser a torcida organizada.
Em Sergipe, tornou-se comum, por
exemplo, tomar a camisa da torcida adversária como uma espécie de troféu. As
músicas, que antes eram uma demonstração de amor ao clube, passaram a atingir
os torcedores rivais. Tais modificações têm estimulado o crescimento da
violência.
Além dessas ações, as torcidas
organizadas passaram a utilizar a internet para marcar brigas, tornando a
situação quase que incontrolável para as autoridades. “Realmente tem sido
difícil fazer o controle”, reconhece o Capitão da Polícia Militar, Deny
Ricardo. As torcidas marcam para se enfrentar pelas redes sociais e para tentar controlar
esses atos os policiais têm que se inserir nas redes com perfis falsos. “O
problema é que geralmente somos descobertos e excluídos, por isso é difícil
fazer o controle”, lamenta-se o Capitão Ricardo.
Torcedores sendo revistados na entrada |
A violência entre organizadas tem
ido além dos estádios. Segundo o Promotor de Justiça, que já fez vários estudos
sobre torcidas organizadas em Sergipe, Deijaniro Jonas Filho, já houve no
Estado em torno de 15 vítimas na guerra entre torcidas. Ele relata ocorrências em
vários Bairros da capital, como Augusto Franco, Cidade Nova, Bairro Industrial
e Japãozinho.
A violência gerada pela atuação
das torcidas organizadas provoca divergências também entre os torcedores no que
diz respeito as medidas para coibir ou diminuir as agressões. Para Pedro
Henrique, torcedor do Confiança, “a violência entre as organizadas tem tomado proporção
muito grande, eu vejo o fim delas como uma solução, assim o futebol vai voltar
a ser apenas a festa bonita que tem que ser, sem violência”.
O vice-presidente da Torcida Organizada Esquadrão Colorado também atribuí o problema da violência a pessoas que se infiltram nas torcidas para criar conflitos e atribui-los a ação das organizadas. “A torcida organizada não é violenta, o problema está em pessoas que se infiltram nela, mas isso acontece em todo lugar, como tem juiz ruim, policial ruim, também temos maus torcedores dentro das torcidas”, diz Alberto Fernandes.
Diego Santana, que torce pelo
Sergipe, não concorda. “Sou a favor que continue existindo as organizadas,
entretanto devem existir várias mudanças”, defende. “Uma delas é o
cadastramento dos torcedores, que só entrariam nos estádios com a carteirinha, o
que facilitaria a identificação dos vândalos”. O problema, aponta Santana, “não
está na torcida em si, mas nas pessoas que se infiltram nas torcidas e não vão
apenas com o intuito de torcer”.
Vice-presidente da torcida do Sergipe |
O vice-presidente da Torcida Organizada Esquadrão Colorado também atribuí o problema da violência a pessoas que se infiltram nas torcidas para criar conflitos e atribui-los a ação das organizadas. “A torcida organizada não é violenta, o problema está em pessoas que se infiltram nela, mas isso acontece em todo lugar, como tem juiz ruim, policial ruim, também temos maus torcedores dentro das torcidas”, diz Alberto Fernandes.
Visando efetuar reformulações que
pudessem evitar e coibir a violência nas praças esportivas, algumas medidas já
foram tomadas no Estado. Ainda no ano de 2006, o Ministério Público do Estado
de Sergipe (MPE), através do promotor Deijaniro Jonas Filho, promoveu uma
reunião com a presença da Secretaria de Segurança Pública do Estado, Polícia
Militar, Corpo de Bombeiros, Secretaria de Esporte e Lazer e dirigentes de
clubes de futebol. No encontro, foram firmadas algumas medidas, uma delas foi
justamente o cadastramento de torcedores.
A realização do cadastramento é
vista por muitos como uma possível solução para violência, mas não foi interpretada
da mesma forma pelo Presidente da Frente Nacional dos Torcedores, João Hermínio.
“O cadastramento é uma palhaçada. Não serve para nada. Primeiro, o
cadastramento é inconstitucional. Eu não posso, por estar usando uma farda de
torcida organizada, ser obrigado a me cadastrar na polícia, enquanto o outro
torcedor comum não é. É extremamente discriminatório o cadastramento. É a
consagração da presunção de culpabilidade, quando no Brasil deve vigorar, segundo
a Constituição Federal, a presunção de inocência”.
João Hermínio ressalta ainda que
a violência entre torcidas organizadas deve ser tratada como algo demasiadamente
complexo. “A violência no futebol é um problema social de complexidade imensa,
e deve ser tratado como tal sem respostas imediatistas. É preciso ter um
trabalho de prevenção aos conflitos, um programa intenso de conscientização nas
torcidas organizadas. Falo de um programa forte, não de meras campanhas, mas,
sim um programa que trabalhe com a juventude frequentadora das organizadas”.
Outra medida tomada em Sergipe
para conter a violência foi a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC),
que proíbe as organizadas Torcida Esquadrão Colorado e Torcida Trovão Azul de
frequentarem os estádios Batistão e Presidente Médici com uniforme que os
identifique. A medida foi resultado dos muitos conflitos existentes entre essas
duas torcidas que são as maiores do Estado.
A ação também foi realizada pelo Promotor de
Justiça Deijaniro Jonas Filho. Ele diz ter tomado tal decisão após fazer um
diagnóstico da atuação dessas torcidas. ”Analisando essas torcidas, foi
possível notar algo interessante, pessoas que não se conheciam se tornavam
inimigas apenas pelo fato de estarem vestidos com camisas de torcidas rivais.
Assim, sem a utilização do fardamento se tornou mais difícil à identificação do
outro como oponente”, explica o promotor.
Ele ressalta ainda que essa
medida não proíbe ninguém de entrar nos estádios. A ação foi avaliada como benéfica pelo vice-presidente
da torcida organizada Esquadrão Colorado Alberto Fernandes. ”Depois que foi
proibido entrar com camisas da torcida, melhorou muito as brigas entre a gente
e a torcida rival nos dias de jogo”. Um levantamento realizado pela Polícia
Militar mostrou que houve uma redução de 80% nos números de violência entre as
torcidas após essa medida.
Além do fardamento, a utilização
de faixas, bandeiras e outros materiais que possam ocasionar o ferimento dos
presentes no estádio também foram vetados. Tais restrições não agradaram o presidente
da Frente Nacional dos Torcedores. “Tem sido comum membros de organizadas não
utilizarem suas fardas tradicionais e partirem para o conflito como torcedores
comuns. Não é a faixa, a bandeira, o bandeirão, que faz toda a festa ter briga.
Quem briga é quem, infelizmente, está para brigar”.
Tantos conflitos entre torcidas
organizadas acabaram tornando-as um sinônimo de violência. Mas, para o
presidente da Frente Nacional dos Torcedores, “torcida é a institucionalização
da expressão cultural torcedora. É alegria de quem já pisou numa arquibancada,
é a sensação maravilhosa de ver um bandeirão subindo. É a adrenalina de cantar
com força o jogo inteiro, é o frio na barriga antes dos clássicos e decisões.
Torcida é alegria, é festa, é vida. Torcer não é violência”.
Por: Emily Lima
Edição: Lenaldo Severiano e Thaís Guedes
Imagens e Vídeos: Lenaldo Severiano e Thaís Guedes
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