Usina nuclear divide opiniões no Fórum Pensar pela UFS

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O mundo está cada vez mais consumista e isso não há mais como negar. Florestas desmatadas, Gás natural, água potável e até mesmo o petróleo que é a principal fonte de energia consumida pela humanidade, estão dando seus sinais de que não poderão ser consumidos da mesma forma daqui a vinte ou trinta anos. Agora, o Brasil tenta investir em outra forma de energia até agora explorada com menos importância no território: a energia nuclear.

O acordo feito entre Brasil e Irã dá início a uma série de mudanças no território nacional, e a implantação de mais usinas nucleares já é certa. O programa nuclear brasileiro, inclusive, prevê a construção de uma usina na região nordeste do país, o que leva a um bom número de questionamentos. Acidentes como Chernobyl, deixaram suas marcas expostas para os perigos que um mal-sucedido projeto de usina nuclear podem trazer, ao mesmo tempo que um bem sucedido projeto como o do Vale do Tennessee (EUA), pode trazer importantes contribuições para o desenvolvimento da região.

Com o objetivo de discutir os males e benefícios da energia nuclear, a Universidade Federal de Sergipe comemorou seu 42º aniversário através do Fórum Pensar, um espaço de debates que traz especialistas de diversas áreas para discutir o tema em questão. O debate da última quarta-feira trouxe a questão da possível implantação de uma usina nuclear no estado de Sergipe. A mesa de debate foi composta pelo professor da UFPE Cláudio Ubiratan Gonçalves, o secretário de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (SEMARH) Genival Nunes, a professora e chefe do Departamento de Física Divanizia do Nascimento Souza, o engenheiro da Eletronuclear-RJ Dr. Dráuzio Atalla e o professor Ruy Belém de Araújo que administrou todas as fases do debate.

Posicionamentos

O debate marcado para às nove horas da manhã, iniciou com meia hora de atraso, com a palavra do vice-reitor Ângelo Roberto Antoniolli e logo em seguida os palestrantes subiram à mesa. Após o professor Ruy Belém apresentar a metodologia, foi a vez dos quatro participantes darem seu posicionamento dentro de dez minutos cada um. O Dr. Dráuzio Atalla foi o primeiro, e iniciou o debate através de uma mostra de slides no qual falou sobre o impacto econômico que a implantação de usinas nucleares podem causar. Ressaltou que elas trouxeram o desenvolvimento para áreas que antes viviam em estado de emergência (como o Vale do Tennessee) e que no mundo já existem 440 usinas funcionando normalmente.

Logo após, a professora Divanizia Souza falou sobre a importância da energia nuclear e sobre o grau de responsabilidade que o uso desta nova tecnologia traz para o governo. A professora reconheceu que atualmente todas as formas de energia exploradas estão lentamente se tornando escassas e que novas formas de se produzir energia devem ser testadas, mas com responsabilidade.

Falou sobre como o uso indevido da energia nuclear pode afetar a população de uma área sem infra-estrutura e citou o exemplo de um incidente que houve em Goiânia em 1987 no qual materiais radioativos foram deixados ao alcance de catadores de papel, e esses por desconhecerem o material, passaram-no adiante resultando na contaminação de 129 pessoas e na morte de quatro dessas. A professora também comentou à respeito de como o urânio obtido em Caetité (BA) é usado e o porque de ele não poder ser usado para a produção de uma bomba atômica.

Em seguida, foi a vez do secretário Genival Nunes se pronunciar. No entanto, o secretário desapontou quem esperava um posicionamento oficial do governo sobre a questão. Falou sobre o trabalho que a gestão atual têm feito em Sergipe, sobre sua trajetória como militante até o atual cargo que exerce. Informou que o governo promoverá outros debates como este no interior do estado. Chegou a falar sobre a questão do licenciamento para a possível implantação de uma usina nuclear, mas sem revelar maiores detalhes. Sua fala gerou certa insatisfação da platéia.

Para concluir os posicionamentos, o professor Ubiratan Gonçalves falou a respeito dos impactos éticos que a implantação da usina poderia trazer. Questionou inclusive sobre o que tal implantação poderia gerar de novo para as comunidades próximas e de que formas elas influenciariam na vida daquelas pessoas. Combateu o argumento sobre segurança ao dizer que “hoje é considerado algo seguro, mas Chernobyl também era considerada antes do acidente. Esses acidentes trazem um grande passo para a tecnologia, pois há uma maior preocupação em desenvolver a segurança das usinas, mas não quer dizer que não houve perdas. Chernobyl trouxe a tona a discussão sobre os perigos dessa forma de obtenção de energia e a tecnologia tornou ainda mais seguro o que já era considerado seguro. Mesmo assim não quer dizer que o acidente não aconteceu.” O professor foi aplaudido por quase três minutos após sua fala.

Perguntas do público e considerações finais

Depois de participantes falarem, foi a vez do público deixar dúvidas em pedaços de papéis. Terminada essa parte, foi a vez do público se pronunciar no palco e essa se tornou a fase mais agitada do Fórum, através da discussão entre o deputado estadual Wanderlê Correia (PMDB) e o funcionário da Eletronuclear-RJ Luis Siqueira. No entanto, os dois foram vistos conversando pacificamente ao término de evento. Outro momento desconcertante foi quando o estudante de física Patrick foi dar sua palavra e acabou vaiado por parte da platéia. Para finalizar, um aluno representante do Colégio de Aplicação da UFS fez uma pequena homenagem ao professor Ubiratan.

Chegando a fase final do Fórum, os representantes deram suas palavras finais à respeito dos discursos vindos da platéia, o debate como um todo e todos falaram da importância de trazer a tona esse tema antes de trazer uma forma de obtenção de energia ainda desconhecida.

Esse foi o segundo debate à discutir a questão da energia nuclear esse mês na UFS. Outro debate foi promovido pelo Centro Acadêmico de Física no último dia 12 e trouxe a professora Divanizia como uma das participantes.

Por Matheus Fortes

*Fonte da fotografia: Rádio Costa Azul FM (www.costazulfm.com.br).

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