Universitários sofrem com falta de aptidão para escrita acadêmica

sexta-feira, 23 de julho de 2010

De 2005 a 2007, o Brasil perdeu 12 posições no índice de educação feito pela Unesco, ficando em 88° lugar entre 128 países. O principal motivo foi a queda no índice de conclusão da educação básica: 24,4% das crianças não chegam até a quarta-série.

O relatório “Monitoramento de Educação para Todos 2010” ainda mostra que taxa de repetência escolar no país está alta, na ordem de 18,7%, quando a média verificada na América Latina e Caribe é de 4,4%.

Em um país com alta taxa de repetência escolar e baixo índice de conclusão da educação básica, a habilidade de leitura e escrita dos estudantes brasileiros é mais um aspecto da aprendizagem que acaba sendo prejudicado. Foi o que constatou a pesquisa intitulada “Não sei escrever: Habilidade da escrita acadêmica dos graduandos do campus universitário Prof. Alberto Carvalho/UFS”, orientada pela professora Raquel Meister Ko Freitag, especialista em Linguística do Núcleo de Letras da UFS.

O trabalho mostra que a deficiência na escrita se estende da educação básica para o ensino superior. Como a universidade oferece poucos meios para aperfeiçoar essa habilidade, já que pressupõe o conhecimento da língua mãe por parte dos aprovados do vestibular, o aluno encontra dificuldade para realizar as tarefas solicitadas, a exemplo de escrever um fichamento, uma resenha ou responder uma prova.

“Aplicamos um questionário de autoavalição em 45 alunos de vários cursos do campus de Itabaiana. Percebemos que o aluno encontra dificuldades para se expressar textualmente, falta domínio das normas gramaticais e ortográficas. Eles próprios reconhecem isso como algo prejudicial ao desenvolvimento das atividades acadêmicas. A análise das respostas indica a necessidade de incluir na grade curricular de todos os cursos uma disciplina voltada para o aprimoramento da escrita”, diz a professora Raquel Meister. A questão levantada é: a universidade estaria assumindo dessa forma uma responsabilidade da escola?

Alternativas

Anderson Góis, estudante do 2º período de Matemática, diz que recentemente passou a sentir dificuldades para atender às exigências da graduação. “Minha turma está achando complicado elaborar artigos. Acho que uma disciplina própria para escrever textos ajudaria a fazer os trabalhos que os professores pedem”.

A necessidade de produzir conhecimento acadêmico e prepará-lo para uma possível publicação dentro dos parâmetros exigidos pelos órgãos de pesquisa obriga os alunos a buscar formas de aprimorar sua escrita. Foi o que aconteceu com Rosenilde Alvez dos Santos, do 8º período de Pedagogia. “A disciplina de metodologia científica me ajudou na adaptação do texto do ensino médio para o da universidade. Entrar em um projeto de pesquisa ou participar de eventos pode ser uma boa forma de desenvolver a escrita”.

Jackeline de Carvalho Peixoto, 6º período de Letras, uma das estagiárias da linha de pesquisa adotada pela professora Raquel Meister, diz que é comum sentir o impacto da mudança da escola para a universidade e que até hoje ainda encara o texto acadêmico como um desafio. A formação básica não colaborou. “Na escola, produzíamos redação, mas não havia debates para melhor compreensão do assunto. Só no último ano do ensino médio é que começamos a desenvolver esse lado. Mesmo assim, muita gente não tinha estímulo para ler e praticar”.

“Os estudantes apresentam dificuldade em expressar suas ideias nos testes e relatórios. Também existe o problema de muitos não saberem interpretar o enunciado da avaliação”, diz o professor de Física José Gerivaldo dos Santos Duque. “Acredito que essa é uma falta que vem da base, de uma educação incompleta”.

Possíveis saídas

A linguista Raquel Meister expõe um quadro preocupante. “A sensação é de que a escola básica não ensina, os professores estão frustrados e despreparados para aplicar seus conhecimentos nas salas de aula. Mas, é preciso lembrar que esses professores foram formados nas universidades, e nós temos nossa parcela de culpa. Os dois lados são responsáveis pelo que se verifica hoje na capacidade de expressão linguística dos estudantes. Adicionar uma disciplina de aprimoramento dessa habilidade seria uma medida paliativa. A solução definitiva é colocar bons professores nas escolas para romper com esse ciclo”, enfatiza ela.

Em maio deste ano, teve início um projeto que leva os graduandos de licenciatura de Itabaiana às escolas. Segundo a pesquisadora “a idéia é fazer um diagnóstico da escola selecionada para depois aplicar ações específicas de acordo com os problemas encontrados. Queremos incentivar o estudante a permanecer na escola depois da graduação, e prepará-los para lidar com a realidade da sala de aula”.

A linha de pesquisa da professora engloba ainda ações de aprimoramento da escrita na comunidade acadêmica, através de oficinas e minicursos ligados ao tema. “O domínio da norma culta da língua confere poder, pois é uma ferramenta importante no exercício da cidadania”, diz. O trabalho do grupo de Letras também inclui a produção de uma revista de divulgação científica denominada “Feira de Ciência e Cultura”.

Por Juacy Junior

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