A equoterapia é definida, segundo a Associação Nacional de Equoterapia (Ande- Brasil), como um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e/ou com necessidades especiais.
Este método, já aconselhado pelo grego Hipócrates (458 a 377 a.C.) no seu livro terapêutico Das Dietas, emprega o cavalo como instrumento de ajuda para o desenvolvimento da força, tônus muscular, flexibilidade, relaxamento, conscientização do próprio corpo e aperfeiçoamento da coordenação motora e do equilíbrio.
Desde o dia 09 de abril de 1997, o Conselho Federal de Medicina (CFM) aprovou o Parecer 06/97 que permitia a introdução da equoterapia como um método a ser incorporado ao arsenal de métodos e técnicas direcionadas aos programas de reabilitação de pessoas com necessidades especiais.
No entanto, o Parecer exigia que este método ainda vigorasse como uma técnica alternativa passiva de testes e pesquisas científicas que comprovassem sua eficácia. Depois de 13 anos de estudos e comprovações científicas, hoje a equoterapia é devidamente validada como um método que favorece a alfabetização e desenvolvimento global de portadores com necessidades especiais. Os resultados das pesquisas e projetos científicos para comprovar a validade destes testes estão registrados no site da Ande.
A prática da equoterapia é indicada para pessoas com deficiências físicas, mentais e/ou com necessidades especiais. A Ande aponta alguns tipos de quadros clínicos recomendáveis para a utilização deste método: doenças genéticas, neurológicas, ortopédicas, musculares e clínico metabólicas; seqüelas de traumas e cirurgias; doenças mentais, distúrbios psicológicos e comportamentais; distúrbios de aprendizagem e linguagem; além de outros casos similares dos citados anteriormente.
Segundo a Ande, algumas medidas fundamentais são exigidas para a atividade equoterápica. Dentre elas as que se destacam são: as sessões de equoterapia devem ocorrer em grupos (embora o acompanhamento seja individual para cada paciente); profissionais de várias áreas (saúde, educação, equitação) devem estar presentes na sessão e acompanhar de perto os pacientes; o atendimento equoterápico só pode ser iniciado após um parecer favorável de avaliação médica, psicológica e fisioterápica; além dos centros de equoterapia possuírem um componente filantrópico para atingirem grupos sociais menos favorecidos e não se constituírem como uma atividade elitizada.
Os princípios equoterápicos em Sergipe
No nosso estado, pessoas com deficiências ou necessidades especiais podem beneficiar-se dos métodos equoterápicos, através do Centro de Reabilitação mantido pela Associação Sergipana de Equoterapia (ASE). O centro foi fundado em 10 de outubro de 1992, resultado da determinação da arte-terapeuta Arlita de Oliveira, diretora da ASE, e do Comandante Meira. Segundo ela, a grande motivação para conhecer mais informações sobre a equoterapia e seus benefícios deve-se, em especial, pela questão de possuir um filho portador de necessidades especiais. Além do fato, dela participar em Brasília de um seminário sobre o tema e regressar da viagem cheia de planos.
“O avião não cabia de tanta idéia! Eu sabia que eu não poderia realizar tudo o que eu conheci, mas tentaria adaptar para a minha realidade”, explica. Na época, o comandante Meira fazia um curso de montaria no Rio de Janeiro e passou a oferecê-lo na cavalaria do exército. Os dois se conheceram ocasionalmente e, com o apoio de duas colegas de Arlita, juntaram esforços para fundar o Centro de Equoterapia na capital sergipana.
Depois de um ano operando na cavalaria, a atividade teve que ser registrada e passou, então, de Centro à Associação Sergipana de Equoterapia (ASE). De acordo com a assistente social, Yere Cristina, a atual sede e os equipamentos da associação foram frutos de doações. “Tudo isso aqui foi doado! Os cavalos foram doados, os móveis foram doados, as cadeiras também. Tudo doado por pais e pessoas que vêm nos visitar!”, explica. Yere faz parte da ASE há 15 anos e tem muitas histórias a compartilhar, dentre elas, o caso que mais lhe chamou a atenção foi o de uma criança de três anos de idade. “Ela chegou aqui bem pequenininha e não conseguia caminhar. Depois de três meses de equoterapia, já víamos ela correndo pelos corredores do instituto”, afirma.
Com bem menos tempo de serviço, mas com motivação equivalente, a psicóloga Ytana Pereira explica que a equipe de profissionais da ASE trabalha em âmbito multidisciplinar, adequando a habilidade de cada um à prática da equoterapia. Ytana enfatiza que “na pista a gente não é psicólogo, nem pedagogo ou assistente social, lá a gente é equoterapeuta”. Todos eles possuem cursos de especialização equoterápica. A psicóloga afirma ainda que “é condição sine qua non aos profissionais daqui, a prática da montaria”, explica.
O grupo de profissionais da ASE é formado por uma equipe multidisciplinar composta de psicólogos, fisioterapeutas, arte-educadores, pedagogos, assistentes sociais e equitadores. Todo o tratamento realizado no Centro é baseado no que prescreve a Ande, conforme explica a psicóloga Ytana. “A gente segue os fundamentos da Ande Brasil, mas algumas coisas a gente vai adaptando à realidade daqui”, enfatiza.
A ASE atende hoje cerca de 100 pessoas. E é o único lugar do estado a aplicar esse tipo de terapia e abriga pessoas de várias cidades do estado, como Monte Alegre, Itaporanga D’ajuda, São Cristóvão, Capela, Muribeca, Maruim, Ilha das Flores e Nossa Senhora do Socorro. A faixa etária do público é variada, a maior parte composta por crianças e adolescentes, dos 04 aos 12 anos de idade.
Não há idade mínima ou máxima para participar das atividades, conforme explica a assistente social Yere (foto ao lado). “Apesar de não haver faixa etária específica para o atendimento da ASE, nós damos prioridade aos menores, mas não deixamos de acolher os mais velhos”. O paciente, antes de entrar na instituição, é submetido a uma série de exames, para que os profissionais possam conhecer o quadro clínico e tratar cada um de acordo com as suas especificidades.
As dificuldades do Centro
O centro funciona através de convênios com diversas entidades, porém a Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania (Semasc) é o principal órgão responsável pela transmissão de fundos para a parte financeira da instituição. No entanto, os funcionários se queixam que a secretaria reduziu em 50% o valor do repasse de verbas para o local, dificultando a manutenção do quadro de funcionários e da alimentação mais os cuidados necessários aos cavalos existentes na associação.
A diretora da ASE explica que mesmo apresentando inúmeras dificuldades nos anos iniciais de funcionamento do Centro, a situação financeira da instituição está muito mais complicada agora. “Está muito difícil de sobreviver. Não é nem a questão de se manter, é sobreviver mesmo com um orçamento limitado!”, confessa Arlinda. Os pais dos pacientes em tratamento passaram a contribuir com uma taxa mensal, como forma de cobrir o rombo deixado com a redução dos recursos.
A despeito dos problemas, a equipe que integra a ASE demonstra grande satisfação na realização das suas atividades. Para a assistente social, Yere Cristina, “a motivação de continuar a trabalhar no instituto é ver a criança mudando a cada dia que chega aqui, perceber o sorriso dela e ajudar às famílias a mudarem as suas vidas”. Nesse mesmo sentido, a diretora Arlita declara: “a gente segue aquela coisa de coração de mãe, que diz que tudo dá”.
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Equoterapia: Um viés de esperança
Bota, cap e muita disposição. Eis o kit básico que a jovem Thaís Jussara (foto ao lado) carrega consigo nos dias de Equoterapia. Assídua freqüentadora do Centro de Equoterapia do Parque da Cidade, a jovem de 18 anos não contém a alegria de estar mais uma vez na companhia da equipe do Centro e, claro, dos cavalos.
Para os praticantes da Equoterapia, os cavalos são mais do que aliados no combate à deficiência, são companheiros, amigos daqueles que, literalmente, fazem bem para o corpo e para alma. Os resultados positivos dessa relação de cumplicidade aparecem juntamente com o sorriso que Thaís traz ao rosto quando se menciona o nome de Bob, cavalo que elegeu como o seu preferido. Atenta a tudo que acontece a sua volta, a jovem se manifesta com um “Eu gosto” quando nos referimos à Equoterapia.
Há quatro anos, Thaís convive com a encefalopatia, uma alteração patológica que se manifesta no portador através de inflamações no encéfalo. Desde então, a jovem faz uma série de tratamentos e, por indicação de uma fisioterapeuta, passou a freqüentar o Centro de Equoterapia.
Para Maria Cleisiane, prima de Thaís, as melhorias trazidas pelo tratamento com os cavalos são notáveis. “Antes ela não se equilibrava e agora ela já fica com o tronco em pé”, revela Maria que há um ano acompanha Thaís nas sessões de Equoterapia. A psicóloga Ytana Pereira explica que o quadro de Thaís é reversível e com firmeza conclui: “Ela vai voltar ao normal”.
Galeria de Fotos com imagens do local
Vídeo sobre os benefícios da equoterapia - originalmente postado no site videolog uol
* Todas as fotos foram tiradas com a permissão dos membros da Associação
Por Andreza Lisboa, Bianca Silveira, Carlos Eduardo Barreto, Pedro Ivo Marques, Thayza Darlen
Fotos : Thayza Darlen
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