“Pobres ervinhas brotarão viçosas, E o esquecimento brotará também”. Sem saber, Tobias Barreto de Menezes, escrevia aí, em seu poema intitulado Pressentimento, a representação de que o futuro traria reflexões sobre o que foi a sua vida, a sua obra e os anos que sucederam a sua morte. O eu lírico, ainda que timidamente, acredita que seus “frutos” germinarão, mas tomado por um pessimismo,crê que algo os sufocará.
Poeta, crítico, jurista, filósofo, criador do condoreirismo e patrono da cadeira 38 da Academia Brasileira de Letras. A sua importância para a história da literatura brasileira e principalmente local é inegável, mas teve grande parte dos seus escritos, principalmente os poéticos, depreciados pela crítica e seu nome deixado de lado em detrimento de outros escritores da mesma época, como Castro Alves.
Em 7 de junho de 1836, em Vila de Campos do Rio Real, atualmente conhecida como Tobias Barreto, nome que é também atribuído a uma praça da capital sergipana em sua homenagem, nascia o filho de Pedro Barreto de Menezes e Emerenciana de Menezes. Estudou latim, foi cantor e flautista da atual Filarmônica Nossa Senhora da Conceição e no início da maturidade seguiu para a Bahia com a pretensão de freqüentar um seminário, desistindo por falta de vocação. Retornou a Sergipe e logo depois partiu para Pernambuco, onde matriculou-se na Faculdade de Direito do Recife, chamada carinhosamente de “A Casa de Tobias”. Antes e durante o curso, lecionou aulas particulares de diversas matérias para sobreviver.
Mestiço e vivendo em uma época e sociedade marcadas pelo preconceito racial, teve sua vida amorosa prejudicada. Ainda assim, casou-se antes mesmo de concluir o curso de direito com a filha de um coronel rico do interior, proprietário de engenhos no município de Escada, onde viveu por cerca de 10 anos.
Em seu tempo livre, se dedicava à leitura de autores evolucionistas, sobretudo os alemães, língua com a qual desenvolveu uma forte relação. Hermes Lima, autor de obra biográfica sobre Tobias, conta que ele "para irritar o burguês, com uma nota mais ostensiva de superioridade, abria freqüentemente seu luminoso leque de pavão: o germanismo". Ainda em Escada, Pernambuco, redigiu o periódico bilíngüe Deutscher Kampfer"(O lutador alemão), que teve pouco alcance e uma breve duração. Um pouco mais tarde publicaria os “Estudos Alemães” (no qual difundia idéias germânicas), mas foi duramente criticado, pois segundo alguns, não passavam de paráfrases de autores alemães.
Com a morte do sogro e devido às disputas pela herança, Tobias voltou para Recife e começou a lecionar na Faculdade de Direito. É nesse momento de sua história que participou e liderou o movimento da Escola do Recife (importante movimento cultural que surge na Faculdade de Direito em 1860 e que contribuiu para a produção intelectual brasileira).
O ícone sergipano passeou por ensaios, críticas, pelo âmbito jurídico e filosófico. Sua poesia se aproximava do simbolismo de Cruz e Souza. Criticou a escravidão e o regime monárquico, por vezes questionou os dogmas religiosos, foi cético, outras sensível, lírico e menos contestador. Seu único livro de poesia “Dias e Noites”, revela uma pluralidade de temas e estilos muitas vezes controversos entre si. Boa parte dos críticos considera Tobias Barreto um grande pensador, filósofo, revolucionário, mas não um poeta.
O crítico Afrânio Coutinho afirma que sua produção lírica descai para o mau gosto e para a banalidade, “Dias e Noites (1881) nada vale. Ninguém se lembraria de Tobias Barreto, se dependesse dessa obra”. Ele ainda afirma que alguns de seus textos nada mais eram que plágio das poesias de Casimiro de Abreu.
Próximo aos 50 anos, o escritor adoece, sem nenhum dinheiro e já desesperado, envia uma carta a seu antigo colega de faculdade Silvio Romero e diz que está à beira da morte, pedindo algum dinheiro. Sete dias depois vem a falecer na casa de um amigo onde estava hospedado. O seguinte relato foi feito por Graça Aranha sobre a presença de Tobias diante da banca examinadora para o ingresso na Faculdade de Direito: “Tobias, mulato desengonçado, entrava sob o delírio das ovações. Era feio, desgracioso, transformava-se, na argüição e nos debates de concurso. Os seus olhos flamejavam, da sua boca, escancarada, roxa, imóvel, saía uma voz maravilhosa, de múltiplos timbres, sua gesticulação transbordante, porém sempre expressiva e completando o pensamento. O que ele dizia era novo, profundo, sugestivo”. Em 26 de junho, completou-se 121 anos de sua morte.
por Layanna Machado
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