Sistema público de reabilitação de usuários de droga

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Entender o sistema público de saúde brasileiro, especificamente no que diz respeito à reabilitação de usuários de drogas, é resgatar de onde vem a concepção de saúde trabalhada. A Organização Mundial da Saúde (OMS) é uma agência oficial das Organizações das Nações Unidas (ONU), é a partir dela que uma série de diretrizes a cerca da saúde são encaminhadas para os países membros.

O Brasil, como um desses membros, se apropria e segue as concepções adotadas pela OMS, deliberadas, em território nacional, pelo Ministério da Saúde. Os municípios brasileiros não são obrigados a segui-las, no entanto, o município de Aracaju as segue.

De acordo com essas diretrizes não existe tempo específico para o processo de desintoxicação dos usuários de drogas, com um tempo médio entre dois a cinco dias. Essa etapa, de desintoxicação, compreende o processo de reabilitação de usuários de drogas. Segundo informações de Wagner Mendonça, Apoiador Institucional do Centro de Apoio Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS) infantil, a desintoxicação é um quadro orgânico.

Wagner explica que o corpo de uma pessoa que usa drogas de maneira abusiva exige, gradativamente, maior quantidade da droga para conseguir o mesmo efeito inicial, já que ele se adapta aos efeitos.

“Quando a pessoa não usa a droga, o organismo apresenta um quadro de sinais e sintomas, que são pela ausência da droga, bastando a pessoa voltar a usar para não apresentar os sintomas. Esse quadro é o de dependência,onde a pessoa precisa da droga. O sujeito que é usuário crônico e tenta parar sozinha pode vir a óbito. Se ele for diminuindo aos poucos ou tiver suporte médico provavelmente ele não virá. Essa é uma coisa que precisamos ter em mente”, explica o representante do CAPS.

O quadro de desintoxicação se configura, por tanto, na retirada da droga do usuário, no conseqüente internamento do paciente, substituindo a droga por um medicamento psicotrópico – que alteram o funcionamento do sistema nervoso central (medicações psiquiátricas, café, cocaína, etc). É provável que após o internamento, o usuário em tratamento precise continuar tomando o remédio.

“Porém não existe quadro de desintoxicação que vá durar um mês, porque nesse período não há mais vestígio da droga no organismo da pessoa. O que pode acontecer é determinada parte do organismo da pessoa estar comprometida devido ao uso da droga, no caso do álcool, o fígado, e do crack, o pulmão”, esclarece Wagner.

A droga não se limita à alteração do corpo físico, mas também do psicológico – que trabalham em consonância. São os motivos psicológicos, diretamente influenciados pela condição social-cultural-econômica do indivíduo, que estimulam o uso da droga. Ainda segundo Wagner Mendonça, 92% das pessoas que passam por clínicas de reabilitação, fazendas religiosas, ou outros locais com mesma finalidade, voltam a usar drogas de maneira abusiva em até seis meses.

A conclusão possível de se chegar após tal afirmação, é que a reabilitação não se limite à assistência clínica, de desintoxicação, mas que haja todo um aparato de assistência pública social e psicológica que inclua esses indivíduos socialmente, seja em seus núcleos familiar, seja em sua comunidade de origem, seja na sociedade como um todo. Os dois CAPS voltados a reabilitação de usuários de drogas em Aracaju travam seu trabalho junto a vários profissionais, psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, oficineiros, etc. Em contra partida, Wagner reconhece a carência de assistência para que esses usuários “não escapem entre os fios dessa rede”.

Uso e abuso, o direito à escolha.

Do ponto de vista daqueles que mantêm a saúde pública, o ideal seria que as pessoas não usassem drogas, devido aos investimentos necessários para a manutenção do sistema. Como isso é impossível, o aconselhável são determinadas precauções por parte do usuário, como não dirigir ao escolher beber, por exemplo.

Existem algumas diferenças entre aqueles que usam drogas. Há aquelas pessoas que usam drogas quando querem, no final de semana com os amigos, é o que chamam os especialistas da área de uso recreativo. As pessoas que se utilizam da droga dessa forma não tem problemas com ela.

Mas há aqueles que abusam da droga, e isso ocorre quando as pessoas perdem sua capacidade de escolha, de autonomia. Wagner Mendonça acredita que se o foco da pessoa, ou da família do paciente, em muitos casos, for parar definitivamente é complicado.

O tratamento consiste em conhecer o paciente, onde o paciente está inserido, o que ele gosta de fazer, em quais momentos o abuso da droga atrapalha o desenvolvimento de uma atividade. “Então você vai lidar com um adolescente que está usando droga de maneira abusiva e fala para esse adolescente não usá-la, ele não vai fazer isso. Mas aí a gente descobre que ele gosta de futebol, e descobrimos também que ele não tem um rendimento tão bom por causa do abuso das drogas.Ele escolhe provavelmente diminuir para ter um melhor rendimento no esporte”, disse o representante do CAPS.

Por Talita Morais
imagem: Talita M./Contexto Online

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