A ação solidária de Almir do Picolé

domingo, 1 de agosto de 2010

O lado desconhecido do homem que há 20 anos protagoniza uma história de muita solidariedade.

Quem para nos semáforos das ruas e avenidas de Aracaju na maioria das vezes se depara com pedintes, vendedores, panfletários entre outras situações corriqueiras de qualquer capital brasileira. Entre as várias abordagens nos sinais, surpreende a de um homem de óculos, de aparência simples, portando uma prancheta e alguns panfletos explicativos. Conhecido por ter sido vendedor de picolés, Almir Almeida Paixão, o Almir do Picolé, se tornou popular em toda a cidade, não por carregar um isopor a tiracolo, mas sim por arrecadar pessoalmente os donativos necessários para o funcionamento de sua creche, que hoje acolhe 82 crianças no bairro Piabeta.

Nascido em 29 de outubro de 1969, em Aracaju, o Tio Almir, como é chamado pelas crianças da Sociedade Creche Ação Solidária Almir do Picolé, teve uma infância bastante difícil. Aos quatro anos, abandonado pelos pais, teve que viver nas ruas, no medo, no frio e driblando a fome. Com aproximadamente 13 anos conheceu o Sr. José Bispo da Hora, um padeiro do povoado Os Treze, do município de Lagarto, a 75 km da Capital. Seu Bispo conta que o acolheu e o criou como filho. “Ele chegou na minha padaria apenas com a roupa do couro pedindo ajuda, pois comia apenas pão seco. Mesmo não sabendo quem eram seus pais, recebi Almir como se fosse meu próprio filho”, relata.

Almir morou mais de 10 anos com seu pai Bispo. Durante toda a sua adolescência ajudava na padaria, sempre prestativo e muito trabalhador. Sua irmã por consideração Ilmara Cristina afirma que como qualquer adolescente, Almir também teve seus momentos de rebeldia. “As vezes dava ‘raiva’ porque o pouco que ele tinha sempre dava aos outros, sempre foi assim bondoso, sempre gostou de fazer caridade. Uma pessoa de confiança, honesto não era de arrumar confusão com ninguém”, se emociona Ilmara.

Aos 22 anos Almir saiu do Os Treze e foi morar na Vila da Miséria no bairro Siqueira Campos. Lá Almir daria início a um sonho. Começou a vender picolés nas ruas da Capital, e com o pouco que ganhava conseguia alegrar crianças distribuindo presentes e comida no dia das Crianças e no Natal. Mesmo com um passado repleto de obstáculos e com muita dificuldade Almir acreditava que podia fazer a diferença, que podia mudar pelo menos um pouco o dia a dia da vida de crianças carentes. E isso aconteceu de uma forma muito mais exultante.

Ao ser apresentado em uma matéria em um programa de TV da Rede Globo o sonho de Almir ganharia uma grande repercussão nacional. Comovido por sua história de vida, o empresário Yedo Santos resolveu doar a Almir do Picolé um terreno no bairro Piabeta, na grande Aracaju. Nesse terreno, com doações e o apoio de toda a sociedade sergipana, Almir conseguiu inaugurar sua creche em 15 de fevereiro de 2003. A concretização de um sonho apenas começava.

Com uma pequena equipe de apenas 12 pessoas, Almir dirige a creche com a ajuda de sua ex-esposa Jacirene, hoje seu braço direito e mãe de seus dois filhos. Sem nenhum tipo de apoio governamental, a instituição oferece alimentação, higienização, alfabetização e lazer a 82 crianças com faixa etária de 0 a 6 anos. Além da disciplina dos funcionários, a creche ainda conta com a dedicação e a ajuda de voluntários da região. “O trabalho realizado por Almir é um exemplo a ser seguido por muitas pessoas”, afirma a educadora Cleiciane de Matos. Clauzenilda Alves, funcionária há 5 anos, descreve que quando Almir chega é uma festa, as crianças se divertem com sua presença.

A Sociedade Creche Ação Solidária Almir do Picolé sobrevive de doações de pessoas, de empresas e de vários eventos solidários. O pai adotivo de Almir confessa que “o trabalho que o Almir faz não é qualquer ser humano que faz. O que ele faz é um dom de Deus”. E mesmo diante de tantas dificuldades Almir ainda consegue reunir forças para ir aos semáforos a procura de ajuda de pessoas, que como ele, sonham com um mundo melhor.

Almir do Picolé esclarece que não aceita que ninguém vá aos semáforos pedir donativos no nome dele e alerta: “Nunca pedi para fazer isso e não aceito de jeito nenhum que façam usando meu nome”, elucida. Quando perguntado a Almir do Picolé quem seria seu exemplo de vida, ele afirma que como ele dona Etani Souza, de São Cristovão, que há pouco tempo também apareceu em um programa da Rede Globo, mãe de 52 filhos sendo 5 biológicos e 47 adotivos, é um dos grandes exemplos de esperança, de solidariedade e de amor ao próximo que ele já conheceu.

Almir Almeida Paixão, pessoa de aparência simples e humilde se torna um sergipano guerreiro e solidário na luta diária para manter e ampliar cada vez mais o seu trabalho social.



Por Adriana da Rosa, Bárbara K., Gustavo Costa, Marta Olívia e Samara Menezes.

fotos: 1 e 2 Infonet; Adriana da Rosa e Samara Menezes (Contexto Online)

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