Com bullyng não se brinca

domingo, 14 de novembro de 2010


Repórter: Maria Luiza
Arte: Monique Garcez
Editora: Monique Garcez


Crianças podem sofrer bullying tanto nas escolas,
quanto em qualquer outro lugar


Bullying é um dos assuntos mais populares hoje em dia. Mas o que é isso? Bullying é o ato de agredir, insultar ou ignorar um indivíduo por motivos de rejeição, e é muito mais comum do que se pensa. Escolas, condomínios e qualquer outro tipo de local que comporte grupos de pessoas, podem se caracterizar como um habitat para vítimas e agressores ‘bulinísticos’. As crianças e pré-adolescentes, que, muitas vezes ainda não ‘se definiram’ sexualmente, por exemplo, sofrem com estas agressões por apresentar características atreladas ao homossexualismo. Assumindo ou não assumindo a opção sexual, estas crianças acabam sofrendo na pele o que é viver a guisa do preconceito.

Apesar de o assunto estar ganhando proporções mundiais nesses últimos tempos, o bullying sempre existiu, porém quase nunca recebia o destaque que merecia. “Desde que a escola é escola, existe bullying”, afirma Cássia Menezes, coordenadora do Ensino Fundamental de uma escola da rede particular de Aracaju. E a coordenadora está correta. Há anos que crianças e adolescentes sofrem com esta realidade, no entanto, por não revelarem a alguém, ou por ignorância dos pais, que até mesmo já chegaram a achar que tal prática era normal, o assunto não vem à tona.


Muitos estudantes do Ensino Fundamental já
sofreram, ou aindam sofrem com esse problema

Para se ter uma noção, uma pesquisa realizada pelo IBOPE revelou que 45% dos estudantes do Ensino Fundamental, época em que a ação parece ser mais fervorosa, já sofreu ou foi um agressor. As vítimas têm um perfil de timidez, são tanto meninas como meninos na faixa dos 11 anos de idade, e possuem alguma característica marcante – física ou comportamental –, como por exemplo: baixa ou alta estatura, obesidade, trejeitos que indiquem um posicionamento homossexual, etc. As vítimas também não costumam reagir à provocação. Já os agressores têm uma média mais elevada de idade: entre 13 e 14 anos. Além disso, estes costumam ter características de mandões, líderes de grupo e são, em sua maioria, meninos.

Tais agressores “mandões” se tornam pedra no sapato de muitos estudantes, especialmente, os que são caracterizados como gays. Segundo Cássia Menezes, muitas vezes o garoto ou garota, vítima dos insultos, nem ao menos tem noção se é homossexual ou não. Por se tratar de uma faixa etária de descobrimento, as crianças e os pré-adolescentes, na maioria das situações, não desenvolveram o gosto sexual propriamente dito e, se desenvolveram, ainda não têm certeza disso. Ou seja, às vezes, pode ser só mais um menino com gosto diferenciado para música, roupas, ou que gosta mais de ter amigas mulheres do que amigos homens.


"O engraçado é que estes meninos que se dizem machões ou
valentões tiram muita nota baixa e têm outros problemas”
 É o caso de Érico Farias, estudante do oitavo ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede particular de ensino em Sergipe. “Eu ouço brincadeiras desde à quarta série do Ensino Infantil”, revela Érico. “Fazem vozes finas para imitar uma menina falando e debocham de mim dessa maneira”, completa. Érico, assim como muitos, sofre, principalmente, com os ‘valentões’ da escola. “O engraçado é que estes meninos que se dizem machões ou valentões tiram muita nota baixa e têm outros problemas”, conta o garoto.

E Érico tem certa razão. Engana-se quem pensa que os agressores são apenas causadores do caos. “Geralmente, os meninos que agridem também têm problemas em casa”, explica Cássia. A reação em cadeia também é costumeira. “Ainda têm aqueles meninos que por terem sido agredidos quando eram menores, agora pensam: ‘Ah, tenho que fazer isso com outros para compensar’”, complementa a coordenadora. Além disso, segundo a pesquisa do IBOPE, os estudantes que costumam agredir, também costumam ser mimados pelos pais em casa.

Dados à parte, as vítimas são as que mais sofrem com isso. A coordenadora do colégio de Érico afirma que a ausência dos pais e a falta do diálogo em casa é um dos grandes problemas que, inclusive, chegou a tornar o garoto agressivo. “Ele não tem abertura em casa e os pais são seguidores daquela lei ‘Meu filho é macho’, então, ficou difícil para ele desabafar”, conta a coordenadora. “Daí então, ele começou a responder às provocações agressivamente, até mesmo para esconder a própria fragilidade e expor a fragilidade do outro”, acrescenta.

As estatísticas são preocupantes e os fatos em si, também. Fica ainda mais difícil tentar alguma solução, principalmente quando a família não quer se envolver no problema, ou finge não ver. O Nordeste, infelizmente, ainda carrega o posto de ‘local de macho’ e isso só complica mais ainda a situação. A aceitação parece ser o primeiro passo para a resolução. “O diálogo tem que ser estimulado”, enfatiza Cássia. “Desde os professores aos pais, todos têm que estar envolvidos”, complementa.


As vezes as agressões acontecem, mas
os que estão a volta, fingem não ver





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