Mudanças no processo seletivo da UFS preocupam estudantes da rede particular

domingo, 14 de novembro de 2010


Reportagem e fotos: Anne Samara Torres
Editor: Lucas Peixoto

Desde 2009, a Universidade Federal de Sergipe (UFS) vem implantando modificações em seu sistema de vestibular. Exemplo disso é a política de cotas, aprovada em 2008 e implantada em 2010, e a decisão pela gradativa extinção do Processo Seletivo Seriado (PSS). No entanto, a adoção dessas medidas divide opiniões no meio acadêmico acerca da funcionalidade de tais transformações e de suas conseqüências tanto para os estudantes do ensino médio como para a própria universidade.  

O sistema de cotas determina que 50% das vagas na universidade sejam destinadas a estudantes de escolas públicas e que 70% destas sejam reservadas para aqueles que se declararem pardos, índios ou afro-brasileiros. Esse sistema faz parte da política de “Ações Afirmativas” que, segundo conceito do extinto Grupo de Trabalho Interdisciplinar (GTI) criado no governo de Fernando Henrique Cardoso, visa minimizar as desigualdades acumuladas historicamente e garantir a igualdade de oportunidades e de tratamento para os diferentes grupos sociais, raciais, étnicos e de outros gêneros.  Porém, muitos estudantes se posicionam contra o sistema de cotas afirmando que sua simples adoção não vai resolver séculos de discriminação social e racial.  


     Coordenadora do Colégio Estadual Barão de
Mauá, Marta Eloísa Rezende
Já outros acreditam que esse sistema estimula o estudante da rede pública a levar mais a sério o vestibular e a ter a coragem de se inscrever para os processos seletivos. “Antes, muitos alunos da rede pública concluíam o Ensino Médio visando somente um emprego, sem uma visão de futuro com o nível superior. Agora, com o sistema de cotas, a gente está percebendo o interesse deles em concorrer a uma vaga nas universidades. Eles estão vendo exemplos de ex-alunos aprovados em cursos muito concorridos, como foi Vinícius Rafael, um de nossos alunos a ser o primeiro a passar em Medicina na UFS em 1º lugar pelo sistema de cotas”, diz orgulhosa a coordenadora do Colégio Estadual Barão de Mauá, Marta Eloísa Rezende. E ela continua: “as cotas possibilitaram ao aluno disputar em nível de igualdade com os estudantes da mesma rede, pois os separam da concorrência dos alunos do ensino particular que são mais preparados”.

   Estudante do 3º ano, Jaqueline Mendonça, diz
que não é fácil concorrer com alguém da rede particular.



Mas é preciso lembrar também que não há apenas concorrência entre alunos do ensino público e estudantes do ensino particular. Muitos destes últimos, embora concordem com a existência de cotas, se sentem os mais prejudicados com elas, pois afirmam que já há uma concorrência muito forte entre os próprios estudantes da rede particular. “Por um lado, eu acho certo ter cotas, mas por outro prejudica um pouco a gente, porque mesmo eu sendo de escola particular, não é a mesma coisa que concorrer com alguém do Master, que faz cursos por fora, que estuda manhã, tarde e noite. O que deveria era aumentar o número de vagas, mas isso não aconteceu, apenas dividiu, então diminuíram as vagas pra gente”, lamenta a estudante do 3º ano do Colégio San Rafael Jaqueline Mendonça.



No que se refere ao fim do PSS, os alunos da rede pública de ensino parecem não ter sofrido o mesmo impacto que os da rede particular. A coordenadora Marta Eloísa Rezende relata que a maioria desses estudantes faz o vestibular geral e que o número daqueles que se inscrevem no PSS é mínimo, seja por imaturidade ou mesmo pela impossibilidade de pagar as taxas de inscrição a cada ano.

Por conseqüência, a decisão tomada pelo Conselho do Ensino, Pesquisa e Extensão da UFS (Conepe), que definiu o fim gradativo do PSS a partir desse ano, deixando de fora todos os estudantes do 1º ano e que foi anunciada tardiamente, surpreendeu ainda mais os diretores de escolas particulares. “A gente estudou todo o primeiro semestre voltado para as questões do vestibular. A notícia do fim do PSS foi uma surpresa. Muita gente agora vai estudar só pra passar no colégio nos dois primeiros anos e no terceiro ano é que vamos ter que fazer um resumo de tudo q a gente viu no ensino médio. Assim vai ficar mais complicado porque vamos acumular muito conteúdo”, diz o estudante do 1º ano Manoel Henrique Dantas.

 
O coordenador do Concurso Vestibular (CCV), professor Manoel Leite, explica que a opção da universidade pelo fim do PSS foi justamente para incluí-la nos processos de adoção do Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM), o que já é uma tendência nacional entre as universidades. Ele diz que a UFS tem até 2013, quando já não haverá mais o PSS, para decidir como participará do exame: na totalidade ou parte delas, ou em alguns cursos.

De certa forma, o professor Manoel Leite concorda que o fim do PSS prejudica os estudantes. “Com o encerramento do seriado eu acho que a gente perde um pouco a qualidade do aluno que estava ingressando na universidade – essa é uma avaliação minha. Com o seriado a gente garantia um ensino médio de três anos. Com o fim dele muitas escolas vão transformar o 3º ano do ensino médio em um pré-vestibular, dando todo o assunto do terceiro ano num curto espaço de tempo e fazendo uma revisão dos dois primeiros anos. O conteúdo da 3ª série é necessário o ano inteiro e ele (o aluno) não terá isso ao estudar para o vestibular geral. Isso é um prejuízo enorme”, comenta.

Os 50% de vagas para as cotas e o fim do PSS parecem prejudicar unicamente os estudantes da rede particular. No entanto, quando se refere à educação pública, essa não é a melhor maneira de se pensar essas questões. O que resta agora é a adaptação dos estudantes a esse novo formato de avaliação que lhes dá a oportunidade de ingressar no ensino superior em várias partes do país.

Um comentário:

TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO , FUNDAMENTOS DE REDE . disse...

Eu acho de suma importância as cotas pôs sou aluno da UFS e vim de escola pública se muito pouco pode ser feito para acabar com as disparidades então que seja feito alguma coisa.

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