O Pré Caju é um evento já consolidado nacionalmente. De acordo com o calendário do Ministério do Turismo, a festa marca a abertura oficial do carnaval do Brasil, além de constar como sendo a maior prévia carnavalesca do país. Em 2011 o Pré Caju completa vinte anos de avenida, trazendo muitas atrações e movimentando, segundo fontes oficiais, mais de 70 setores da economia. Mas nem tudo são flores. Questionamentos acerca da logística do evento, bem como os transtornos causados pelo mesmo alimentam extensas discussões entre os adeptos e os não adeptos da micareta.
Sergipanidade
Para o estudante de Engenharia de Produção da Unit, Bruno Melo, 19, a grande questão a ser discutida diz respeito à legitimidade do Pré Caju como sendo uma festa genuinamente sergipana. “Eu acho que não é uma festa tipicamente sergipana. Na maioria dos blocos só toca música baiana. Há pouco espaço para os artistas locais”, afirma o estudante. Ainda segundo Bruno, os foliões também são responsáveis por essa perda da identidade local. “A gente adere a tudo que vem de fora e todo mundo adora. Temos que saber apreciar as outras culturas, mas sem desmerecer o que é nosso”, completa.
Fabiano Oliveira, idealizador do Pré Caju/ Fonte: Infonet |
Segundo Fabiano Oliveira, idealizador do Pré Caju, a valorização da sergipanidade é função do Estado e não dos empresários da área. “Como ex secretário de cultura e de turismo, acho que o papel do Estado e dos poderes públicos é fazer essa parte. Nós, como empresários, temos como colaborar, mas não é uma obrigação diretamente nossa estarmos focados nessa parte”, alega.
No entanto, Fabiano Oliveira já garantiu que, com a parceira entre Associação Sergipana de Blocos e Trios (ASBT), a prefeitura e o governo estadual, o Pré Caju 2011 será uma vitrine para a divulgação do Forró Caju. “A ASBT vai focar na divulgação do Forró Caju durante o Pré Caju para a gente fortalecer o São João sergipano. Estamos tentando viabilizar a decoração do camarote da ASBT toda em clima junino. A gente também vai pedir a todos os artistas para falarem que depois do Pré Caju e carnaval, Sergipe é o país do forró; o melhor São João do país”, diz.
Impactos Ambientais
Outro problema muito discutido é com relação aos impactos ambientais. Para a realização do evento, a ASBT solicita uma autorização ambiental e já apresenta todo o projeto de como vai ser a logística do evento. A Administração Estadual de Meio Ambiente (Adema), por sua vez, estabelece, dentro das propostas apresentadas, quais vão ser as condicionantes para que as regulamentações sejam garantidas, no intuito de minimizar os impactos.
Avenida Beira Mar, local dos desfiles |
A Avenida Beira Mar, local onde acontecem os desfiles, é uma região margeada por manguezais. É uma área de preservação ambiental que desperta a preocupação dos órgãos da prefeitura. Segundo a chefe da Gerência de Avaliação de Estudos Ambientais, Rogéria Elma de Santana, há uma intensa fiscalização durante a festa para que essas regiões não sejam afetadas. “A Adema, juntamente com outros órgãos como a Defesa Civil, Vigilância Sanitária e Pelotão Ambiental, faz esse monitoramento durante o período. Todas as noites os funcionários desses órgãos estão presentes para ver se o evento está acontecendo dentro da sua normalidade. A gente visita os camarotes para ver se estão jogando o lixo no mangue, porque eles ficam bem próximos a essa área, então a gente faz um monitoramento durante esse período”, explica.
Ainda segundo Rogéria, os camarotes e vendedores ambulantes seguem as orientações do orgão, ficando por conta dos foliões a agressão aos manguezais. "Geralmente quem comete essas infrações são os próprios foliões que jogam os resíduos no mangue e no rio", completa. Opinião compartilhada pela estudante de Biologia da Universidade Federal de Sergipe, Marianna Clímaco, 20, que nos revela outro problema: os mijões. "As pessoas acham que a rua é banheiro e fazem suas necessidades em qualquer lugar. É uma tremenda falta de educação", reclama.
Sobre os impactos ambientais ainda temos mais um agravante: a poluição sonora. De acordo com Rogéria, a Adema estabelece um índice máximo de decibéis, que é medido pela prefeitura. No entanto, os moradores da área que não frequentam o Pré Caju reclamam todos os anos da altura do som. Olga Vasconcelos, 20, que mora muito próximo ao circuito, não economiza nas críticas. "Eu me incomodo muito com o barulho. Pelo fato da festa ser realizada em um bairro residencial, as pessoas que não gostam têm duas opções: ou são obrigadas a escutar o barulho durante a noite toda ou têm que sair de casa. A poluição sonora é muito grande", comenta.
Segurança
Elisvan Resende, agente da Polícia Judiciária |
Com relação à segurança, outra reclamação aos foliões vem do Dr. Elisvan Resende Conceição, agente da Polícia Judiciária da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Sergipe (SSP/SE). Segundo ele, as estratégias de policiamento da SSP para o Pré Caju são muito bem planejadas. Os problemas a esse respeito ficam por conta dos foliões que exageram no consumo de álcool e drogas antes e durante a festa. “O nosso trabalho é o melhor possível a ser realizado dentro da técnica; dentro dos direitos humanos. No entanto, alguns cidadãos, sobre efeito de álcool e drogas, acabam exagerando na maneira de externar seus sentimentos e, conseqüentemente, acabam atingindo o direito de terceiros”, afirma.
No entanto essa não é a única visão da segurança no Pré Caju. A estudante de Direito Rafaela Ismerim, 20, conta relatos de pessoas próximas a ela que foram lesadas durante a festa e ainda relata o abuso por parte dos policiais. “Muita gente fala mal da segurança do Pré Caju. Muitas pessoas que eu conheço já foram assaltadas durante a festa. Ouvem-se também muitos relatos de pessoas que já foram maltratadas até mesmo pela polícia”, comenta.
Que o Pré Caju é uma festa de grande importância para o estado de Sergipe e que movimenta a cidade durante os quatro dias de folia todos já sabem. O que é pouco divulgado são os problemas causados pela micareta. No entanto, não só a organização precisa rever alguns aspectos da logística do evento, como também os foliões precisam aprender festejar sem colocar em risco o meio ambiente, a sua própria segurança ou a segurança de outras pessoas. Isso é apenas uma questão de respeito.
Repórter e fotos: Igor Almeida
Editor: Lucas Peixoto
Nenhum comentário:
Postar um comentário