O papel da mulher na contemporaneidade

domingo, 5 de dezembro de 2010

Ao longo da História, a mulher conquistou seu espaço social e econômico. É até um clichê falar de seu crescimento na sociedade, seja em qualquer parte do mundo. Salvo alguns locais onde a religião inferioriza o sexo feminino, a mulher conquistou direitos civis, libertou-se da saia e do vestido e passou a usar também calças, foi trabalhar fora de casa e alcançou cargos e posições antes tidas como masculinas.

Enfim, foi um longo caminho até agora. Mas, apesar de todo seu avanço, a mulher não está completamente livre das desigualdades. Ela conseguiu espaço no mercado de trabalho, mas continua, em alguns casos, tendo remuneração inferior a do homem. Ganhou também voz e influência no reduto familiar, mas, na maioria das vezes, o homem é considerado ainda a “autoridade máxima” da família.

Por um lado, o número de manifestações, como campanhas e passeatas, a favor dos direitos ou de combate à violência contra a mulher, é a prova de que esta ainda precisa lutar por reconhecimento e pela garantia de seus direitos. Por outro, o “sexo frágil” está fazendo por onde perder este título.

Em Aracaju, segundo dados do IBGE, o Censo 2010 calculou que 53,53% da população é composta por mulheres. Já a última pesquisa do Sinasc (Sistema de Informações Sobre Nascidos Vivos), feita em 2007, indicou uma queda do número médio de filhos. A taxa de fecundidade que, em 2000, correspondia a uma média de dois filhos por mulher, caiu para 1,9 em 2007. Isso se deve, principalmente, à crescente participação feminina no mercado de trabalho e à mudança de valores com relação à posição da mulher dentro do ambiente familiar.

A mulher contemporânea trabalha dentro e fora de casa, estuda, realiza tarefas no meio social. Portanto, seu tempo é ocupado por um maior número de atividades, reduzindo assim o tempo que dedicaria aos filhos. Além disso, na família, ela não ocupa somente os lugares de mãe e esposa. Sua renda mensal se incorpora a renda familiar, o que contribui para a divisão das obrigações na casa.

Apesar de ainda haver discriminação, a mulher coloca-se cada vez mais como sujeito da situação e não mais como objeto. Não é raro encontrar mulheres que exerçam sua profissão, cuidem dos filhos e da casa e ainda realizem outras atividades, tudo isso na ausência do homem, do marido.

 Magna Maria de Oliveira possui dois empregos, e ainda tem
tempo de cuidar da casa, da família e de si mesma 
É o caso da Magna Maria de Oliveira, de 50 anos. De família humilde, sempre estudou em escolas públicas. Hoje, ela é bancária, psicanalista e tem três filhos. Divorciada há 19 anos, criou seus filhos praticamente sozinha, com ajuda de uma empregada doméstica. “Sempre trago o nome do pai para a educação dos meus filhos, porque acho importante”, disse.

Nascida e criada em Neópolis, Magna diz ter vivido uma infância feliz, em meio à roça e aos bichos. Embora de educação antiga, sua mãe a criou sempre com incentivo aos estudos, não apenas para casar e ter filhos, como era mais comum na sua época. “Talvez, ela já vislumbrasse que o casamento não era o único caminho”, suspeita. É assim que Magna cria seus filhos também.

A rotina de Magna é cheia. Com dois empregos, um pela manhã, outro pela tarde, ela ainda faz caminhada de manhã cedo, hidroginástica e resolve os assuntos domésticos, que sempre dependem dela. “Mesmo que eu ainda fosse casada, teria dois empregos, porque ser bancária foi uma conquista, através de concurso, e ser psicanalista foi uma escolha pessoal”, explica. Porém Magna não para por aí, ela pretende ainda fazer doutorado na área de psicanálise.

Ela não é uma exceção. Embora ainda haja diferenças, as mulheres estão batalhando por seu espaço e por sua afirmação como sujeito na sociedade. Além de haver também aquelas que enxerguem sua felicidade apenas no casamento. É uma questão subjetiva, não é uma regra. “Há muitas mulheres que estudam, trabalham, mas querem também a sua realização amorosa, para assim sentirem-se completas, embora a completude não exista”, afirma Magna, na sua condição de psicanalista.

Segundo ela, a sociedade vê a mulher divorciada como uma mulher livre, e ser livre é estar à mercê do outro. O preconceito ainda existe, principalmente em locais predominantemente masculinos, como oficinas mecânicas e postos de lavagem. Em locais como estes, onde supõe-se que só homens entendam do assunto, o tratamento dado à mulher é diferente do dado ao homem. A própria bancária e psicanalista já sofreu preconceito, apenas pelo fato de ser mulher. A ausência do homem ao lado é vista como vulnerabilidade da mulher.

Entretanto, as mulheres se submetem cada vez menos à vontade dos homens e da sociedade em geral. Estão em busca de sua liberdade e de suas realizações pessoais. Magna, com tantos afazeres diários, ainda encontra tempo para cuidar de si mesma. “Consigo até achar tempo para fazer a minha análise pessoal”, conta.

Mulheres brasileiras estão se adaptando a um novo estilo de vida. Trabalhadora, mãe, dona-de-casa, senhora de sua vida: esse é o perfil feminino da contemporaneidade. Para mulheres como Magna, não há obstáculos, elas sempre prontas para um novo desafio, prontas para começar e recomeçar. As desigualdades, ainda existentes, não são motivo para desistirem de lutar por tudo que já conquistaram e por mais ainda. É justamente por enfrentarem a discriminação, além de administrarem sua vida e de sua família, que essas mulheres são consideradas batalhadoras. Para elas, conseguir atravessar cada barreira, imposta no seu cotidiano, é o que as tornam vencedoras.

A evolução da mulher ao longo dos anos


Repórteres: Julie Melo Braga e Elaine Casado
Foto: Julie Melo Braga
Editora: Monique Garcez

Um comentário:

Júnior & Julie disse...

Parabéns mais uma vez!

Excelente explanação, sempre atual, do crescente e relevantíssimo papel feminino nas sociedades que respeitam os direitos humanos.

Júnior.

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