Sergipe comemora ‘Dia mundial de Luta contra a AIDS’

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

“Este dia para nós é uma vitória, um dia de festa e de reafirmação de que nós não precisamos ser isolados ou vistos de forma enviesada”. Este foi o desabafo do barbeiro, que aqui chamaremos de José Maria, para explicar a importância do dia 01 de dezembro, Dia Mundial de Luta contra AIDS.
 
Devido ao grande preconceito que sofre,
José Maria prefere não se identificar
(Foto: Joanne Mota)

José Maria descobriu que era soro positivo há 10 anos. E diz que pior que fazer esta descoberta, foi sentir o abandono da família. “Vivia numa relação estável há seis anos e só descobri que tinha AIDS quando meu parceiro estava entrando em um estágio avançado da doença. Não foi fácil, e o preconceito foi o pior obstáculo”, enfatiza.

Ele explica que participar de grupos sociais o ajudou a vencer seus medos e a querer lutar pela vida. E para ele, o Dia Mundial de Luta contra AIDS é como seu aniversário. “Depois de muita luta, posso participar de ações sociais e dizer: ‘sim tenho AIDS e vivo muito bem obrigada’”, brinca José Maria.

O começo

 Já são 23 anos desde que a Assembleia Mundial de Saúde, com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU), definiu em outubro de 1987, que 01 de dezembro seria comemorado Dia Mundial de Luta contra AIDS. Data que no Brasil passou a ser comemorada somente no ano de 1988.

Segundo informações do Departamento de DST/AIDS da Secretaria de Municipal de Saúde de Aracaju, todos os anos a data traz um tema como foco de mobilização. O tema deste ano é o ‘preconceito’ como aspecto de vulnerabilidade ao HIV/AIDS.

De acordo com o médico e gerente do Programa Estadual de DST/AIDS, Almir Santana, entre os dias 29 e 03 de dezembro, serão executadas ações que compõem uma programação para celebrar o dia 1º de dezembro. “Neste ano, serão priorizados pontos como o diagnóstico precoce na Atenção Básica. Nesse sentido, realizaremos oficinas, palestras e intervenções sociais para retratar a importância de ações solidárias para os infectados. E o combate ao preconceito será o foco desta edição, pois é possível ter qualidade de vida mesmo com a doença”, explica o médico.

1º de dezembro contra a AIDS
 
Almir Santana, gerente do Programa
Estadual de DST/AIDS (Foto: Arquivo
da Secretária de Estado da Saúde )
Segundo informações do Programa Estadual de DST/AIDS, na quarta-feira, 1º, será lançado, às 9h, no mercado Central da Capital, o projeto “Camisinha Tá na Feira”. Na oportunidade será feita exibição informativa, e haverá participação do Movimento Popular de Saúde de Sergipe (Mops) e do Programa Municipal de DST/AIDS de Aracaju. Dando continuidade à programação, ocorrerá a VIII Caminhada da Prevenção, com concentração na Praça da Bandeira às 14h.

 Para o dia 02, o Programa Estadual de DST/AIDS diz que, dentre as ações programadas, será realizada a palestra sobre a “Mulher e a Aids - Combate a Violência”, no Sindicato dos Trabalhadores Rurais, no município de Lagarto e, além disso, acontecerá uma mesa redonda sobre a “Aids e a Juventude”, às 14h30, no SESC de Socorro. Já no dia 03, serão realizadas palestras no Hospital do Coração e na Empresa Alcance de Engenharia. Ambas serão proferidas pelo Dr. Almir Santana, e abordarão o tema “Prevenção sim, Preconceito não”.

“Todas estas ações objetivam atacar o preconceito que os pacientes infectados com AIDS sofrem hoje. É fato que já avançamos muito, mas a sociedade precisa ver este tema por outros óculos, e a solidariedade é o primeiro passo”, salienta o gerente do Programa Estadual de DST/AIDS, Almir Santana.

Unidades de acompanhamento em Aracaju

Atualmente os pacientes com AIDS podem ser atendidos no Centro de Especialidades Médicas de Aracaju (Cemar/Aracaju), localizado na Rua Bahia, bairro Siqueira Campos. Lá os soros positivos têm a oportunidade de buscar o Serviço de Atendimento Ambulatorial Especializado (SAE/HIV/AIDS).

Eliana Chagas, gerente do SAE/
HIV/AIDS (Foto: Joanne Mota)
De acordo com a gerente do SAE/HIV/AIDS, Eliana Chagas, este serviço conta hoje com uma equipe interdisciplinar que possui mais de 50 pessoas em estrutura. A qual dispõe de nutricionistas, psicólogas, dentistas, enfermeiras, auxiliar de enfermagem, assistentes sociais, infectologistas, ginecologistas, urologistas e o pessoal de apoio. “Mesmo o Cemar dispondo de uma boa estrutura de atendimento, as internações ainda continuam sendo um grande problema. Aqui os pacientes recebem apoio e acompanhamento para a adesão ao programa. Mas, quando estes partem para o internamento, encontramos dificuldades, pois só o Hospital Universitário dispõe de leitos para este serviço, sendo que ele possui apenas 12 leitos na área de infectologia”, explica Eliana Chagas.

A professora da UFS e infectologista do Hospital Universitário (HU), Ângela Silva, explica que, do ponto de vista pleno, o número de leitos para atender a este tipo de paciente ainda é insuficiente, visto que esta demanda cresce a cada dia. Porém, ela esclarece que os pacientes que dão entrada no HU têm recebido atendimento sem maiores problemas. “Desde 1993, quando a enfermaria era no Hospital de Urgências, eu atuo na área de pacientes infectados por AIDS. E, no meu ponto de vista, Sergipe vem melhorando sua plataforma de atendimento para estes pacientes. No entanto, observo que na parte preventiva observamos uma estagnação, e na estrutural ainda precisamos avançar, para assim garantir um atendimento pleno”, completa a infectologista.

Sobre o número de casos mapeados pelo Cemar, Eliana Chagas acrescenta que hoje (números fornecidos no dia 24/11/2010) o SAE/HIV/AIDS presta atendimento a 1.787 pacientes infectados. No entanto ela alerta que estes números se alteram a cada dia.


Para o doutor Almir Santana, este avanço também pode ser observado devido à ampliação no trabalho de diagnóstico. “Quando aperfeiçoamos o trabalho de monitoramento, de campanhas educativas nas ruas e nos meios de comunicação, aumenta o número de casos de pessoas que assumem a doença. Mas, um dado preocupante, e que o próprio Ministério da Saúde já apresenta estudos, é que a AIDS cresce principalmente entre a população de baixa renda e de mulheres casadas. É o que nomeamos como pauperização da doença. Então além de vencer o preconceito, nós também teremos que vencer a falta de políticas de conscientização social sobre o avanço da AIDS mundo”, finaliza o especialista.



Repórter: Joanne Mota
Editora: Monique Garcez

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