Público durante o 1º Encontro Sergipano de Cinema |
Com o objetivo de contribuir para a formação artística e cultural do sergipano a partir da recuperação da memória e do acesso à produção cinematográfica do Estado, o Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira, em parceria com o Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro, promoveram o primeiro Encontro Sergipano de Cinema. O evento relembrou a trajetória da cinematografia sergipana, através de exibições de filmes da década de 70 e de uma palestra com Djaldino Mota, pesquisador e um dos mais importantes nomes do cinema de Sergipe.
O evento foi uma volta ao passado, uma viagem ao tempo do movimento super-oitista da década de 70, época em que os jovens realizadores buscavam fazer cinema a todo custo. Nesse clima, os amantes do audiovisual tiveram contato com verdadeiras raridades da cinematografia sergipana, filmes que ganharam importantes prêmios na época e que, hoje, são desconhecidos pelo público: São João: povo em festa, documentário rodado em 1979, foi dirigido pelo atual governador de Sergipe, Marcelo Déda. Um curta-metragem sobre as comemorações juninas, na Rua São João, no bairro Santo Antônio, em Aracaju, que recebeu o Prêmio Especial do Júri – VII Festival Nacional de Cinema em 1979; Taieira na festa de Reis, documentário sobre a dança-cortejo “Taieira”, em Laranjeiras, comemorada no dia de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, recebeu os prêmios de 2º Melhor Filme de Folclore – VI Festival Nacional de Cinema – Aracaju/SE – 1978; 2º Melhor Documentário – I Bienal Internacional Paineira de Cinema Amador – São Paulo/SP – 1979; e Um dos três Melhores Filmes de Pesquisa Folclórica – VI Festival de Cinema Brasileiro de Penedo – Penedo/AL – 1980.
Djaldino Mota durante a palestra no Encontro |
Para Djaldino Mota, a exibição dos filmes é uma oportunidade ímpar. “Para mim, é uma experiência fundamental participar desse encontro. A memória do cinema sergipano é algo que precisa ser exposto para que as pessoas conheçam e deem o valor merecido. A década de 70 foi vanguardista, precursora de um cinema que não se fazia em Sergipe”.
O Cinema Sergipano da década de 70
Projetor super 16mm |
O Cinema em Sergipe há muito tempo passa por profundas e significativas mudanças. A década de 70 foi um momento fundamental para a produção audiovisual local, na qual aconteceram realizações importantes e que viriam a consolidar a cinematografia no estado. E muitas instituições participaram desse processo. A Universidade Federal de Sergipe foi uma delas. Em 1972, a partir de uma ideia do professor Clodoaldo Alencar Filho e com o apoio da Embrafilme, a UFS promove, dentro da programação do Festival de Artes São Cristóvão, o Festival de Cinema Amador de Sergipe (Fenaca).
Boa parte da produção consistia em documentários de 16 mm e 8 mm. O festival reunia cineastas amadores, cineclubistas e também promovia um encontro nacional do ensino do cinema, cujo objetivo era elaborar um currículo padrão para as escolas de 1º e 2º graus. Entre os participantes incluíam-se nomes como Jean Claude Bernadet, José Tavares de Barros e Ary Neves Mendonça. Dois anos depois, em 1974, um curso teórico e prático de cinema produz, como resultado, cinco filmes. Uma parceria entre a UFS e o MEC vai estender a idéia do curso para alunos do primeiro e segundo graus das escolas públicas e daí vão surgir dois filmes importantes: Carros de bois, de Floriano Santos Fonseca, e São João: povo em festa, de Marcelo Déda, atual governador do estado.
Em 1975, Djaldino e Clóvis Barbosa reabrem o Clube de Cinema de Sergipe. Em 1979, durante a I Bienal Internacional Paineira de Cinema Amador, os filmes Taieira na Festa dos Reis (1978) e José de Tal Ex-futuro cidadão (1979), respectivamente de Djaldino Mota Moreno e Jorge Alberto Moura recebem os prêmios de 2º Melhor Filme e Menção Honrosa para melhor enredo e ator.
Recepção do Público
Jairo Andrade, fotógrafo. |
Jairo Andrade, fotógrafo e realizador sergipano, que também participou do movimento super-oitista e esteve no encontro, declara que para fazer cinema, hoje, é preciso voltar às raízes, conhecer as primeiras produções. “Para ser um realizador completo, é preciso conhecer o que já foi feito e, através disso, expandir, ampliar conhecimentos. Os filmes exibidos no Encontro Sergipano de Cinema são uma prova da forte história de Sergipe na cinematografia. O Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira abriu as portas para que jovens estudantes e amantes do audiovisual tivessem acesso a duas raridades do nosso cinema”.
No encontro, foi lançada ainda a Revista Cadernos de Pesquisa - Número Especial – 2010, do Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro, que se constitui numa forma de retorno de uma publicação que, na década de 1980, representou um momento importante na divulgação da pesquisa cinematográfica brasileira, através da edição de trabalhos que foram fundamentais para o estudo da história do cinema do nosso país. Uma rica fonte de pesquisa para os amantes da sétima arte.
Revista Cadernos de Pesquisa, número especial. Lançada no Encontro Sergipano de Cinema |
Reportagem e fotos: Taylane Cruz
Edição: Bruna Guimarães
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