Reflexão sobre o bullying vira tema de peça teatral

terça-feira, 14 de junho de 2011

O bullying, palavra em inglês usada para definir uma agressão física ou psicológica de forma intencional e continuada, tem se tornado um assunto cada vez mais comum em todo o mundo, principalmente nas escolas. No Brasil, esse ato de violência também é um problema sério. Segundo um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 31% dos estudantes já foram vítimas dessas agressões. Para evitar esse tipo de ataque, algumas medidas têm sido tomadas para aumentar o diálogo entre professores e alunos. E é nesse contexto que o espetáculo teatral "Bullying, a violência na escola", montagem do Grupo Raízes, vem refletir com a sociedade.
 
O grupo Raízes, criado em 1973 por universitários sergipanos, desenvolve um trabalho ininterrupto na formação de platéias em quase toda a região nordeste.  O atual diretor e também um dos fundadores do grupo, Jorge Lins, tenta desenhar uma trajetória e construir histórias à partir do Teatro. Isso se torna visível na peça teatral "Bullying, a violência nas escolas". O espetáculo apresentado nos dias 1 e 2, deste mês, no Teatro Tobias Barreto, em Aracaju, com uma hora de duração, conta à partir de sete histórias verídicas o que caracteriza o bullying e constrói um universo real da educação e da convivência dos jovens nas escolas de hoje. “A importância é colocar em cena a história das pessoas, e eu acho fundamental abordar em uma linguagem que os jovens sintam como se estivessem falando. O maior problema da direção foi dar esse caráter ao espetáculo, onde as pessoas que estão assistindo, ao mesmo tempo estivessem se vendo como se fossem eles os personagens. A idéia era fazer uma coisa bem intimista”, revela Jorge Lins.
Jorge Lins, diretor da peça teatral.
 
O bullying sempre existiu, mas nunca recebeu o destaque. Porém, nos últimos tempos, ele vem ganhando proporções mundiais. Para Jorge Lins a discussão tornou-se fundamental depois da tragédia ocorrida em abril deste ano em uma Escola Municipal, em Realengo (RJ), depois do crime cometido por um jovem de 23 anos, que matou 12 crianças e em seguida atirou contra a própria cabeça. Em vídeo gravado antes da tragédia o atirador revela que sofreu de bullying no período em que estudou no colégio, e que iria se vingar. “A idéia de escrever um espetáculo sobre bullying é que eu trabalho há muito tempo com o Projeto Escola e visitando os colégios senti que havia a necessidade de abordar tal tema. Também assisti alguns filmes que tocavam no assunto, embora não fosse o assunto principal. A partir daí, comecei a pesquisar pela internet depoimentos de pessoas que sofreram bullying e nesses depoimentos viajei nas palavras e nos textos, tentando adaptar as falas e os relatos para uma linguagem teatral. Isso tudo antes de ter ocorrido o massacre em Realengo, com esse fato eu senti a necessidade de expor tudo isso, foi o meu grito de socorro”, desabafa o diretor da peça.  
 
Apelidos constrangedores, ameaças, agressões físicas ou verbais, a questão das raças e da condição social nas escolas, quase todo mundo já vivenciou ou conhece alguém que passou por esse tipo de situação. E é justamente esses aspectos que a peça teatral busca passar para o seu público, com uma mistura de humor, música e ação. “Essa nova montagem do grupo Raízes trata do bullying em diversas situações. É um grupo de alunos da escola que vai montar um espetáculo de teatro sobre o bullying e nos entrementes os atores vão conversando e ensaiando temas como a obesidade, homossexualidade, homofobia, apelidos e xingamentos de uma maneira muito descontraída. A gente tem uma linguagem muito peculiar que faz com que o adolescente entenda e se entrose rapidamente, talvez pelo fato de ver os atores sofrendo, como provavelmente eles (o público) sofreram ou sofrem também. Na peça nós não damos somente o problema, mas também procuramos dar soluções para ele”, afirma Leandro Santana, um dos atores da peça, e também estudante de teatro da Universidade Federal de Sergipe. 
Atores em cena no espetáculo
 
Segundo Lucas Apóstolo, um dos integrantes do elenco, falar sobre um problema tão crônico e com conseqüências sérias, tanto para vitimas quanto para agressores, pode ser mais fácil quando isso é tratado de maneira mais flexível. Para tanto, a linguagem teatral se torna uma importante ferramenta para disseminar esse problema e suas variantes, de modo que essa realidade chegue para todos, fomentando assim o processo de administração deste distúrbio. “Eu acho que o nosso propósito tem sido alcançado, os coordenadores e os professores vêm falar com a gente, dizer que adoraram a nossa iniciativa de tratar do bullying. E com isso estamos dando mais um leque de possibilidades pedagógicas deles tocarem nesse assunto tão delicado. Talvez o teatro seja uma ferramenta bacana, um ponto inicial para tratar desse tema tão polêmico de uma forma mais dinâmica”, complementa o ator.

“Nós temos sentido uma resposta positiva do público, e tenho a certeza de que estamos conseguindo passar o propósito da peça para eles. O adolescente geralmente é difícil de ser atingido, mas quando ele se entrega à arte, ele se envolve com a história, e isso nós percebemos quando ele se emociona na platéia”, afirma Lucas Andrade, também ator da peça, relatando as reações da platéia ao espetáculo.
Elenco no camarim após a apresentação no Teatro Tobias Barreto

Como forma de evitar o bullying, o estímulo ao diálogo entre alunos, pais e professores se faz necessário. Segundo Jorge Lins como forma de conscientização, pode-se incentivar a não-prática do ato discriminatório, pois se o bullying é considerado um tipo de comportamento, só o ensino de uma nova atitude, de uma nova ética pode ajudar a acabar com ele. “A luta é para que esses momentos difíceis sejam transformados em momentos de aprendizagem e que os autores do bullying não repitam mais o ato”, conta ele. Foi o que aconteceu com o estudante Hiago Vasconcelos, 14 anos, estudante de um colégio público da capital. “Eu confesso que já fiz bullying com os meus colegas, apelidando-os de ‘quatro-olhos’, magrelo, dentuço. Mas a partir de hoje eu não vou fazer mais isso, porque eu assisti à peça e aprendi a lição”, confessa ele.
 
Para maiores informações sobre os lugares onde a peça já se apresentou ou ainda vai se apresentar visite www.educar-se.com/bullying.

Reportagem e fotos: Lorena Larissa
Edição: Júnior Santos

 

Um comentário:

Matheus Gomes disse...

adorei essa peça teatral muito ! sou do colégio Instituto educacional brasil. Jorge Lins vc estar de parabéns por falar de um assunto muito polemico de uma forma deferente de falar {no no teatro}assisti também A MENINA QUE QUERIA VOAR E JOGOS INFANTIS . MAIS UM TEMA QUE SERIA MUITO BOM ERA AS DROGAS. QUE SEMPRE É FALADO MAIS NÃO COM UMA PEÇA TEATRAL.
odilon matheus gomes dos santos

MATHEUS_MALUCO2014@HOTMAIL.COM {ORKUT}

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