As diversas facetas da prostituição

quinta-feira, 21 de julho de 2011

A dura jornada das mulheres de "vida fácil".
Fonte: Google
    A prostituição é definida como a troca consciente de favores sexuais por interesses não sentimentais ou afetivos. Apesar de comumente consistir numa relação de troca entre sexo e dinheiro, esta não é uma regra. A prostituição caracteriza-se também pela venda do corpo, seja em fotos ou filmes em que se deixam à mostra partes íntima do corpo. Sendo praticada mais comumente por mulheres, mas há ainda um grande número de homens que têm na prostituição um trabalho cotidiano.
   
   Normalmente a prostituição é reprovada nas sociedades, devido à degradação moral que gera aos praticantes, à disseminação de doenças sexualmente transmissíveis (DST), e o impacto negativo na estrutura social básica, família. Assim é a vida das mulheres que têm uma das mais antigas profissões do mundo. Em que contexto social estão inseridas: a pobreza, a rigidez familiar, a solidão? A prostituição é uma profissão que só é reconhecida como um bem maior por quem precisa dela – prostitutas e clientes.
   
   Em Aracaju, alguns locais são socialmente marcados pela presença de pontos de prostituição. Durante o período da noite é comum ver mulheres em busca de clientes para aventuras sexuais. Neste cenário, algumas situações ganham relevo: violência, solidão, vulnerabilidade, preconceito e falta de políticas públicas de proteção e regulamentação de direitos sociais. Sem dúvida alguma, as prostitutas que usam a rua como seu local de trabalho, estão expostas aos diversos perigos que profissão proporciona.

Silmara.
Foto: Ethiene Fonseca
   É justamente nesse cenário que encontramos a personagem de uma história real. Aliás, real e triste. Ela se chama Silmara Teles ou apenas Silmara, dona de casa, 30 anos e mãe de quatro filhos com idades entre quinze e três anos. Como em uma novela, a nossa personagem segue o enredo traçado pela vida e sai diariamente nas noites aracajuanas. O palco, as ruas. Um espetáculo sem direito a aplausos. 
   
   A maquiagem usada não disfarça o semblante sofrido e infeliz. Entre uma resposta e outra ela abre um sorriso meio envergonhado, meio aliviado. Inicialmente receosa, começa a relatar as aventuras em que já se envolveu. Ela conta que já foi sofreu três episódios de espancamento nos 15 anos que trabalho como prostituta na Orla de Atalaia. “Eles chegam, nos chamam, nos levam para onde querem e em alguns casos se negam a pagar; como não trabalho com “agenciador” para me proteger, eles acabam passando da linha e agridem.” Revela. E continua: “Nas duas primeiras vezes não dei queixa, mas da última dei e nenhuma providência foi tomada”, conclui revoltada.
   
   Silmara mora com seus quatro filhos numa casa humilde de quatro cômodos, alugada, no Bairro Santos Dumont, zona norte da capital sergipana. Seus filhos, como ela mesma afirma, não têm conhecimento da sua segunda profissão. Para a sua família e amigos, ela trabalha somente de diarista durante o dia e a noite exerce funções de serviços gerais em um dos bares da Orla de Atalaia. 
   
   Ela diz que tentou seguir outras profissões, mas sem sucesso. Segundo ela, a falta de estudo impossibilitou encontrar outras profissões. “Larguei os estudos na terceira série e comecei a trabalhar de faxineira com 13 anos, mas eu era muito humilhada e não recebia bem. Com 14 anos engravidei e tive que parar de trabalhar e quando tive o bebê entrei na vida pra poder consegui o sustento e fui seguindo até hoje”. Desabafa e ainda completa: “Me arrependo de muitas coisas, dois dos meus filhos são fruto da profissão, da vida,  nunca mais vi os pais deles, mas não me arrependo de ter tido eles não’, finaliza. 
Orla de Atalaia: um dos pontos mais procurados pelos "clientes".
Foto: Ethiene Fonseca
   Hoje, Silmara vive um dilema. Não tem como parar, mas sabe que a idade já não é mais sua aliada. Para ela os clientes preferem as mais novas “carne de primeira, filé” como classifica. Como mantenedora do lar, ela admite que no mercado já é coadjuvante. Perguntada se hoje existem novas mulheres que entram na profissão, ela é categórica: “ Além das meninas que trabalham nas ruas, nos bares e ‘inferninhos’, existem as garotas de programa que vão na casa do cliente, atende em casa. É injusto isso, essa concorrência”, desafaba.
   
   Para ela, se parar de trabalhar, sabe que não terá como manter seus quatro filhos. Então questiona: “Se parar quem vai me ajudar? O governo? Não vou dizer que não gosto do que faço, mas se tivesse outra opção, eu largava a vida sem pensar duas vezes”. E ela continua fazendo parte de uma triste estatística de mulheres brasileiras que se arriscam todas as noites em busca da provisão de seus lares ou simplesmente em busca de prazer, arriscando suas vidas, suas integridades e ainda sendo marginalizadas pela sociedade. 
   
   Ao nos falar pela última vez Silmara Teles, despede-se, agradece por ouvi-la e sai para o ponto de ônibus mais próximo. Um rosto qualquer em meio às demais pessoas. Olha para trás acena e sobe vagarosamente no ônibus com destino à vida. A vida dela. 

Prostituição virtual, prazer real

Prazer virtual: um mercado em ascensão
Fonte: Google
   Como já havia nos alertado Silmara, hoje a prostituição utiliza vários canais. Um deles são os garotos de programa destinados ao público gay masculino. Geralmente encontrados nas salas de bate papo na internet, em que freqüentam um grande número de homossexuais masculinos para oferecer “seus serviços”. 
   
   Os garotos de programa, ou GPs como são comumente conhecidos, geralmente enviam mensagens aos usuários desses chats informando suas características físicas, local em que atuam e preço cobrado por encontro. Diferentemente das prostitutas, que geralmente atuam nas ruas durante a noite, os garotos de programa trabalham a qualquer hora do dia. Em contato com um desses garotos, que pediu para manter o anonimato, ele nos relatou como se faz o procedimento.  Chamaremos, então, de J. S. 

   A seguir uma entrevista com esse novo personagem que se utiliza da internet para negociar prazer:


Pergunta: O que o motivou a entrar para a vida da prostituição?
Resposta de J. S.: Eu faço programa tem uns dois anos. Entrei nesse negócio para ajudar a família mesmo, aumentar a renda. Tenho outro emprego e tenho uma família pra sustentar. Sou casado e tenho um filho e ninguém sabe que eu faço essas coisas. Quando eu chego com dinheiro a mais em casa, a mulher acha que eu fiz um “bico” ou algo do tipo, e não deixa de ser né? 


Pergunta: Qual o perfil das pessoas que o procura?
Resposta de J. S: O público que mais nos procura são homens casados, que pagam porque não podem ficar se expondo, preferem algo no sigilo. Caras mais velhos também, com mais de 50 anos, empresários, pais de família. Eles procuram os GPs porque eles estão afim de sexo, mas não querem uma relação fixa. Tem muito cara ai que você nem imagina, com cara de homem de família, direito, religioso, que vem atrás dos serviços.


Pergunta: Onde você atende seus clientes?
Resposta de J. S.: Não tenho local para atender. Isso é um dos problemas para GP como eu, que tem família e tudo mais. A gente tem que levar os caras para um motel ou pousada. Por isso é bom ter um carro.


Pergunta: Há dificuldades para encontrar clientes? Há variação de valores?
Resposta de J. S.: É fácil de achar cliente. Como aqui é uma cidade pequena, ninguém quer se expor, então preferem pagar para ter. Se você entrar no chat como GP, vai “chover” gente querendo teclar com você. O preço depende de seu perfil, das suas características físicas, sua idade. É sempre bom caprichar na primeira vez, porque ai o cara sempre vai querer uma segunda.


Pergunta: Como você faz na internet, para acertar com seus clientes? 
Resposta de J. S.: Para quem quer ser GP, tem que criar um MSN fake (falso em inglês). É pelo MSN que a gente entra em contato com os clientes, marca encontro, mostra foto. O telefone mesmo, uso pouco, quase nada. Mas não tem perigo de usar não. Hoje em dia existem celulares com 3 ou 4 chips e isso dificulta a descoberta por parte da esposa. Mas mesmo assim, é melhor marcar tudo pelo MSN, pois “os caras” podem ligar de madrugada e a mulher vai desconfiar. Para não correr riscos, prefiro o MSN.

Prostituição x paradigmas sociais
O centro da capital tornou-se um grande prostíbulo a céu aberto.
Fonte: Ethiene Fonseca
   Após esses dois casos, com semelhanças e diferenças, tanto a prostituição masculina e a feminina estão intrinsecamente ligadas ao modo de vida da sociedade atual. Mesmo que seja uma das profissões mais antigas, a prostituição possui uma delimitação social muito rígida e camuflada. A não aceitação social, a negação de direitos sociais e mesmo a regulamentação da profissão provoca um cisma entre o que a sociedade pensa e o que ela realmente faz.


   A falta de aceitação social, ou mesmo o preconceito, sofrido por essas pessoas mascaram valores morais e éticos de uma sociedade marcada pelas diferenças, mas que prevalecem os paradigmas secularizados. A prostituição antes de ser um mau, é a marca de uma sociedade moldada pela falta de acesso a direitos básicos. 


Repórteres: Ethiene Fonseca, José Leidivaldo, Larissa Regina e Lorena Larissa
Fotos: Ethiene Fonseca

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