Movidos pelas necessidades, excluídos da sociedade e traídos pelo fadário. Esse é o retrato vivo de uma pequena parcela da sociedade aquidabãense que, nos últimos anos, vem sofrendo no lixão da cidade em busca do sustento vital diariamente e arriscam a própria vida na situação precária, sem medo das conseqüências. Encaram a podridão da lixeira vinda de animais mortos, restos de comidas, dos lixos hospitalares, entre outros, que tomam o espaço a céu aberto e desfigura a pastagem verde do campo.
A prática de catação de lixo, que era exclusiva nas grandes cidades do Brasil, tem sido interiorizada e passa a ameaçar os municípios das cidades do país. Pessoas de todas as faixas etárias são movidas pela necessidade e acabam catando no lixo o “pão de cada dia”. A falta de fiscalização dos poderes responsáveis neste ambiente ocasiona sérios riscos à população, seja nas grandes cidades ou nas pequenas comunidades. Em Aquidabã, cidade localizada na região do Baixo São Francisco a 100 km da capital sergipana, o lixão possui abundante presença de catadores que não temem as conseqüências e abusam dos riscos em busca do sustento familiar.
O catador e ex-pescador Valdileno dos Santos, que encara diariamente a lixeira, passou a conviver com o ambiente desumano após problemas de saúde. “Eu era pescador, mas tive que abandonar a minha atividade por problemas de saúde. Moro atualmente com minha mãe e duas sobrinhas, estou aqui no lixão para contribuir na renda familiar. Recebo R$ 80 por mês”, lastima.
Independente de idade e sexo, a sustentabilidade no lixão aquidabãense reúne muitas pessoas que não escondem as decepções e sofrimentos que enfrentam. Exemplo de Maria do Papelão que passa boa parte do dia longe da cozinha. “Já são mais de dois anos neste batido, chego às 6h da manhã e só saio às 6h da noite. Aqui tiro o sustento dos meus cinco filhos”, diz. Há dois anos na convivência com o lixo, Maria ainda relata que não sente vergonha do que faz: “Não tenho vergonha do que faço, infelizmente esta é a única opção que tenho”.
Segundo Genival Nunes, secretário do Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos, a cidade de Aquidabã já foi processada por falta de adaptações ambientais. O secretário esclareceu em entrevista recente a imprensa aracajuana que a principal preocupação dos lixões sergipanos trata-se da destinação dos resíduos sólidos como um todo e não apenas o destino final do lixo. “Estamos trabalhando o conceito do que é resíduo e rejeito. O rejeito é tudo aquilo que não pode ser reutilizado. Defendemos que este trabalho deve ser feito através dos consórcios, onde trabalhamos com prefeitos e vereadores dos municípios a política de resíduos sólidos”, enfatizou.
A realidade vivida por Aquidabã não é tão diferente da região do Baixo São Francisco, que produz por dia cerca de 130 toneladas de lixo. O local reúne em suas lixeiras milhares de pessoas em situações vulneráveis, levando a crer que os municípios precisam colocar um ponto final nesta questão, mesmo com o prazo até o fim do ano de 2012 para se adequar à nova lei e elaborar seu Plano Municipal de Resíduo Sólido. Entretanto, a pergunta que se faz no momento é: Como sobreviverão os catadores de lixo? Que políticas públicas beneficiarão os movidos por necessidades, excluídos da sociedade e traídos pelo fadário?
Por Raimundo Morais
Foto: Raimundo Morais
Edição: Ana Carolina Souza
Um comentário:
Parabéns.
Boa matéria
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