O diabetes em Sergipe e um novo medicamento

sábado, 12 de novembro de 2011

Dona Maria de Lurdes tem diabetes há 14 anos e por conta dele não pode comer doces, alguns pães e biscoitos, usar sapatos de bico fino ou que apertem o seu pé e nem mesmo fazer as unhas como gostaria; ela faz parte da estimativa de 62 mil sergipanos adultos portadores da doença.  O grande número de atingidos, mundialmente, e as várias complicações que o diabetes pode acarretar, aumentam a demanda por medicamentos e impulsionam a comunidade científica e as indústrias farmacêuticas a produzirem novos medicamentos como o Tradjenta, que teve a sua entrada no Brasil aprovada este ano.

A Secretaria de Saúde de Sergipe trabalha com dois medicamentos padronizados e mais as insulinas NPH e regular para o tratamento do diabetes, caso haja uma indicação precisa do médico de que o paciente necessita de outro remédio, o pedido é encaminhado ao CASE (Centro de atenção à Saúde de Sergipe) que analisa a demanda e pode adquirir a substância. O controle do diabetes, entretanto, não é feito necessariamente pela ingestão de medicamentos, o tratamento pode tanto resumir-se a alimentação adequada e atividades físicas, como somar a elas a ingestão de um ou mais remédios. O tratamento depende da resposta do paciente e da evolução e tempo da doença.

O Ministério da Saúde não envia medicamentos, mas repassa recursos financeiros aos municípios que devem utilizá-los para a compra dos remédios padronizados pela Assistência Farmacêutica do Sistema Único de Saúde (SUS). As substâncias que fazem o controle do diabetes estão entre os medicamentos da farmácia básica e tem os seus custos divididos entre a federação, os estados e os municípios. O primeiro contribui com R$ 5,10 para cada habitante por ano e os outros dois com R$ 1,86, igualmente por hab/ano. Além de disponibilizados nos postos de saúde, os medicamentos são distribuídos em farmácias conveniadas com o SUS, desde que o paciente apresente uma receita médica atual.

Farmacêutica Blície Rocha
De acordo com a farmacêutica, mestre em Ciências da Saúde, doutoranda e pesquisadora da atenção farmacêutica a pacientes idosos portadores de diabetes mellitus tipo 02, Blície Jennifer Balis Rocha, o medicamento Tradjenta pode ser utilizado em uma única dosagem e faz parte de uma nova classe de substâncias capazes de estimular a produção de insulina, hormônio que faz a regulação da glicemia, apenas quando a taxa de glicose no sangue do paciente for alta. “O fato das gliptinas (entre os quais está o Tradjenta) estimularem a secreção de insulina somente quando houver aumento da glicose no sangue, pode prevenir crises de hipoglicemia”, diz Blície Rocha.

A Pesquisadora apresenta ainda uma contrapartida, pois medicamentos análogos ao Tradjenta (Januvia e o Galvus) são vendidos no Brasil por até R$ 190. “Este medicamento deverá chegar ao mercado brasileiro com um alto preço, o que inviabiliza o seu uso pela população de baixa renda. Esta é uma preocupação que deve ser considerada pelos médicos no momento da prescrição, para que não se deixem influenciar pela pressão da indústria farmacêutica.”

Stella Gouvea
Segundo a Responsável Técnica pelas doenças Crônicas não Transmissíveis da Secretaria de Saúde do Estado de Sergipe, Stella Maria Mendes Gouvea, os maiores problemas para o tratamento do diabetes em Sergipe são organizacionais e informativos. “As dificuldades estão na administração do dinheiro, o gestor da saúde acaba não tendo gerência sobre esse recurso que muitas vezes estão diretamente ligados à prefeitura.” Indica Stella Gouvea, que aponta outras dificuldades como as modificações das equipes de saúde da família, o que corta o vínculo com o atendido e exige que o treinamento seja refeito, e a postura de parte dos pacientes que não segue adequadamente as orientações de ir regularmente ao médico, seguir a dieta e praticar exercícios físicos.

Os fatores de risco, ainda de acordo com Stella Gouvea, podem ser divididos em não mutáveis e mutáveis, entre os primeiros estão o histórico familiar e a idade – principalmente acima de 40 anos –, já entre os segundos estão o sedentarismo, a alimentação inadequada e o tabagismo que, se controlados, diminuem consideravelmente os riscos de desenvolver a doença. O controle e a prevenção do diabetes acabam prevenindo também complicações que esta doença pode gerar como, por exemplo, insuficiências renais, cardíacas, problemas na retina e nos pés. Aliados aos serviços de saúde devem vir, então, serviços de informação e educação do público em geral.
 A produção de medicamentos que diminuam os riscos aos pacientes e facilitem o tratamento é o que se espera da evolução científica. Essas inovações, ainda assim, não serão suficientes se os avanços não forem acessíveis a pessoas como Dona Maria de Lurdes, que, como muitas outras Marias, vive com apenas um salário mínimo. Organizar a administração e informar com qualidade são partes de um mesmo tratamento do qual dependem não só os diabéticos, mas todos os usuários do sistema de saúde. 



Por Liliane Nascimento
Fotos: Blície Rocha- Arquivo Pessoal / Stella Maria Gouvea por Liliane Nascimento
Arte "Pé diabético": Ana Carolina Souza
Edição: Ana Carolina Souza

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