Combate à violência contra a mulher: Uma luta em busca de paz

terça-feira, 29 de novembro de 2011

          
          Marco da luta pelos direitos humanos, a data 25 de novembro é reconhecida internacionalmente como o Dia de Combate à Violência Contra a Mulher. Neste ano o dia 25 completa 30 anos desde sua primeira celebração e abre a programação da campanha “16 Dias de Ativismo”. Em todo o Brasil, mulheres se unem pela erradicação das agressões e garantia dos seus direitos, na tentativa de romper o histórico de opressão da qual são vítimas ainda hoje.
      
         No estado de Sergipe, a programação dos 16 Dias de Ativismo se espalha por diversos pontos da capital e do interior, com a participação da Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres (SEPM) e da Delegacia Especial de Atendimento às Mulheres (DEAM), entre outras entidades. Em Aracaju, as ações do dia 25 se iniciaram na Praça Fausto Cardoso, das 10h às 16h, com a distribuição de material informativo, consultas jurídicas e informações de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), ao crack, ao câncer de mama e à gravidez indesejada.
         
          Ações como essa se constituem como espaços de diálogo e protagonismo, sendo de fundamental importância no combate à violência contra a mulher, que apresenta um panorama de índices preocupantes. Um levantamento realizado em 2010 pela Fundação Perseu Abramo apontou que uma em cada cinco mulheres já foram agredidas pelo menos uma vez, e mais da metade não procurou ajuda. Em Sergipe, segundo dados da SEPM, foram registrados neste ano 2554 boletins de ocorrência envolvendo casos de agressões e abusos a mulheres, sendo que apenas 831 foram apurados.
         
          Neste sentido, a Lei Maria da Penha se apresenta como um dos mais importantes recursos de defesa da mulher. Através dela, a mulher ganha o respaldo necessário para sair da postura de omissão, podendo contar com aparato jurídico e psicológico para realizar a denúncia contra seu agressor. 



Lei Maria da Penha e a defesa da mulher

          Aprovada por unanimidade em 22 de setembro de 2006, a Lei 11340/06 – ou Lei Maria da Penha – completou em 2011 cinco anos de vigência. Neste período, a Lei propiciou a tipificação da violência contra a mulher, classificando-a em cinco formas: a física, que inclui qualquer tipo de ação que se utilize de força para fins de opressão; a moral, relacionada aos danos a reputação; a psicológica, que envolve humilhações e prejuízos a auto-estima; a patrimonial, ligada a destruição de bens materiais; e a sexual, que diz respeito à coação da mulher a qualquer prática que envolva sua sexualidade.
Secretária Maria Teles
         
     A Lei Maria da Penha diz respeito apenas a vínculos de estreita proximidade, incluindo parentes e pessoas que convivem na unidade doméstica, sendo consideradas agregadas por laços de sangue ou de afinidade. Em casos que não envolvam relações domésticas, a queixa deve ser feita na vara comum de execuções penais.  Segundo a secretária de políticas para as mulheres de Sergipe, Maria Teles, o balanço da atuação da Maria da Penha é positivo, ainda que haja novos objetivos a alcançar: “Com qualquer outra lei é mais fácil de lidar, porque o não cumprimento leva à punição, e isso acontece de forma direta. Mas com a Maria da Penha é preciso ir buscar fundo, revolver uma cultura e quebrar uma série de noções fortemente presentes na sociedade”.
         
          A vara que regulamenta os casos enquadrados na Lei Maria da Penha em Sergipe é a 11ª, que atende também a denúncias relacionadas a idosos e crianças. Desde sua aprovação, a Lei permitiu um aumento do número de boletins de ocorrência denunciando a violência contra a mulher no estado: entre 2006 e 2011, o número de casos aumentou de 1923 para 2554. Em contraponto, apenas 32,5% dos casos registrados em 2011 foram levados a inquérito. Neste sentido, Maria Teles aponta as causas relacionadas ao déficit: “A violência contra a mulher responde por 70% das denúncias registradas na 11ª vara. Há uma sobrecarga muito grande, o que se reflete na diferença entre o número de BOs e apurações”.
        
          Para melhorar este quadro, a SEPM – criada em abril de 2011 – vem lutando pela implementação de um juizado especial para tratar de questões de violência doméstica, uma medida prevista pela Lei Maria da Penha. Segundo a secretária Maria Teles, Sergipe é a única unidade de federação que ainda não dispõe deste mecanismo.
         
          Além da 11ª vara, o estado conta atualmente com os seguintes serviços institucionais de atendimento à mulher: Cinco DEAMs, localizadas em Aracaju, Itabaiana, Lagarto, Estância e Nossa Senhora do Socorro; três Centros de Referência de Atendimento à Mulher; O Serviço de Saúde da Maternidade Estadual Nossa Senhora de Lurdes, que atende vítimas de abuso sexual; 35 Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas); uma casa abrigo; e 27 Organismos Municipais de Políticas para as Mulheres.
         
          Já está em aprovação para 2012 o projeto de instalação de mais quatro Centros de Referência de Atendimento à Mulher, que cobrirão todo o território de Sergipe. Através destes centros, as vítimas de violência terão acesso a políticas de inserção no mercado de trabalho e de inclusão social – como o benefício prioritário de programas de habitação, por exemplo. Em âmbito federal, tramita na câmara o projeto “Auxílio Mulher”, que tem por objetivo a concessão de benefícios temporários a mulheres vítimas de violência. O auxílio deve ser concedido por até seis meses por decisão judicial, em casos em que a mulher tenha que se afastar de seu trabalho para preservar sua integridade física e psicológica.
         
          Ainda neste ano serão deliberadas novas diretrizes na luta contra a violência de gênero, através da Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres. Em sua terceira edição, o evento deverá acontecer no período de 12 a 15 de dezembro, em Brasília. Em Sergipe, a Conferência Estadual aconteceu nos dias 8 e 9 de novembro, na capital, com a presença da ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes.

Em caso de violência, o que fazer?

          Segundo Maria Teles, o primeiro passo é procurar uma Delegacia da Mulher. O boletim de ocorrência pode ser registrado em qualquer delegacia, mas na DEAM a mulher pode se sentir mais segura pelo fato de haver uma estrutura especial em seu amparo. Da delegacia, depois de apurado o caso, a vítima será encaminhada para os centros de referência, em que receberá o apoio psicológico e social necessário. A este respeito, a secretária alerta: “Este respaldo é necessário para que a mulher não volte atrás em sua denúncia. Há grande número de desistências, e não existe lei que diga que o caso pode ser apurado mesmo que a mulher retire a queixa. É uma decisão própria, não podemos tomar ninguém pela mão e mandar que pare de sofrer”.
Delegada Renata Abreu
         
        Outro mecanismo de controle à violência é o Disque 180, em que a vítima ou outras pessoas que tem conhecimento de situações de agressão tem a possibilidade de procurar ajuda, tendo sua identidade resguardada. Para a delegada da Mulher Renata Abreu, “só a denúncia torna possível que tomemos as devidas providências. Permanecer calada diante da violência é pior, pois a mulher vai continuar convivendo com um companheiro perigoso, correndo o risco de ser novamente agredida”, alertou a delegada durante as atividades na Praça Fausto Cardoso. 

Os 16 Dias de Ativismo

          Incluindo manifestações e eventos de conscientização, os 16 Dias de Ativismo têm como lema deste ano “da paz no lar à paz no mundo”. A campanha se organiza em torno de quatro eixos prioritários: O enfrentamento à violência doméstica; o controle à proliferação de armas pequenas; o combate à violência política contra as mulheres, incluindo períodos pré e pós eleitoral; e a fiscalização à violência institucional.
Folhetos da campanha
         
          Dentro dos 16 Dias de Ativismo, outras datas de luta se destacam, motivando as ações da programação. As atividades previstas incluem uma caminhada pelo Dia Mundial de Combate à AIDS, no dia 1º de dezembro; a Campanha do Laço Branco – Homens Pelo Fim da Violência Contra a Mulher, no dia 6; e o Dia Internacional dos Direitos Humanos, fechando a grade, no dia 10. A jornada conta ainda com palestras e rodas de conversa distribuídas ao longo dos 16 dias, sobretudo nas zonas de periferia do estado.
         
          Além de conscientizar a população, os 16 Dias de Ativismo tem o objetivo de agregar parceiros à causa das mulheres. Para motivar o protagonismo, a secretária Maria Teles convida as mulheres: “A violência de gênero vai muito além do olho roxo e do xingamento. Nós temos nossa imagem explorada e mercantilizada. Ganhamos menos que os homens desempenhando as mesmas funções. Sofremos uma opressão histórica, uma relação de dominador e dominado que deve ser quebrada. A mulher não pode simplesmente esperar que o vento sopre a favor. A luta tem que ser nossa”.

 Para saber mais

          Se você sofre deste problema, conhece alguém ou quer se informar sobre, os links a seguir podem servir para uma orientação a mais:






Por Nayara Arêdes
Fotos: Stand na Praça Fausto Cardoso e Material da campanha: Iargo Souza/ Maria teles e Renata Abreu: Nayara Arêdes
Arte sobre o dia 25 de novembro: Nayara Arêdes
Edição: Ana Carolina Souza


Nenhum comentário:

Postar um comentário

 
Contexto Online | by TNB ©2010