Aracaju precisa de mais verde

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011


Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), em 2008, mostrou que o índice de área verde por habitante em Aracaju é de 0,66 metros quadrados. Esse número é 22 vezes menor do que o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (SBAU), que propõe um valor de no mínimo 15 metros quadrados por habitante. O estudo apontou ainda que alguns bairros da capital sergipana possuem muito menos vegetação que outros.

Pesquisa mostra as disparidades de arborização entre zonas da cidade.

    Os números revelam um quadro preocupante, pois são muitos os benefícios que a arborização pode trazer ao ambiente urbano. Que vão desde a diminuição da amplitude térmica, que pode ser diminuída em até 10 graus; proporcionar sombreamento dos espaços, tornando-os mais agradáveis; e diminuir a poluição do ar. Além de melhorar o aspecto paisagístico, fazendo com que a cidade fique mais bonita

    Três anos se passaram e de lá pra cá a situação ainda é a mesma. É o que informa o andamento da mesma pesquisa realizada pelo grupo de Geoecologia e Planejamento Territorial (Geoplan), liderado pela professora Rosemeri Melo e Souza. Segundo o grupo, “Aracaju continua sendo uma das cidades com o menor índice de arborização e com grandes problemas de irregularidades na distribuição de árvores nos bairros e nas zonas de ocupação”. Os pesquisadores também informaram que não houve nenhum dado novo e nenhum melhoramento das áreas pesquisadas. Isso mostra uma falta de compromisso do poder público na implantação e manutenção de áreas verdes públicas na cidade.

Antonino Campos Lima - Engenheiro Agrônomo da AEASE.
    De acordo com o engenheiro agrônomo da Associação de Engenheiros Agrônomos de Sergipe (AEASE), Antonino Campos Lima, a urbanização em Aracaju se constitui como um dos principais problemas para a arborização. “A nossa cidade é hoje uma selva de pedras, os prédios estão tomando o lugar das árvores, e as calçadas estão cada vez mais estreitas, o que impede o plantio de árvores e o surgimento de novos espaços verdes”. Ainda segundo o agrônomo, a urbanização é fundamental e necessária, porém ela tem que vir acompanhada de sustentabilidade.

    Não há como negar que em Aracaju existe uma grande necessidade de se implantar mais áreas verdes e de resgatar a vegetação arbórea que foi devastada pelo progresso urbano. Porém, é necessário um maior planejamento para que não ocorram equívocos no processo de arborização da cidade. Atualmente, a capital sergipana conta com alguns parques que servem de refugio para quem gosta de desfrutar de muita sombra e muito verde, são eles: o Parque da Cidade, no bairro Industrial; Cajueiros, na Coroa do Meio; Teófilo Dantas, no Centro; e o da Sementeira, no Jardins.

    Existem hoje em Aracaju, cerca de 70 tipos de espécies de árvores espalhadas na área urbana, entre elas as mais comuns são: a amendoeira, fícus, oitizeiro e mata-fome. Mas segundo o agrônomo, muitas dessas árvores são velhas e inadequadas para a arborização de vias públicas.Essas espécies foram plantadas sem nenhum tipo de planejamento estratégico, o que acaba ocasionando diversos problemas devido à incompatibilização com estruturas urbanas. Por isso, devem ser substituídas por espécies mais adequadas a condição vigente da cidade, porém tem que ser de uma forma lenta e planejada”, argumentou.


     Iniciativas para tentar mudar a situação

Horto florestal da Emsurb.
    Mulungus, aroeira, ipês, craibeira e amendoeiras são algumas espécies de árvores que são cultivadas no horto florestal da Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb) ,que funciona no Parque Augusto Franco (Sementeira). Além delas, outras infinidades de plantas ornamentais são cultivadas no lugar.
     
     Segundo coordenador do horto, Ricardo Freire, os principais trabalhos realizados no local consistem na reprodução e multiplicação das mudas através do processo de estaquias, bem como o  enchimento de bolsas. “A estaquia é um método muito mais produtivo para o desenvolvimento das plantas, do que o plantio convencional realizado por meio de sementes. Em 15 dias já é possível perceber grandes progressos no desenvolvimento das espécies", explica. 
Ricardo Freire - Coordenador do horto florestal da Enmsurb.
 
    “O horto conta com 16 trabalhadores e com uma turma de jovens aprendizes composta de 34 adolescentes, distribuídos na área de jardinagem. São produzidas aqui cerca de 15 a 20 mil mudas  por mês. As plantas levam em torno quatro a seis meses  para se desenvolverem. Têm algumas que se desenvolvem em menos tempo que  outras, por causa da época. E todas elas passam pela estufa e só depois, quando já estão brotando são retiradas para o ambiente natural”comenta Ricardo. 



    Alguns projetos como Plantando Cidadania já vêm sendo desenvolvidos pela Emsurb desde 2009,  atuando em vários pontos da cidade com plantio de mudas de árvores. O projeto integra o serviço de plantio em parceria com a comunidade local, onde há a necessidade de cooperação para o desenvolvimento da vegetação arbórea. A iniciativa visa ampliar quantitativa e qualitativamente a cobertura vegetação da cidade.   

    De acordo com assessoria de comunicação da Emsurb, dentro do projeto também vêm sendo desenvolvidas reuniões do Comitê Consultivo de Arborização Urbana, que congrega as instituições públicas e privadas locais, ONGs, associações de classe e representantes da comunidade aracajuana. Na oportunidade, em reuniões, a comunidade científica vem sendo ouvida, fazendo com que o serviço de arborização se torne um tema de discussão de todos.

    Ainda de acordo com assessoria de comunicação da empresa, foram plantadas entre 2009 e 2010, 20 mil mudas de árvores que abrangeram as Zonas Norte, Sul, Leste e Oeste da cidade. Só em 2011, foram cultivadas aproximadamente 10 mil mudas.  Sendo que a preferência é para as espécies nativas da mata atlântica.


Mudas de árvores que serão plantadas em avenidas capital.
  

     E fica o alerta

    Para professor de agronomia da UFS, Mário Jorge Campos, Aracaju ainda está longe de ser uma cidade arborizada, e falta prioridade por parte dos governantes. “Precisamos ter uma melhor estrutura não só para plantar, mas para manter. Porque não adianta a prefeitura dizer que plantou 40 árvores, se morreram 39 por falta de cuidadas. Só plantar, não adianta é preciso muito mais, e principalmente uma boa vontade política para fazer dessa causa uma prioridade” destacou o professor.


Repórter: Joseillton Bispo
Fotos: Joseillton Bispo
Editor: Eduardo Ferreira

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