Vida animal ameaçada: gatos vêm sendo mortos na UFS

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011


 
Em grupo ou solitários, dando cambalhotas ou sisudos, os milhares de gatos que vivem na Universidade Federal de Sergipe (UFS) fazem parte do cotidiano de estudantes, professores ou de quem transita na instituição. Porém, casos de maus-tratos a esses animais são mais comuns do que se imagina. O que ninguém sabe é que, inofensivos e muitas vezes alheios aos olhos dos transeuntes, os bichanos tem sido vítimas da violência humana. Vidas têm sido ceifadas gratuitamente devido à insensibilidade de verdadeiros terroristas que se propõem a agir de forma cruel, mesquinha e covarde.
Segundo a professora do Departamento de Psicologia, Elza Francisca Correia Cunha, que vem lutando de forma arraigada para garantir os direitos dos animais, os crimes começaram em 2008, porém, a brutalidade ganhou força no primeiro semestre deste ano. Só no mês de outubro, cerca de 20 gatos foram assassinados. Já no feriado do dia 15 de novembro (Proclamação da República), uma colônia inteira de gatos foi morta. “Foram quatro gatos envenenados,  deste grupo dois adultos e dois filhotes. Só um sobreviveu, mas está traumatizado, viive choroso e não quer contato com as pessoas”, relata. Outro crime que chocou até mesmo quem não gosta dos animais, segundo a professora, foi a morte de uma gata, há duas semanas. Ela teve as quatro patas quebradas; e a arma usada para acabar com sua vida, um pedaço de pau que foi deixada ao lado do seu corpo. “Era a gatinha mais mimosa e carinhosa daqui, fazia amizade com todos. Sua morte mexeu com todos nós”, lamenta visivelmente emocionada.
Ao lado da professora Elza Francisca, em defesa dos animais, encontra-se também o Projeto Ecológico da UFS, criado em 2007, tem como objetivo abarcar todas as comunidades de animais domésticos do Campus de São Cristóvão. A iniciativa é vinculado à Pró-Reitoria de extensão e conta com a parceria de ONGs, entre elas a Amigos dos Animais (AMA), além de clínicas veterinárias, professores, estudantes, entre outros membros. Os animais assistidos recebem alimentação, acompanhamento médico, além do carinho do grupo, indispensável para se viver bem. O projeto aceita doações de medicamentos e alimentos para os animais. Os interessados devem entregar os produtos na secretaria do Departamento de Psicologia ou na sala da professora Elza, localizada no mesmo prédio.
Campanhas educativas alertando estudantes e visitantes quanto a importância de cuidar bem e acolher os animais, evitando a disseminação da violência, têm sido frequentes na UFS, no entanto, é um processo longo e o resultado não vem de imediato.
Frequentadora da instituição de ensino superior, principalmente nos fins de tarde, onde pratica diariamente caminhadas, a moradora do Rosa Elze, bairro onde está localizada a universidade, Elen Beatriz Santana, vê a ação como uma monstruosidade sem tamanho. “O que estão fazendo com os inofensivos gatinhos está aquém dos princípios humanos. Somente pessoas sem amor e Deus no coração para praticar atos tão asquerosos e covardes”, desabafa.
 Alguns gatos tem se tornado arredios e  fogem da companhia dos humanos.

A professora Francisca relata também que as mortes são causadas por envenenamento e requintes de crueldade, onde antes do serial killer (assassino em série, em inglês) executar suas vítimas, não bastasse tamanha brutalidade, ele gosta de mutilá-las e jogar seus corpos a céu aberto, como aconteceu com o crime do dia 15 “A pessoa que age dessa forma vil e aterrorizante só pode ser classificada como psicopata e muito perigosa para a comunidade”, revela indignada.
A estudante do curso de Letras, Ana Carolina Cardoso da Mota, 22 anos, classifica como monstruosa a atitude de quem está exterminando os gatos. “É um absurdo sem tamanho. Não se pode sair por aí matando gratuitamente animais, isto precisa chegar ao fim urgentemente. As autoridades competentes precisam agir de forma enérgica para coibir essa ação diabólica”, manifesta.
Ainda de acordo com a estudante, o livre acesso de pessoas à UFS, facilita a ação de marginais. “A UFS propaga que como instituição pública não pode proibir a entrada da sociedade nos seus campi, porém, é necessário reverter seus conceitos, já que ações com requintes de crueldade têm acontecido diariamente na instituição”, salienta.
O serial killer age de forma silenciosa, na calada da noite para não levantar suspeitas. Arquiteta seus planos diabólicos e os executa com a frieza de quem está participando de uma gostosa brincadeira. “Essa pessoa perversa age de madrugada, friamente. No dia em que a colônia de gatos foi envenenada, quando os trabalhadores chegaram à UFS, por volta das 6 horas, ainda encontraram os bichinhos agonizando”, observa a professora Elza. 

 
 Maltratar animais é crime

As atrocidades contra os gatos da Universidade Federal de Sergipe foram parar na Polícia Federal e em seguida transferidos à Polícia Civl do município de São Cristóvão. O boletim de ocorrências de n° 06591.0 -0012998, recebido pela delegacia metropolitana do bairro Eduardo Gomes, assinado pelo Projeto Ecológico e pela professora Elza Francisca Correia Cunha, relata com detalhes a violência praticada contra animais na UFS. As investigações continuam, porém, até o momento não existem indícios ou suspeitas de quem esteja por trás dos crimes. “Tem muita gente que não gosta dos animais, mas nós preferimos não levantar suspeitas sem provas concretas. Confiamos no trabalho da polícia. A verdade virá à tona e os culpados serão punidos”, encerra a professora Elza.
São criminosos os que abandonam, ferem e mutilam animais, como está explícito na Lei nº. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Os danos ambientais, maus-tratos contra animais domésticos, nativos ou exóticos caracterizam crime e podem render pena de detenção de três meses a um ano e multa, o que é considerado por especialistas uma pena branda.
        Para o estudante de Ciências Atuárias, Alyson José dos Santos, 20 anos, na verdade o que falta é fiscalização e campanhas para alertar os donos de animais a não abandoná-los. “A Universidade Federal de Sergipe, como instituição pública e patrimônio do povo, precisa agir energicamente através da promoção de campanhas educativas, visando o não abandono de animais na UFS, só assim, com a diminuição do número de animais soltos, consequentemente a violência diminuirá. É importante se falar do benefício que um animal traz a quem o acolhe e trata com amor e carinho”, pontua.
Quando questionado sobre o caráter da pessoa que pratica atrocidades contra animais, o estudante foi categórico. “É uma pessoa de índole perversa e muito perigosa para a sociedade. Se ele é capaz de matar seres indefesos, tem também capacidade para aniquilar um ser humano sem remorso”, garante. 

 Com a série de crimes que vêm acontecendo nos últimos anos, o futuro dos gatos é incerto.

 
A voz da instituição sobre o assunto

Procurada pela reportagem do Contexto Online para comentar sobre a série de crimes que vem ocorrendo no Campus de São Cristóvão, através da sua assessoria de comunicação, a UFS informou que ‘os gatos não são responsabilidade da Universidade como instituição e que existem programas nos Departamentos de Zootecnia e Medicina Veterinária para dar assistência aos animais’.
Depois de muita insistência, nossa equipe conseguiu conversar com a professora do Departamento de Zootecnia, Angela Cristina Dias Ferreira. De acordo com ela, existe sim um projeto do Departamento que visa assistenciar os animais que vivem na UFS, porém, no momento o programa está inativo devido à falta de profissionais para atender as necessidades dos animais.
Tentamos falar também com o Departamento de Medicina Veterinária, mas não obtivemos êxito em nossas inúmeras tentativas.
Em meio à barbárie que os envolve, sem serem ouvidos por muitos, quase que silenciosamente, os gatos soltam um sonoro miau de socorro, implorando por um basta a essa monstruosidade que tem ameaçado a vida animal na UFS. Nos corredores da instituição é sabido que há duas torcidas: uma que aceita conviver com os animais pacificamente e uma outra que é a favor de sua retirada do local. Mas nada justifica a violência para com esses series tão dóceis e simplórios.
O silêncio encoraja os torturadores e criminosos, permitindo que as crueldades continuem. Denuncie os maus-tratos cometidos contra os animais, ligando:
        
         IBAMA - Linha Verde: 0800 61 80 80
         Disque Meio Ambiente: 0800 11 35 60
         Corpo de Bombeiro: 193
         Polícia Militar: 190
 

        Para conhecer o trabalho da AMA, uma das ONGs que lutam em prol dos direitos dos animais, acesse: http://www.amigosdosanimais.com.br


Por: Dafnne Victoria do Nascimento
Fotos: Dafnne Victoria do Nascimento e site da AMA
Editor: Eduardo Ferreira Santos

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