A UFS e as polêmicas com o resultado do Enade

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011


A Universidade Federal de Sergipe (UFS) recebeu do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) o conceito três no Índice Geral dos Cursos (IGC), esta avaliação é obtida através dos resultados do Enade (Exame Nacional de desempenho dos estudantes) e do CPC (Conceito Preliminar de Curso). A aceitação da avaliação, entretanto, não é unânime, há tanto os que expõem faixas destacando os ótimos resultados, quanto os que não respondem a avaliação como forma de protesto.

Os conceitos distribuídos pelo INEP no IGC estão em uma escala que vai de 1 a 5; os resultados 1 e 2 são considerados insuficientes e os que vão de 3 a 5 são vistos como satisfatórios. O índice 3 obtido pela UFS significa que a Universidade recebeu o menor conceito necessário para ser considerada satisfatória. Além da UFS receberam o índice 3 as Universidades Federais de Alagoas, Piauí e Maranhão, no Nordeste, e todas as Federais que representam os estados da Região Norte. O conceito máximo não foi obtido por nenhuma universidade privada, mas por 10 universidades públicas, das quais nove estão nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e uma no Rio Grande do Sul.

O CPC é um dos indicadores que compõem o IGC e é medido através da estrutura física, do corpo docente e do projeto pedagógico. O Enade é a parte da avaliação que se volta para o aprendizado dos alunos e é realizado anualmente por universitários ingressantes e concluintes de cursos pré-selecionados pelo Ministério da Educação. Assim como o IGC e o CPC, o Enade tem o seu resultado materializado em uma escala que vai de 1 a 5. O exame é um componente curricular obrigatório e aparece no histórico escolar do aluno, indicando apenas a regularidade ou a falta dela. Estudantes em situação irregular não podem receber o diploma até contornarem a situação.

A UFS teve 12 cursos avaliados em 2010, deles um ainda não teve a avaliação concluída, Medicina Veterinária e por isso não tem conceito, quanto aos demais, nove obtiveram resultados bons ou ótimos, com destaque para os cursos de Medicina, Nutrição e Zootecnia que obtiveram conceito cinco no Enade e quatro no CPC. Em oposição aos cursos citados, estão os de Engenharia Agronômica e Serviço Social que obtiveram o conceito 2 tanto no o Enade, quanto no CPC. A divisão percebida é muito mais do que uma diferença de aproveitamento, mas é o reflexo da posição política dos alunos que discordam das avaliações realizadas pelo Ministério da Educação.

O bom Enade
          De acordo com o Coordenador da Comissão de Avaliação Institucional da UFS (Coavi), Marcos Castanheda, o Enade reflete o conteúdo que o aluno absorveu ao longo do curso e junto com os outros processos avaliativos tenta identificar os problemas e as vantagens das instituições, para a partir deles continuar e melhorar o que está bom e consertar o que está ruim. O boicote, segundo ele, prejudica esse processo avaliativo. “Se o aluno tira uma nota baixa não por aquilo que ele conhece do conteúdo do curso, mas por um fato de protesto, isso não vai refletir a realidade. Então ficamos sem saber qual a situação real daquele curso.”, diz Castanheda. 
Marcos Catanheda, Coordenador do COAVI

          Ainda segundo o coordenador da Coavi os resultados negativos não geram cortes em recursos. “Hoje o método de cálculo da distribuição de recursos para os cursos não envolve o resultado do Enade.”, ele acrescenta que uma nota muito baixa apenas passa para a sociedade que o curso é ruim, imagem muitas vezes equivocada. “A democracia permite que a cada um tenha sua posição sobre as suas ideias. Independente disso, a parte da instituição é acompanhar esse processo de avaliação, esclarecer para a comunidade acadêmica a importância do processo e deixá-los livres para realizar suas escolhas.”, conclui Marcos Castanheda.

          A Coordenadora do Núcleo de Nutrição, que obteve nota máxima no Enade, Doutora Elma Regina Silva de Andrade, atribui o resultado positivo ao trabalho em equipe do grupo de professores, ao plano pedagógico generalista e ao esforço dos alunos. “Os alunos estão entusiasmados, dificilmente existem alunos desistentes no nosso curso. E com essa avaliação, as outras turmas que não fizeram a prova ficaram muito empolgadas também.” A professora e ex-coordenadora do núcleo e doutora Raquel Simões afirma que a repercussão para os alunos, técnicos e professores está sendo muito boa. “Estamos todos muito orgulhosos, muito satisfeitos com o desempenho desses nossos alunos. As maiores repercussões a gente espera que venham agora. Com a perspectiva de fecharmos em pelo menos dez o número de professores no próximo ano, hoje, somos sete.”, afirma Raquel Simões.
Elma Regina e Ângela Cristina, professoras de Nutrição e Zootecnia
          O Núcleo de Nutrição, de acordo com a atual coordenadora, se posiciona junto aos alunos sobre o boicote. “No ano passado, para o Enade, uma das formas de incentivo foi justamente falar para eles [sobre] o não ao boicote, mostrando que há outras formas de reivindicar”, diz Elga Regina.  Uma postura semelhante é tomada pelo departamento de Zootecnia. “Os professores conversam constantemente com os alunos a respeito da importância das avaliações que o curso sofre, esclarecendo que os melhores desempenhos, como foi o caso de zootecnia em 2010, revertem em melhorias para o curso.”, afirma a Chefe do departamento e Doutora, Ângela Cristina Dias Ferreira.

          Para o departamento de Zootecnia, o resultado positivo que coloca o curso como o melhor do Nordeste e o terceiro melhor do Brasil, indica que a formação melhorou e influencia os demais estudantes. “Isso gera estimulo para os alunos e para quem tem interesse na profissão, que vem se destacando cada vez mais.”, sobre os alunos que boicotam a prova a opinião de Ângela Cristina é taxativa: “São desinformados e mal instruídos, pois não avaliam as consequências dessa atitude para o curso. A princípio eles entendem o boicote como forma de protesto, mas nem sabem o real objetivo.”, afirma.
O mau Enade
          A Coordenadora da Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (ENESSO), Larissa Alves dos Santos, fala por um grupo que tem um claro posicionamento a favor do boicote, pois acredita que a avaliação não transmite a realidade dos cursos. O protesto refere-se principalmente ao fato de a prova ter um modelo único sendo aplicado a universidades com realidades diferentes, ao fato de os testes serem aplicados apenas aos estudantes e não aos professores e técnicos administrativos, a cobrança muito focada em conteúdos, em vez de na sua aplicação, e a falta de uma avaliação mais direta das estruturas dos cursos. “A gente faz o boicote porque não concorda com o jeito que é feita essa prova, com a forma que é avaliado, com a forma que é dividido o financiamento. A gente quer, sim, que se faça uma avaliação, mas uma avaliação de qualidade”, afirma Larissa Alves.

Larissa Alves, Coordenadora da ENESSO
          Outra crítica do Movimento Estudantil de Serviço Social é a geração de um ranking para separar boas e más universidades. “O Enade – nessa conjuntura, nesse momento e desse jeito que está sendo feito – é só para ranquear mesmo”, indica Larissa, que acrescenta a universidade tem uma postura repressora e que impede a diversidade de opiniões. “A universidade acaba mobilizando o estudante para não fazer o boicote e para não entender o que é o Enade, pois antes do boicote é preciso entender o que é o Enade, não faz sentido uma pessoa boicotar sem saber o que ele é e para quê serve”, diz a Coordenadora do ENESSO.

              O boicote, ainda segundo Larissa Alves, está passando por um processo de reavaliação, pois as mobilizações não têm atingido a dimensão esperada. “O boicote não vem surtindo o efeito que a gente quer que surta. Pensar em uma nova estratégia é um pouco do que a ENESSO está tentando fazer agora”, lamenta. A Chefe do Departamento de Serviço Social à Doutora Maria Cecília Tavares Leite, concorda com o movimento estudantil, a respeito de uma avaliação ampla demais não refletir completamente o curso e sobre o fato de o boicote não estar gerando o impacto esperado, mas acredita que ele não é a melhor forma de protesto ou mobilização. O boicote, segundo ela, é positivo por chamar a atenção para a realidade do curso, mas é negativo por gerar para a sociedade uma avaliação ruim do curso.

          A Chefe do Departamento de Serviço Social chama a atenção para rápido crescimento da universidade nos últimos anos. “Os departamentos, acredito que quase todos, não conseguiram acompanhar a expansão. No curso de Serviço Social, por exemplo, nós temos mais de 500 alunos e o corpo docente ainda é insuficiente para a quantidade, então nós necessitamos de concurso público, de professores, mas é lógico que isso é um processo que não se faz do dia para a noite”, afirma Maria Cecília, que conclui relembrando o conceito obtido: “Essa nota dois não reflete a qualidade do curso. Apesar de todos os problemas, o Serviço Social da UFS não é dois. Ele é muito mais do que isso”.

Chefe do DEA
          De acordo com o Chefe do Departamento de Agronomia (DEA), Prof. Dr. Laerte Marques da Silva, o boicote que resultou em uma nota dois para o curso, não é uma crítica apenas à prova, mas é uma indicação de que há insatisfações anteriores. “No curso de agronomia nós tivemos um boicote de 95% dos alunos, dos 71 alunos dos concludentes que fizeram a prova, somente três responderam as questões, os outros somente assinaram e entregaram a prova em branco”, diz Laerte Marques. O DEA, segundo ele, também foi prejudicado por um erro do Ministério da Educação. “Somos 28 professores, houve um erro, não sei como, mas eles estão levando em consideração que temos 23 professores”, aponta o Chefe do Departamento de Agronomia.

          O Prof. Dr. Laerte Marques apresenta ainda outras questões que podem ter repercutido na avaliação negativa do curso de Engenharia agronômica, como o incomodo gerado por uma reforma curricular, que faz com que os alunos avaliem mal o projeto pedagógico e a análise dos professores que leva em consideração docentes de outros departamentos que ministrem aula para o curso, fazendo com que o DEA não tenha controle e o número de doutores caia de 95 para 33%. “Os alunos não concordam com a prova, e esse fato deles não concordarem já está sinalizando alguma coisa.”

Por: Egicyane Lisboa, Iargo de Souza e Liliane Nascimento
Fotos: Egicyane Lisboa e Iargo de Souza
Edição: Lenaldo Severiano

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