Fimose e falta de higiene podem levar a amputação do pênis

terça-feira, 8 de maio de 2012

Causas sociais, como pobreza e falta de instrução, aliadas à uma patologia, a fimose, são apontadas como as principais causas do câncer de pênis, um câncer que não mata, mas deixa sequelas físicas e psicológicas graves nos homens afetados. Em todo ano de 2011 foram registradas doze intervenções cirúrgicas no Hospital Cirurgia para amputação de pênis. Nos primeiros meses deste ano, mais três casos foram confirmados, entre eles um homem de 22 anos de idade.
“Com água e sabão você previne isso. Doze casos. Doze amputações em um ano é muito, é uma estatística estúpida”, afirma o médico Alexandre Barotto, urologista que atua no HUSE e no Hospital Cirurgia. O câncer de pênis atinge, em sua maioria, homens na faixa entre 50 e 60 anos de idade, mas pode ocorrer também em homens jovens. Costuma ser desencadeado por lesões e irritações constantes na mucosa peniana, causadas por doenças e secreções que não foram removidas. É na cabeça do pênis, chamada glande, que as lesões costumam se formar, embaixo da pele que a cobre, chamada prepúcio.
Desse modo, os médicos afirmam que bons hábitos de higiene podem sim prevenir esse tipo de câncer. Mas quando há fimose, um excesso de pele no prepúcio, pode ser mais difícil fazer a limpeza. Segundo o doutor Barotto, os doze casos de cirurgia para amputação de penes em 2011, em Sergipe, apenas um não tinha fimose.
A circuncisão, procedimento cirúrgico de retirada do prepúcio, facilita a higiene, reduzindo drasticamente as chances de desenvolver câncer de pênis e, até mesmo, algumas doenças sexualmente transmissíveis (DST). A circuncisão é oferecida pelo Sistema único de Saúde (SUS), e pode ser feito ainda nos bebês. Ela é comum entre os judeus, por exemplo, por motivos religiosos. 
Um dos fatores apresentados pelos profissionais e gestores da saúde é a falta de cultura do homem de cuidar da própria saúde, padrão mais freqüente em regiões e níveis sociais mais pobres. Segundo Francileide Santana, referencia técnica do Programa de Saúde do Adulto, Idoso e Homem, da Secretaria municipal de saúde de Aracaju (SMS), os serviços de circuncisão e vasectomia oferecidos pelo SUS nem chegam a formar fila de espera. Mas existem controvérsias quanto à própria disponibilidade de OUTROS?! serviços e preparo dos profissionais para cuidar da saúde do homem, uma vez que o tema se tornou campanha nacional do Governo Federal.
Diagnóstico e tratamento
A primeira coisa que o homem percebe em seu pênis é uma lesão verrugosa, que não cicatriza e pode ter secreção com odores. Essa lesão nem sempre é visível, podendo estar debaixo do prepúcio. Após perceber a lesão, é feita uma biopsia para confirmar se há câncer.
Barroto afirma que nem sempre lesões visíveis significam que a doença está num estágio avançado. Ao contrário do que muitos pensam, nem sempre é necessário realizar a emasculação, cirurgia de retirada completa de toda a genitália. A dimensão da amputação varia de acordo com o tamanho da lesão causada pelo tumor.  Ele conta que existem procedimentos que evitam a amputação, como a retirada a laser ou o congelamento do tumor.
O médico explica que, em alguns casos, o paciente pode ter uma vida quase normal. “Dependendo do tamanho da secção, alguns podem continuar a urinar de pé. Também não interfere na continência urinária”, diz. Afirma ainda que o maior empecilho na retomada da rotina é psicológico. “A depender, pode continuar tendo vida sexual. Geralmente quando resta algo acima de quatro centímetros”.
Apesar do grande impacto psicológico, Barotto explica que, em termos médicos, a cirurgia de amputação é muito simples, e o pós-operatório não traz muitas complicações. Segundo ele a situação mais delicada, e que pode levar ao óbito, é quando os tumores se espalham pela região da virilha e da coxa. Forma-se uma massa infectada que pode causar uma infecção generalizada.

Prevenção
 “O maior trabalho quanto ao câncer de pênis é a prevenção. O máximo que se pode fazer com outros tumores, como o de próstata, é descobrir inicialmente, mas não prevenir”, afirma  Barotto. Não existem estudos que comprovem a influência do fator genético no surgimento desse tipo de câncer, embora se acredite que haja alguma interferência. Mas as constantes lesões que podem desencadear a doença são frequentemente causadas pela falta de higiene.  É necessário que, ao tomar banho, o homem descubra a glande para lavar e remover todo o esmegma, restos de urina, esperma e outras secreções.
O Papilomavirus Humano (HPV), conhecido por causar câncer de colo do útero nas mulheres, também pode gerar o aparecimento de câncer de pênis nos homens. Nem todos os portadores do vírus desenvolvem doenças, e os que desenvolvem costumam partir para o tratamento sem fazer o exame viral, por isso não existem dados concretos quanto à interferência do HPV nos homens. Segundo Barotto, “Comportamento sexual promíscuo sem o uso de camisinha está relacionado ao HPV que está relacionado ao câncer de pênis”.

Saúde do homem
No dia 27 de agosto de 2009, por meio da portaria 1.944, o Governo Federal instituiu a Política Nacional de Atenção à Saúde do Homem. Logo em dezembro desse ano a SMS criou, dentro do Programa DST/AIDS e Hepatites Virais, o programa de Saúde Homem. Já Em março de 2011 o Programa de Atenção ao Adulto e ao passou a incluir o programa voltado ao público masculino.
O Programa promove rodas de debate sobre a saúde do homem com funcionários das 43 Unidades de Saúde da Família de Aracaju. Representantes de várias categorias se reúnem para discutir e problematizar as questões da saúde do homem, e principalmente incentivar a cultura dos pacientes e dos profissionais em cuidar da própria saúde. Os debates incluem temas como sobre exercícios físicos, higiene bucal e genital adequadas, e até mesmo a sensibilização do usuário. Em poucas ocasiões, a SMS já realizou programa similar com a população, em construtoras e supermercados.
Fabrício Santos, coordenador do Programa de Saúde do Adulto, Idoso e Homem, reitera a importância de promover esses debates primeiramente entre os funcionários. Segundo ele, a formação dos profissionais já é direcionada a dar maior atenção a saúde da mulher e da criança. “Nas rodas, os profissionais são convidados a desenhar e descrever um homem e, com isso, muitos percebem o machismo que possuem”, conta ele.  Fabrício Almeida conta sobre uma parceria entre a SMS e a Secretaria Municipal de Educação (SEMED). Por meio do Programa Saúde na Escola (PSE), ocorrerá em julho uma oficina com professores, para que eles repassem as informações aos seus alunos.
Quanto ao câncer de pênis, a referencia técnica Francileide Santana, conta que o tema é abordado como uma das muitas partes da vida de um homem. “Em primeiro lugar o que mata o homem é a violência, em segundo lugar os problemas cardiovasculares. O homem deve ver sua vida como um todo. Por acaso o homem só tem pênis? E nem cuida dele?”, disse ela.
Mas existem controvérsias quanto à disponibilidade de serviços. A doutora Ruth Andrade afirma que a propaganda do Governo Federal estimula que o homem cuide de sua saúde, mas não houve um crescimento ou melhora da oferta de serviços destinados a ele. “A biopsia do tumor de próstata é cara e não é oferecida pelo SUS”, afirma ela. Já Francileide diz que “todas as campanhas do governo federal foram pobres”. 
O médico Alexandre Barotto conta que os procedimentos alternativos a amputação, mesmo que de uso raro, nem mesmo estão disponíveis em Sergipe. Questionado sobre o acompanhamento psicológico aos pacientes, ele explica que não é feito. “Em geral não temos uma equipe multidisciplinar para isso no SUS”, conta. Mas Fabrício lembra que as políticas existem há pouco tempo. “A mudança é lenta, feita num trabalho de formiguinha”, diz. Mas ele afirma que “antes de criar serviços, o mais importante é criar a cultura do cuidado”. 

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