Mercado de trabalho formal ainda é limitado para neomulheres

terça-feira, 8 de maio de 2012

Cerca de 90% das travestis tem nos programas sexuais sua atividade profissional, segundo dados da Articulação Nacional deTravestis e Transexuais (Antra). Este número referente às travestis reflete a dificuldade que as neomulheres (termo que inclui além das travestis, as transexuais), têm para sua inserção formal no mercado de trabalho, fruto ora do preconceito ora da baixa escolaridade que apresentam.
A maioria das neomulheres não consegue emprego formal por conta do preconceito. Mas este não é o único percalço na hora de conseguir emprego. A falta de escolaridade e profisisonalização também estão interligados. Assim, para elas, não resta outra opção a não ser o trabalho sexual.
 Apesar de não ter um projeto específico para a inserção de travestis e  transexuais no mercado de trabalho, o Centro de Prevenção e Combate à Homofobia de Sergipe (CCH) possibilita que as neomulheres tenham acesso a cursos e oficinas de capacitação como forma de oferecer chances de ingresso no mercado de trabalho formal.
O Centro de Referência não faz um trabalho específico para a inclusão das neomulheres no mercado de trabalho, explica a coordenadora do CCH e psicóloga, Cláudia Andrade. Segundo ela, são feitas “várias oficinas, ligadas a parte da culinária, mas não desenvolvendo capacitações para inseri- las num mercado maior”. Além disso, o Centro tem algumas redes, que podem encaminhar e orientar essas pessoas a procurarem uma alternativa.”, disse.
De acordo com a coordenadora, as neomulheres têm dificuldades de se firmarem no mercado de trabalho formal por vários motivos, sendo o primeiro deles a baixa escolaridade, seguido da discriminação e da necessidade de qualificação.
Entre as travestis, é comum a evasão escolar por causa do preconceito, e a partir daí vão para as ruas. Muitas reclamam por não terem conseguido estudar, não poderem fazer uma faculdade e exercerem uma profissão que lhes garanta a sobrevivência, sem terem que recorrer à prostituição.
Muitas vivem à margem da sociedade, sendo mal vistas e discriminadas. Isso ocorre porque elas não tiveram a oportunidade de concluir seus estudos. “Quando chegam ao Centro não satisfeitas com o que estão fazendo, percebemos que elas não estão bem ali”, declarou Cláudia.
Para minimizar esse problema, o CCH busca inserir travestis e transexuais em algum programa de educação, seja ele federal, estadual ou municipal. “O primeiro passo do Centro é o atendimento multidisciplinar [áreas social, psicológica e jurídica]. A partir do momento em que é percebido que a pessoa precisa de incentivo na área da educação a gente tem que encaminhar”, explicou Cláudia Andrade.
Embora não existam dados concretos, saúde, estética, arte e prostituição são as principais áreas de atuação profissional das neomulheres no mercado de trabalho sergipano. Além da falta de escolaridade,  também existe a ausência de políticas públicas que atendam aos anseios e necessidades de travestis e transexuais. Segundo a assistente social do CCH, Edna Lima, a maioria das pessoas atendidas pelo Centro estão fora do emprego formal, mas trabalham de forma informal. “Elas buscam fazer um cabelo, uma unha, a grande maioria dos usuários procuram fazer algo para ter dinheiro. Mas formalmente são poucos que estão trabalhando’, informa.
Vencendo barreiras
Lohanna é um exemplo de determinaçaõ  no estado de Sergipe




Ao vencer a primeira etapa, que é conseguir um trabalho formal, a neomulher enfrenta outro obstáculo: o preconceito. Atualmente trabalhando na Secretaria Municipal de Mulheres do município de Carmópolis (SE), e tutora do curso de Letras à distância da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Adriana Lohanna dos Santos, é um exemplo de superação para travestis e transexuais em Sergipe.
De acordo com ela, travestis e transexuais têm dificuldade de se inserirem no mercado de trabalho principalmente por preconceito. “As pessoas me vêm com aparência feminina e assim me tratam. No entanto, quando descobrem que sou uma pessoa diferente, me tratam de outra forma e são preconceituosas.  Nunca trabalhei na iniciativa privada por causa disso”. O preconceito ainda é, segundo ela  uma realidade e um obstáculo enfrentado diariamente por travestis e transexuais em todo o Brasil.
Aos 25 anos, Lohanna é formada em Letras Português e em Serviço Social. Ela reconhe a importância dos estudos para o seu sucesso profissional. “Somente através dos estudos é que uma pessoa como eu poderá entrar no mercado de trabalho, mais especificamente por concurso público, pois se for bater a porta em empresas, por exemplo, a resposta certa será não, disse a jovem, que quando criança sonhava ser jornalista e advogada.
De acordo com a Constituição Brasileira, discriminar seres humanos por motivos de identidade sexual agride à dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da Constituição Federal), os princípios da prevalência dos direitos humanos (art. 4º, II, CF) e da não discriminação (art. 3º, IV, CF). Vale salientar que há  direitos e garantias fundamentais previstos no art. 5º, como a igualdade de gênero (inciso I), a inviolabilidade da honra (inciso X) e a não submissão à tortura, tratamento desumano ou degradante (inciso III).

Por Nara Barreto
Editora Dafnne Victoria
Foto Arquivo Pessoal de Adriana Lohanna





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