Apresentação do Grupo Imbuaça, "A farsa dos opostos" (Foto: Fabiana Costa, Secult) |
Aplaudido pelo público nas ruas e nos palcos de grandes teatros da capital, o III Festival Sergipano de Teatro (Fest) enfrenta algumas críticas de produtores e artistas sobre critérios de seleção e valores dos cachês pagos aos grupos.
Para selecionar as 25 peças teatrais, o edital prevê uma avaliação com base na qualidade cênica e critérios como consistência da proposta, sem levar em conta o histórico ou tradição dos grupos teatrais. Jorge Lins, criador do Grupo de Teatro Raízes e produtor de espetáculos como “As Mulheres de Hollanda”, “Che” e “A Chegada de Lampião no Inferno”, não concorda com esse tipo de seleção. "Eu tenho uma posição um pouco contrária a esse tipo de Edital, que iguala grupos com históricos diferenciados e montagens diferenciadas".
Já Lindolfo Amaral, diretor do Grupo Imbuaça, um dos mais tradicionais grupos de teatro de rua do Estado e reconhecido nacionalmente, acredita que a forma de realização é válida, apesar de não concordar inteiramente. "O edital para seleção dos grupos que vão se apresentar no festival é uma opção democrática. Poderia haver outras opções, mas a Secretaria resolveu manter um diálogo com os artistas", afirma.
De acordo com a Secretaria de Estado da Cultura (Secult), todas as decisões foram tomadas em conjunto com representantes da classe artística, em uma reunião ocorrida em fevereiro entre a Secretária Eloísa Galdino e agentes culturais. "Ou seja, os critérios exigidos no edital, a forma de seleção e até os cachês foram acordados entre classe artística e poder público, que atendeu os pleitos de acordo com as condições possíveis", afirma a Assessoria da Secult.
Apresentação "Paixão de Cristo", Grupo São Francisco de Assis (Foto: Fabiana Costa) |
Além disso, a secretaria defende que fazer a separação entre os grupos não qualificaria uma escolha democrática. "Relevância artística e do trabalho proposto são critérios do edital do evento. Por isso, não há motivo para separar ‘grupos de relevância’ dos que não possuem essa relevância apontada, até porque essa é uma classificação subjetiva".
O cachê é outro problema encontrado pelos produtores. Para eles, seria injusto que se pague a mesma quantia, de R$ 4 mil reais, a diferentes grupos, com diferentes montagens e número de pessoas. "Querer ser mais poderoso que o mercado, que é quem define o valor de espetáculos, e em nome de uma suposta democracia, pagar igual o Imbuaça, nosso mais importante grupo de teatro, a um grupo criado apenas para o Festival e que estreia o espetáculo às vésperas do evento apenas para cumprir regra, é um absurdo", argumenta Jorge Lins.
A opinião é compartilhada pelo diretor do Imbuaça, Lindolfo Amaral. "Eu sou contra a ideia do cachê padronizado. As produções são diferentes. Temos monólogos que vão receber o mesmo cachê de um grupo com 10 atores. Grupos que vão se deslocar do interior para capital", explica. Em resposta, a Secult afirmou que o cachê diferenciado não foi uma exigência de nenhum dos representantes da classe artística. "A necessidade de ofertar cachê mais alto a um espetáculo que envolve uma estrutura logística maior não foi apontada por agentes culturais das artes cênicas nos contatos com representantes da Secult, mas a proposta pode ser levada em consideração para a próxima edição do Festival". Além disso, a Secretaria também afirmou que não havia nenhum espetáculo produzido às pressas na programação do evento.
O
valor cultural do FEST
(Foto: Divulgação) |
O III Festival Sergipano de Teatro (Fest) é um evento que se propõe a trazer espetáculos gratuitamente para toda a população e divulgar as produções teatrais sergipanas. Este ano aconteceu nos dias 27 de março a 9 de abril. O Fest é uma realização da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) em parceira com o Instituto Banese e tem por objetivo prezar pelo debate democrático entre agentes culturais e o governo.
Apesar
das críticas, tanto Lindolfo quanto Jorge concordam que o Festival é
de grande importância no cenário teatral sergipano, na sua função
de promover gratuitamente os espetáculos. "O festival serve de
vitrine para as produções sergipanas. Espaço de diálogo entre o
poder público, os artistas e a comunidade, além de possibilitar o
intercâmbio entre os grupos sergipanos e grupos de outros Estados",
explica Lindolfo. Já Jorge conta que está bastante satisfeito com a
resposta do público e quantidade de pessoas que aparecem para
assistir aos espetáculos. "Acho que só fato de o Festival
estar acontecendo pelo terceiro ano consecutivo é uma vitória
bastante expressiva", afirma.
Texto: Gabriela de la Vega
Edição: Ruhan Victor Oliveira
Texto: Gabriela de la Vega
Edição: Ruhan Victor Oliveira
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