Hábito da leitura é amplamente cultivado entre jovens de Aracaju

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Apesar da falta de motivação e de programas de incentivo à leitura, Aracaju se mostra rica no que diz respeito ao hábito de redes literárias.

Aracajuanos optam por leitura em livrarias da capital. (Foto: Francielle Couto)

O Brasil é um país carente de leitores frequentes. É o que confirma a 3ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil realizado pelo Instituto Pró-Livro em parceria com a Ibope Inteligência. Foram 5 mil entrevistados em 315 municípios do país, medido entre crianças e adolescentes. Embora os dados apontem que o brasileiro lê em média 4 livros por ano, Aracaju possui um público amplo de leitores assíduos que acreditam no poder do incentivo e da disseminação de ideias.

A ausência do hábito da leitura é um problema decorrente de inúmeros fatores. Para muitos bibliotecários e escritores, o costume deve partir da infância, quando as crianças devem ser apresentadas desde cedo a histórias. Nesse momento, os pais e educadores se tornam seus principais mentores, mas na prática isso nem sempre acontece. Como na maioria dos casos o incentivo que deveria ser dado em casa não é frequente, resta à escola a dura tarefa de cultivar entre os alunos o gosto pela leitura.

Além disso, é difícil encontrar na cidade de Aracaju programas que centrem no incentivo. Porém, apesar da carência de eventos e mostras literárias que proporcionem momentos de lazer e informação aos leitores aracajuanos, existem pessoas que se propõem a mudar essa realidade. É o que acontece com um grupo de amigos que, unidos pela mesma paixão, se reúne pelo menos uma vez por mês no Parque Augusto Franco, localizado na zona sul da cidade. O encontro tem como objetivo compartilhar experiências de leitura e discutir sobre os assuntos literários mais atuais, como lançamentos, questões biográficas, livros mais comentados na blogosfera literária, e muito mais.
Unidos pela mesma paixão: a leitura. (Foto: Francielle Couto)
Fabiana Lima, de 28 anos, crê que em todos os lugares existem bons leitores, mas que no geral ainda falta motivação. A leitora acredita que esse é o principal motivo para o baixo índice de leitura no país, e que sem isso as pessoas não serão capazes de se descobrirem como leitores. Para ela, é mais fácil encontrar pessoas interagindo sobre novela ou futebol, mas raramente sobre obras da literatura. ''A leitura infelizmente é considerada por muitos uma cultura inútil, mas nada é inútil'', afirma. ''Tudo é aproveitado em algum momento da nossa vida. Eu mesma adquiro muito conhecimento através dos livros, coisas que em uma escola tradicional eu não aprenderia'', diz Fabiana.

Além desta, existe outra roda de leitores que se reúne frequentemente com um intuito específico. Unidos graças ao projeto criado pela escritora nacional Renata Ventura, o grupo intitulado ''Potterheads Arretados'' tem como ideia principal reunir voluntários que se disponham a visitar os orfanatos da cidade. O objetivo é propagar a leitura e mostrar que ela tem um poder transformador.

Potterheads em tarde de leitura. (Foto: Arquivo pessoal)
Para o desenvolvimento do projeto os jovens precisam contar com a colaboração de profissionais qualificados que façam o acompanhamento e saibam lidar com as crianças, além de parcerias que contribuam com a ação. O comprometimento e a participação dos interessados para que as visitas se deem de forma organizada e atinjam o ponto alvo também são essenciais. Mas os Potterheads Arretados encontraram alguns problemas na efetivação da iniciativa.

Rafaela Lopes, uma das organizadoras da campanha, afirma não ter obtido nenhuma resposta da Secretaria Municipal de Assistência Social, e sem a autorização as visitas não podem ser realizadas. Graças a isso, tudo que foi arrecadado pelo grupo, como livros infantis, será doado para outro projeto cultural. No entanto, a possibilidade de concretizar a ideia que uniu o grupo não se desfez. ''Para mim, além de conhecer novos amigos, os encontros são importantes para conhecermos outras obras da literatura, e também para entender a opinião de outras pessoas sobre um mesmo livro'', declara Rafaela. A permanência da roda de leitura motiva os integrantes às demais leituras existentes, e está aberta a novos membros. Ela também atua em um grupo específico no facebook, onde são feitas discussões e conversas dos mais variados tipos.

Os grupos existentes creem no poder da comunicação. O intuito deles é mostrar aos demais que ler é o que realmente faz a diferença no mundo, independente do que seja.


O papel das livrarias no incentivo à leitura

Livrarias como ponto de encontro. (Foto: Francielle Couto)
As livrarias da cidade tornaram-se ótimos pontos de leitura para crianças, jovens, adultos e até idosos. São livros de todos os tipos para todos os gostos, e a procura, que não é apenas comercial, faz delas verdadeiros points de apoio.

Gilvan Santos, supervisor de vendas da livraria Escariz e que trabalha no local há mais de 10 anos, assegura que em todo esse tempo já viu pessoas frequentarem o local desde pequenos. Para ele, o intuito principal não é permitir que o público venha somente com a intenção de comprar, mas sim para ter um contato direto com os livros. ''A partir do momento que é criado um local como esse, o pensamento principal é fazer com que sejam formados novos cidadãos. Por isso, não é só uma questão comercial, é de incentivo também'', esclarece. ''Esse é um ambiente em que podemos adquirir conhecimento, e isso não tem preço'', conclui Gilvan.

Blogosfera literária em Sergipe

A blogosfera literária tem se mostrado cada vez mais eficaz para a divulgação e estímulo à leitura. Em Sergipe é possível encontrar pessoas que estão à frente desse trabalho, como o blogueiro Ronaldo Gomes, de 17 anos, que assegura a importância de um blog, mas também enfatiza a responsabilidade que o mesmo traz. ''Uma resenha, por exemplo, precisa ser honesta, tendo como base o ponto de vista da pessoa como leitor. Não adianta dizer apenas que gostou, é preciso dizer o porquê. Só assim teremos pessoas de opinião própria'', declara.

A leitora Anna Beatriz Fernandes, 18 anos, confirma essa teoria ao afirmar que cada um tem uma preferência, e que por isso há leituras feitas de modos diferentes. Para a estudante, isso promove debates entre opiniões às vezes divergentes com a do blogueiro. ''Em alguns casos saímos com vontade de adquirir aquele livro que está sendo resenhado, talvez por curiosidade, ou interesse na temática da obra'', diz. ''Acho toda a divulgação da blogosfera bem motivadora. Um modo diferente e eficaz de incentivo à leitura'', completa.


Redes de relacionamento como ferramentas de divulgação da leitura

Semelhante às redes sociais mais tradicionais, os sites literários são de fácil e rápido acesso, gratuitos e bastante atrativos aos olhos dos usuários. Os mais conhecidos são 'O Livreiro' e o 'Skoob'. Em ambos é possível partilhar opiniões sobre qualquer livro através de notas ou resenhas, formando assim uma legítima estante virtual carregada de críticas e comentários.

Para a leitora Ana Caroline dos Santos, de 27 anos, o uso do skoob permite organizar melhor sua vida literária. Ela acredita na capacidade de incentivo que a rede social possui. ''Já que hoje as pessoas vivem conectadas, essas redes ajudam-nas a conhecerem o que há de novo na literatura. Além disso, é possível conhecer pessoas, e trocar ideias sobre livros e personagens'', afirma.

Mas o estímulo não é característica somente de sites literários. Redes sociais mais tradicionais, como o facebook, também contam com inúmeras páginas que são usadas por leitores para discutir sobre nomes e obras renomadas da literatura, além da troca de expectativas acerca dos lançamentos mais atuais. São destaques também assuntos sobre filmes adaptados de livros e a descoberta de jovens autores. Desafios literários e campanhas também são promovidos, assim como a avaliação de livros e o relato do conhecimento adquirido através da leitura realizada. É uma notória propagação e disseminação de ideias.


Confira alguns dados da última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil feita em 2011. A pesquisa feita com 5 mil pessoas em 315 municípios traça um panorama da leitura no país.
Fonte: Instituto Pró-Livro

Reportagem: Francielle Couto St.
Edição: Leonardo Vasconcelos

Um comentário:

Faby Dallas disse...

amei Fran!
Você colocou fatos super importantes, que retratam a nossa verdade.
Infelizmente o nordeste (em especial) é muito visto como um lugar de poucos leitores.
Espero que possamos mudar isso!

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