Vai de quê? Um panorama sobre a mobilidade urbana em Aracaju

domingo, 21 de abril de 2013


A gasolina aumentou, a tarifa de ônibus subiu e os transportes alternativos se multiplicam: o deslocamento na cidade está longe de ser resolvido

O trânsito em Aracaju                                                                                                                 (Imagem: Reprodução)
A mobilidade urbana - a liberdade de deslocamento de pessoas e bens em espaços - ocupa cada vez mais posição de destaque na vida moderna. Mesmo com avanços significativos através do tempo, locomover-se não se tornou tarefa fácil. Repensar os meios de transporte levando em conta todos os seus fatores, características e funções específicas ainda está longe de ser uma ação concreta.

O desafio de guiar uma evolução contínua que não experimente o caos é uma possibilidade difícil nos dias atuais. No Brasil, somente no primeiro trimestre deste ano, a gasolina subiu cerca de 6,6%, fruto de uma política de aumento da Petrobrás.  O valor médio em postos subiu de R$2,77 para R$ 2,87, de acordo com levantamento realizado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) em abril em cerca de 8,6 mil postos de todo o país. Sergipe foi o segundo estado do Brasil com maior aumento, com cerca de 6,44%.

A alta nas tarifas de táxi e ônibus segue a mesma tendência. Em Aracaju, a Câmara de Vereadores aprovou neste mês por 15 votos a 7, a nova tarifa de passagem de ônibus. O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Setransp), havia solicitado um reajuste de 11% para o transporte público, elevando o valor da passagem de R$ 2,25 para R$ 2,52. Após uma série de manifestações populares e um amplo embate midiático, o valor fixado pela prefeitura foi de R$2,45. Aracaju possui a segunda tarifa mais cara entre as capitais do Nordeste, atrás apenas de Salvador (R$2,80). O Sindicato de Taxistas, por sua vez, também pleiteia uma nova tarifa, com aumento de 10%. O último aumento aconteceu ano passado, definindo o valor de R$ 3,90. Esta proposta ainda está sendo analisada pela Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT) e a Prefeitura de Aracaju.

O deslocamento virou problema cotidiano, e enquanto o complexo esquema da mobilidade não se repensa por completo, um número cada vez maior de alternativas, que nem sempre podem ser consideradas soluções definitivas, crescem. Nesse contexto diverso, uma constante: as pessoas estão indo de quê?

Bicicleta, o meio verde
Ciclistas em Aracaju                                                                                  (Imagem: Reprodução)
Símbolo do transporte sustentável, a bicicleta há muito deixou de ser apenas instrumento de esporte. Seguindo uma tendência mundial, ela vem sendo incorporada às funções cotidianas do cidadão, como ir ao trabalho ou pegar os filhos na escola. “O ciclismo é barato, não polui e não traz prejuízos para as esferas pública e privada. Até ajuda o Sistema Público de Saúde, por que a partir do momento em que você anda de bicicleta, já faz um exercício”, enxerga Elisângela Valença, assessora de comunicação da ONG Ciclo Urbano, uma das comunidades de ciclistas mais atuantes em Sergipe.

Elisângela ainda considera a bicicleta uma solução concreta e eficaz para o transporte no futuro. “As pessoas tem que deixar de serem escravas do carro e passarem a fazer um uso inteligente dele, pensar em alternativas”, defende. Além de enfrentar desafios como a má conservação das vias e a ausência de incentivo por parte do governo e outras instituições, o ciclismo como meio de transporte também encontra resistência nos próprios usuários.

É esse o caso de Osmar Souza, professor. "Gosto da bicicleta, mas não acho que seja uma das melhores opções para trabalhar, por exemplo. O calor torna difícil, você sua muito de um lugar para o outro. Também fica muito exposto ao sol e pode desenvolver doenças, como o câncer de pele. E ainda há o perigo do trânsito, que não respeita o ciclista”, diz.

Lotação, o meio termo
Lotações em Aracaju                                                                                                                              (Imagem: Reprodução) 
Entre as nem sempre acessíveis tarifas de táxi e o escasso conforto do transporte público, as lotações tornaram-se umas das opções mais democráticas em termos de locomoção. São táxis legalizados pela Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT), que realizam roteiros definidos por um valor fixo e pré-determinado, na maioria das vezes abaixo da tarifa comum.

Em Aracaju, cada passageiro em uma lotação – que leva a quantidade máxima permitida pelo espaço do veículo – paga entre R$2,25 e R$3,00, quase o mesmo valor do passe no transporte público, que custa R$2,25. Entre as principais características ressaltadas pelo usuário, estão a segurança e a comodidade. “De ônibus, em pé e cansada, eu chego em casa um bagaço. Faltam ônibus confortáveis, são uma negação. De lotação eu chego mais rápido”, afirma Maria Heloísa, dona de casa. Motorista de lotação há dez anos, José Osmário completa. “Prestamos um serviço de maior qualidade e conforto, muitas vezes com carros até novos. Também possuímos cooperativa e somos organizados, tentamos melhorar sempre”, fala.

Encarada como uma boa opção por alguns, a lotação provoca discussão em relação a outros aspectos. Enquanto um ônibus comum leva de 50 a 60 passageiros por destino, uma única lotação leva 4, a depender do modelo do veículo. Se o número de usuários de lotação aumenta, cresce também a demanda de carros, fator que influi diretamente sobre o já saturado e complicado fluxo do trânsito na capital. Isso se desdobra ainda num terceiro aspecto, a poluição.


Mototáxi: a caminho da lei
Motos em Aracaju                                                                                                                           (Imagem: Reprodução)
Mais rápido que a bicicleta e mais prático que as lotações, o mototáxi une importantes elementos dos concorrentes anteriores: a rapidez das duas rodas, a prestação de serviço domiciliar e uma tarifa acessível à maioria. Em Aracaju, o valor do serviço fica entre R$4 e R$10 reais e atende horário e local flexíveis. “É uma opção para o cliente. Temos rapidez, agilidade, economia e muito mais”, diz Fábio Marques, mototaxista.

Apesar de se configurar como uma boa possibilidade para o consumidor, o mototáxi em Aracaju ainda não é legalizado. A legislação em vigor só permite, de fato, o motoboy, o que não impede a população de utilizar clandestinamente o meio para se locomover. É o que faz Thamires Oliveira, estudante. “Você chega rápido aos lugares, e paga menos que em um táxi, evitando também o desconforto dos ônibus. A questão da moto é a praticidade”, argumenta.
As novas determinações para condutores                                                                                                        (Ilustração)
Embora com um grande número de usuários como Thamires, o caminho da legalização do mototáxi permanece distante. O serviço de transporte privado de pessoas em motocicletas continua ilícito e passa por uma rigorosa fiscalização.  Em 2013, por exemplo, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) previu que condutores façam cursos obrigatórios de capacitação, com duração de 30 horas, e utilizem equipamentos de segurança, como colete com faixas reflexivas, antena corta-pipa e protetor de pernas. O motorista que infringe a lei pode ser multado em até R$ 127,69, pode ter o veículo apreendido e perder cinco pontos na carteira de habilitação.



Texto: Ruhan Victor Oliveira
Edição: Camila Ramos

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